Londres – Visivelmente cansada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, encarou jornalistas brasileiros e estrangeiros em uma entrevista coletiva na noite seguinte à data marcada para o fim da COP29, a conferência de mudanças climáticas da ONU realizada no Azerbaijão. 

E não escondeu a decepção com o drama em que a cúpula Azerbaijão se transformou no final, com a sessão plenária de encerramento acontecendo na madrugada de domingo (24). 

“Experiência dolorosa a que estamos vivendo aqui”, disse Marina aos jornalistas.

A ministra, uma das personalidades brasileiras mais respeitadas no mundo, será protagonista na COP30, em Belém.

Pouco antes da conversa com jornalistas, ela havia recebido oficialmente do Azerbaijão a presidência da Conferência das Partes de 2025 em nome do Brasil.

Marina Silva e a metáfora das mulheres fiandeiras na COP29

No discurso na plenária da COP29 e na coletiva, Marina Silva usou uma metáfora das mulheres indígenas que se unem para fiar em uma roda de conversa, “transformando algodão em matéria-prima que aquece e protege a vida”.

Fazer da COP30, no território tão simbólico da Amazônia, o momento para restaurar tudo aquilo que parece que estamos perdendo a cada situação extrema é um dos maiores desafios que temos pela frente.

Que ela seja um convite para nos dispormos a confiar, a fiar juntos, como as mulheres fiandeiras indígenas na floresta, que fazem da conversa, do entendimento e do apoio mútuo a força para suas vidas.”

A julgar pelos embates no Azerbaijão, não vai ser tão simples, sobretudo com as “mudanças geopolíticas” mencionadas por Ana Toni, secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio de Ambiente, que estava ao lado da ministra na coletiva.

Toni, Marina e o diplomata André Corrêa do Lago formaram a trinca que representou o Brasil em Baku depois que o vice-presidente Geraldo Alckmin retornou a Brasília.

Respondendo a uma pergunta sobre como todos poderão fiar juntos na COP30 tendo Donald Trump como o “elefante na sala”, a ministra respondeu sem mencionar o nome do presidente eleito dos EUA. 

Clamou pela responsabilidade do governante do país que é o segundo maior emissor do mundo, o que tem mais recursos financeiros e onde cidadãos estão morrendo por efeito das mudanças climáticas. Mas afirmou: 

“Se alguém sai da roda, os demais não deixam de tecer”.

Será uma roda difícil, e na COP29 o Brasil demonstrou assertividade.

Quando o presidente da Argentina, Javier Milei, mandou sua delegação voltar para casa no segundo dia da cúpula, Marina e o vice-presidente Geraldo Alckmin chamaram o chefe de Estado vizinho de “negacionista”.

Ela também criticou abertamente o presidente da conferência, Mukhtar Babayev.

Apesar dos obstáculos em Baku, a ministra do Meio Ambiente está confiante. Na abertura do pavilhão brasileiro, ela disse queBelém será “a COP das COPs”.

“Uma COP da implementação dos resultados, que não são apenas do Brasil. É preciso que o mundo inteiro tenha NDCs igualmente ambiciosas. Que a gente faça o mapa do caminho para a transição, para o fim do uso de combustíveis fósseis, para o fim do desmatamento”.

The Times destaca união entre Brasil e Reino Unido em Baku

Em uma análise da conferência, o jornal The Times apontou como um dos desdobramentos mais importantes a aproximação entre o Reino Unido e o Brasil em Baku.

“Os dois países demonstraram liderança ao anunciar metas de emissões para 2035, provocando uma corrida dos demais”, avaliou o jornal.

O jornal afirmou que Ed Miliband, Secretário de Energia, e Marina Silva são veteranos em cúpulas de clima, salientando a crescente amizade. E cravou que Belém deve ser uma COP “blockbuster”, a exemplo de Glasgow.


Este artigo faz parte da edição especial MediaTalks COP29. Leia aqui a revista completa.