Um novo estudo feito nos EUA aponta que embora as mudanças provocadas pela crise climática impactem a saúde das pessoas, esse risco não está sendo suficientemente refletido na imprensa e nas redes sociais.
Uma análise de dados do Information Futures Lab (IFL), da Universidade Brown, nos Estados Unidos, revela que em média, apenas 3,1% do conteúdo online aponta impactos à saúde como consequências diretas do aquecimento global.
Como resultado, tanto manchetes ou publicações nas redes sociais deixam de engajar o público diretamente com o tema — o que pode ser crucial para formar cidadãos mais engajados com a causa ambiental motivados pela preocupação com a saúde ou que apoiem políticas públicas mais rigorosas.
Noticiário da crise não cria engajamento com questão climática
Pesquisadores do Centro de Saúde Pública da Universidade Brown, em parceria com a Climate Week NYC e com a Fundação Rockefeller analisaram 2,4 milhões de publicações em inglês ligadas à pauta climática de janeiro de 2023 até julho de 2024.
Intitulado “O Potencial Inexplorado da Comunicação Climática: Envolvendo a Saúde para Impulsionar Mudanças” (tradução livre), o estudo avaliou as técnicas de comunicação empregadas em conteúdos no Facebook, YouTube, TikTok, Instagram, Twitter/X, bem como nos títulos de notícias da imprensa sobre o tema.
“A escala dessa descoberta é impressionante: 96,9% das manchetes e publicações nas redes sociais que mencionam crise climática sequer tocam na questão da saúde”, destaca Stefanie Friedhoff, co-fundadora do Information Futures Lab.
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A pesquisadora afirma que este cenário representa a perda de uma grande oportunidade de envolver pessoas em conversas sobre soluções climáticas — independente do espectro político ou do grau de preocupação com o aquecimento global.
Dentre a média dos 3,1% dos conteúdos que conectam os dois assuntos, as notícias da imprensa ainda somavam a maior parte (4,9%), seguidas por postagens no Instagram (3,9%) e no Facebook (3,7%).
Para Adam Lake, líder de comunicações do Climate Group, o resultado é um ponto falho nas estratégias atuais de lidar com a cobertura climática.
“Em uma época que é necessário reunir ações públicas e políticas que possam minimizar os danos do aquecimento global nas pessoas e no planeta, esse estudo reforça a necessidade urgente de mudar como nós devemos comunicar as mudanças climáticas.”
Cobertura da crise precisa ir além da tragédia
O estudo da Universidade Brown também aponta que parte da dificuldade de mudar esse cenário está na forma em que os algoritmos das redes sociais operam, promovendo conteúdo sobre os efeitos da crise climática na saúde sob um ângulo de catastrofismo.
Ao analisar as 100 maiores publicações em cada uma das plataformas, a pesquisa encontrou que 58% dos conteúdos mais populares são do jeito que as plataformas gostam — consequências negativas, sem recomendações ou soluções.
Para Rory Smith, co-autor e gerente da pesquisa, isso cria uma dinâmica desafiadora, na qual as redes sociais priorizam e recompensam conteúdos negativos enquanto poderiam encorajar um jornalismo de soluções — que é mais efetivo em provocar estas transformações:
“Enquanto é vital que reconheçamos os desafios que enfrentamos, devemos pelo menos colocar estes problemas lado a lado com soluções claras, práticas e que possam motivar mudanças significativas.”
Os pesquisadores constataram ainda que 11% das postagens mais populares nas redes sociais eram “antagônicas” à pauta climática — negacionistas, revisionistas ou reducionistas em relação aos impactos reais.
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O estudo recomenda as seguintes mensagens a jornalistas e comunicadores da área da saúde:
- Sejam específicos nas ameaças à saúde causadas ou exacerbadas pela mudança climática;
- Contem histórias pessoais de pessoas impactadas ou trabalhando nas soluções, e conectem estas soluções em benefícios à saúde;
- Vão além da mensagem negativa e ao invés disso ofereça soluções práticas e encorajamento para mantê-las;
- Para alcançar audiências mais conservadoras, apliquem recortes e coberturas igualmente mais conservadoras.
O estudo completo (em inglês) pode ser acessado aqui.
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