Londres – Listado em 152º entre 180 nações no índice global de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, o Paquistão está batendo um triste recorde: como a morte de quatro jornalistas em maio, tornou-se a nação do Sul da Ásia com mais mortes de profissionais de imprensa em apenas um mês desde 1992, quando o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) começou a recolher dados de fatalidades. 

Em 21 de maio, Nasrullah Gadani, repórter do jornal local de língua sindi Awami Awaz, foi baleado no distrito de Ghotki, na província de Sindh. Ele sofreu ferimentos no abdômen e morreu em um hospital de Karachi três dias depois. 

No mesmo dia, Kamran Dawar, um jornalista baseado no distrito do Waziristão do Norte, na província de Khyber Pakhtunkhwa, foi morto por agressores não identificados em frente à sua casa em Tappi, de acordo com relatos da mídia local.

Outras mortes em maio no Paquistão

No início de maio, os jornalistas Ashfaq Ahmad Sial e Muhmmad Siddique Mengal foram mortos em ataques separados nas províncias paquistanesas de Punjab e Baluchistão – o segundo no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. 

O CPJ diz que ainda não conseguiu confirmar se as mortes estavam relacionadas com o trabalho. No entanto, a mídia local aponta para reportagens que poderiam ter motivado os ataques. 

Outros atentados não resultaram em mortes, mas demonstram a gravidade da situação de liberdade de imprensa no Paquistão.

Em 22 de maio, Syed Iqrar ul Hassan, um importante âncora de TV do canal ARY News, e os três membros da equipe de reportagem que o acompanhava foram atacados por um grupo de pessoas na cidade de Gujranwala, na província de Punjab.

Hassan e sua equipe sofreram ferimentos leves, de acordo com a Pakistan Press Foundation. 

“As autoridades paquistanesas devem investigar imediatamente os assassinatos brutais dos jornalistas Nasrullah Gadani e Kamran Dawar, assim como outras mortes e ataques, e tornar públicas as conclusões rapidamente”, disse o coordenador do CPJ, para a Ásia, Beh Lih Yi.

“O primeiro-ministro Shehbaz Sharif deve tomar medidas para acabar com o aumento alarmante dos assassinatos e garantir a proteção dos profissionais de imprensa, tanto em nível nacional como local.”

Suspeitos de ataque a Gadani foram presos 

O jornal News International informou que a polícia de Sindh prendeu pelo menos três suspeitos de ligação com o assassinato de Nasrullah Gadani.

O jornalista, que divulgava notícias através das redes sociais, era conhecido pelas suas ousadas investigações sobre oligarcas locais, personalidades políticas, proprietários de terras influentes e funcionários do governo, segundo o jornal independente Dawn.

Em um vídeo que se tornou viral nas redes sociais, Gadani foi visto andando de moto ao lado de um comboio da polícia escoltando um proprietário. 

Falando na língua sindi, ele relatou que um proprietário de terra estava sendo conduzido pela polícia. Alguns seguidores do jornalista acreditam que o vídeo pode ter sido o motivo do ataque, segundo a organização sem fins lucrativos Freedom Network , mas a polícia não deu uma causa oficial.

Jornalista que mantinha canal no Facebook entre os mortos

Kamran Dawar, um jornalista freelancer que também dirigia a popular Waziristan TV no Facebook, com 148 mil seguidores, cobria questões sociais no seu canal digital.

De acordo com a News Intervention, Dawar expressava regularmente as suas críticas aos militares paquistaneses nas redes sociais. As identidades dos agressores e o motivo da morte de Dawar permanecem desconhecidos.

No caso de Syed Iqrar ul Hassan, os agressores o agrediram e aos membros da sua equipe com pedras e paus, atiraram ácido no veículo e quebraram os vidros dos seus carros quando ele, o produtor, o assistente de produção e o operador de câmara chegaram à universidade em Gujranwala, onde iram assistir a uma reunião, segundo informou o jornalista ao CPJ. 

Hassan é uma âncora conhecido, com 7,1 milhões de seguidores no X, antigo Twitter, e 1,35 milhão de seguidores no YouTube. Ele já havia sobrevivido a um ataque em 2020, sofrendo ferimentos leves.

Os agressores que o abordaram desta vez entoavam slogans em apoio a um homem local que se descreve como um curandeiro espiritual e sobre o qual Hassan falou em seus programas de TV, disse o jornalista.

Num primeiro relatório policial de 24 de maio, o motorista de Hassan acusou o homem de incitar a violência da multidão contra Hassan. 

Há pouco mais de dois meses, em 8 de março, homens armados desconhecidos atacaram a casa de Hassan em Lahore, mas ninguém ficou ferido no incidente, segundo a Aaj TV .

Desde 1992, 64 jornalistas foram mortos em conexão com o seu trabalho no Paquistão, de acordo com os registros do Comitê de Proteção a Jornalistas. 

O país ficou em 11º lugar no Índice de Impunidade Global de 2023 do CPJ , que classifica os países de acordo com a frequência com que os assassinos de jornalistas ficam impunes. O Paquistão tem aparecido no índice todos os anos desde o início do levantamento.