Londres – Em uma corajosa entrevista coletiva para meios de comunicação internacionais, a Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA) denunciou o agravamento das perseguições a profissionais de imprensa por parte do governo controlado pela China nos últimos três meses, em uma operação considerada sem precedentes .

No encontro realizado na sexta-feira (13) e em um comunicado, a HKJA revelou que jornalistas de 13 veículos de mídia locais e internacionais, incluindo os sites InmediaHK, HK Feature, Hong Kong Free Press e duas instituições de imprensa de ensino de jornalismo foram submetidos a “ataques sistemáticos e organizados” desde junho deste ano. 

As perseguições não são apenas contra os jornalistas, estendendo-se a familiares e pessoas próximas a eles, e “não podem ser toleradas”, disse a presidente de HKJA, Selina Cheng. 

Perseguições inéditas na história recente de Hong Kong 

Ela afirma ter sido a maior onda de assédio a profissionais de imprensa em Hong Kong até hoje, tornando ainda pior uma situação que vem se deteriorando desde os protestos pró-democracia que tomaram conta do território em 2019 e desencadearam forte repressão por parte do governo local comandado pela China. 

De acordo com a HKJA, de junho a agosto deste ano pelo menos 15 jornalistas, seus parentes e empregadores de seus familiares, bem como vizinhos, amigos e locadores de seus imóveis foram assediados e intimidados tanto online quanto offline por pessoas que se apresentam como “patriotas”. 

Os ataques incluem trollagem e intimidação nas mídias sociais, envio de e-mails e cartas para residências, locais de trabalho e organizações profissionais e sociais de jornalistas e de seus parentes. 

De acordo com a HKJA, “muitas das cartas e e-mails ameaçavam os destinatários de que, se continuassem a se relacionar com jornalistas relevantes ou seus familiares, poderiam estar colocando em risco a segurança nacional ou violando a Portaria de Salvaguarda da Segurança Nacional”.

Outros jornalistas foram pressionados ou ameaçados a desistir de suas posições profissionais ou sindicais, disse a organização, que informou ter resultados da Meta e da Wikimedia Foundation – as duas principais plataformas online usadas para a campanha de assédio – confirmando os ataques. 

Wikipédia removeu usuário envolvido em perseguições

A Wikimedia confirmou que um usuário da Wikipédia que postou informações pessoais de repórteres usando várias contas foi banido. 

A HKJA também descobriu pelo menos quatro casos em que assediadores usaram o Facebook e a Wikipedia para incitar atos de violência, incluindo ameaças de morte acompanhadas de de fotos de jornalistas e de membros do Comitê Executivo da HKJA com facas, sangue, alvos de tiro e placas de “memorial” ao lado deles.

Os nomes dos profissionais atacados não foram revelados para preservar a segurança. 

“Condenamos veementemente esta campanha de assédio liderada contra os meios de comunicação independentes que conseguiram sobreviver às ondas anteriores de repressão governamental. Instamos a comunidade internacional a intensificar sua pressão sobre o regime chinês para que a liberdade de imprensa seja totalmente restaurada no território”, disse Cédric Alviani, Diretor da Repórteres Sem Fronteiras para a região Ásia-Pacífico.

Deterioração da liberdade de imprensa em Hong Kong

Desde a adoção pelo regime chinês de uma nova Lei de Segurança Nacional, em junho de 2020, o governo de Hong Kong vem liderando uma campanha sem precedentes contra o direito à informação, diz a organização.

Pelo menos 28 jornalistas e defensores da liberdade de imprensa foram processados, 10 dos quais estão atualmente detidos, incluindo o ganhador do Prêmio de Liberdade de Imprensa da RSF de 2020, Jimmy Lai.

Em 29 de agosto de 2024 , dois ex-editores-chefes do extinto site de notícias Stand News foram considerados culpados de publicar “publicações sediciosas”, no primeiro caso de sedição envolvendo mídia na história moderna de Hong Kong.

As autoridades também fecharam à força dois grandes veículos de mídia independentes, Apple Daily e Stand News, enquanto o clima de medo levou pelo menos uma dúzia de veículos de mídia menores a cessar as operações, aponta a RSF. 

Pelo menos 900 jornalistas perderam seus empregos devido ao fechamento dos veículos de mídia independentes e centenas de profissionais de mídia não tiveram outra escolha a não ser o exílio. 

Hong Kong está classificada em 135º no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2024 da RSF, tendo despencado do 18º lugar em apenas duas décadas.

A China está classificada em 172º entre os 180 países e territórios pesquisados.