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Análise | Delegação brasileira em Baku conseguiu ‘reduzir danos’ para a COP de Belém, diz observador

Marina Silva na COP29 (Foto: divulgação UN Climate Change)

Londres – O Brasil não se alinhou aos países que rejeitaram o texto do acordo firmado na COP29, nem tornou públicas restrições ao documento final de forma tão visível como fez a Índia, mas isso não significa que a participação do país em Baku tenha sido pouco efetiva, ao contrário.

Essa é a opinião de um observador de alto nível que acompanhou o encontro do Azerbaijão, e que esteve nas últimas cúpulas de mudanças climáticas da ONU. 

Ao MediaTalks, ele apontou que o Brasil, como próximo país na presidência da COP, estava em uma posição delicada, sob o olhar atento dos demais países e com a missão de evitar um colapso nas negociações.

Esse colapso impactaria negativamente a cúpula de 2025 em Belém.

“Se as coisas aqui [em Baku] afundassem, iríamos automaticamente pegar esse problema na COP30.”

Diante dos impasses, na opinião desse observador, o Brasil adotou corretamente uma postura conciliadora, buscando acordos e evitando posições extremadas.

“Isso levou o país a apoiar um acordo considerado ruim pelas ONGs, mas dessa forma evitou um resultado pior. O país ganhou uma agenda a mais para a presidência no ano que vem, mas conseguiu reduzir danos.”

Marina Silva liderou participação do Brasil na COP29

Marina Silva, em particular, teve uma atuação assertiva, sem ser excessivamente conciliadora, na visão desse observador, que disse ter visto uma coisa rara na conduta da ministra do Meio Ambiente: falar mal dos outros.

“Ela criticou a presidência da COP pelo Azerbaijão naquele jeito dela, em ‘marinês’.Talvez nem todos tenham entendido, mas ela deu belas alfinetadas na incompetência.”

Comparando as participações do Brasil neste ano e no ano passado, o observador considerou positivo não ter tido uma entourage de ministros junto com o presidente Lula como em Dubai, com declarações polêmicas que acabaram repercutindo negativamente.

Ele elogiou o profissionalismo da delegação liderada por Marina Silva, tendo ao lado Ana Toni, Secretária de Mudança do Clima, que já presidiu o Conselho de Administração do Greenpeace, e o diplomata André Corrêa do Lago, Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente.

“O Brasil foi muito construtivo, tentando destravar tudo, não se posicionando muito fortemente. Vimos o país falar muito pouco na sala de negociação, evidentemente uma estratégia.

Mas nos bastidores tentou costurar as posições e impedir o colapso das conversas.”

O veredito foi positivo:

“De forma geral o Brasil foi bem. E Marina foi muito bem também”

Batalhas dentro e fora dos salões refrigerados

Depois de três cúpulas do clima da ONU realizadas em países reconhecidos pelas restrições à liberdade de expressão e ao direito de livre manifestação – Egito, Emirados Árabes Unidos e Azerbaijão – a COP30, em Belém, promete ser mais parecida com a de Glasgow, que viu mais de 1 milhão de pessoas tomando conta de suas ruas, lideradas pela ativista Greta Thunberg.

As manifestações não devem ficar restritas à capital paraense, devendo acontecer nas principais cidades brasileiras. Isso aconteceu no Reino Unido, quando Glasgow sediou a cúpula.

E a imprensa não esperará as portas se abrirem para começar a falar da COP30, assim como ativistas, cidadãos e organizações.

Para os outros países, COP de novo só daqui a um ano. Mas para o Brasil, ela já começou.


Este artigo faz parte da edição especial MediaTalks COP29. Leia aqui a revista completa.

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