Londres – Na sequência do furacão Helene, que passou pelos EUA em setembro, e das chuvas torrenciais de outubro em Valencia, na Espanha, que juntos custaram a vida de mais de 400 pessoas e deixaram prejuízos astronômicos, a COP29 realizada pela ONU no Azerbaijão tem um objetivo ambicioso: aumentar o financiamento para ajudar países pobres e vulneráveis a eliminarem gradualmente os combustíveis fósseis e aumentarem a resiliência às mudanças climáticas.
Nem Espanha nem EUA são países pobres, o que torna ainda mais relevante o tema da conferência. As mudanças climáticas estão atingindo a todos, ricos e pobres, em todo o mundo, embora alguns não tenham se dado conta disso ou sejam vítimas da desinformação climática e não acreditem que a severidade a frequência de eventos extremos esteja associada à ação humana, como assegura a ciência.
Além de ser um fórum para a busca de acordos entre países que permitam mitigar os efeitos do aquecimento global e trabalhar para evitar que a temperatura do planeta continue subindo, a COP representa uma oportunidade para colocar o clima na pauta da imprensa global e chamar a atenção da sociedade para questões que não estão batendo à porta de todos – pelo menos por enquanto.
A Covering Climate Now, coalizão de jornalismo ambiental que reúne mais de 500 veículos de imprensa no mundo, vem há vários meses realizando seminários e publicando guias para ajudar os jornalistas e criadores de conteúdo a entenderem a COP e interpretarem o que acontece nos ambientes refrigerados da ex-república soviética que sedia a conferência – contraditoriamente um país cuja economia é baseada na produção de petróleo.
Para a CCNow, a COP29 pode ser a pauta climática mais importante deste ano – ao lado da eleição de Donald Trump para um segundo mandato como presidente dos EUA.
“Para uma pessoa na Carolina do Norte, ou em Joanesburgo, ou Tóquio ou em São Paulo, essas negociações podem parecer distantes e abstratas.
Mas o que os governos reunidos em Baku entre 11 a 22 de novembro decidirem – ou não decidirem – terá implicações enormes e duradouras para a vida diária das pessoas em todo o mundo, especialmente os jovens.”
Negociações na COP29: responsabilizar governos pelo financiamento e pela redução das emissões
A Covering Climate Now salienta que a missão dos jornalistas é fornecer ao público uma cobertura clara das negociações da COP29 e responsabilizar os governos por corresponderem ao que a ciência diz ser necessário e as COPs anteriores concordaram em fazer: eliminar rapidamente os combustíveis fósseis para cortar as emissões globais pela metade até a década de 2030 e aumentar maciçamente a ajuda aos países pobres e altamente vulneráveis ao clima.
Mas será que o for discutido e decido em Baku vai mudar a história, já que isso não aconteceu nas COPs anteriores da ONU?
A CCNow admite ser compreensível que essa questão seja levantada em praticamente todas as COPs.
“Os céticos apontam que, apesar de 28 anos de COPs anteriores, a concentração de gases que retêm calor na atmosfera continua a aumentar, manifestando-se em impactos cada vez mais destrutivos.”
Mas vê a metade cheia do copo:
“Por outro lado, as COPs levaram a conquistas significativas. Por exemplo, antes do Acordo de Paris, o mundo estava a caminho de um aumento de temperatura de aproximadamente 4ºC até 2100.
Agora, a trajetória é de um aumento de 2,7ºC — ainda muito, mas uma melhoria inegável em relação a um aumento de 4ºC.”
Para reforçar a importância da cúpula e defender que os acontecimentos em Baku tenham destaque na imprensa, a CCNow citou Saleem ul Huq, um porta-voz-chave para nações pobres e vulneráveis em todas as COPs, que morreu em 2023.
Ele costumava dizer que as COPs são o único fórum internacional onde países pobres e altamente vulneráveis ao clima têm voz nas decisões que moldarão seus futuros.
“Isso por si só torna as COPs valiosas — e dignas de serem notícias”, afirma a Covering Climate Now.
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