O ano mal começou e o New York Times já se envolveu em sua primeira controvérsia de 2025. Uma organização cristã está acusando o jornal de proibir o uso da palavra “genocídio” para se referir aos atos de Israel em Gaza em um anúncio publicitário.

A American Friends Service Committee (AFSC), associação ligada aos protestantes quakers, veio a público comunicar que cancelou um anúncio acertado com o NYT após ser impedida de usar o texto originalmente planejado.

Essa não é a primeira vez que o conflito entre Israel e Gaza causa desconforto no jornal norte-americano. Desde o início da cobertura, jornalistas do veículo têm divergido sobre o enfoque em matérias que parecem martirizar as vítimas israelenses e minimizar as consequências para os palestinos.

NYT cita ‘visões divergentes’ contra anúncio sobre genocídio em Gaza

Em comunicado de imprensa divulgado nesta semana, a AFSC trouxe à tona a rusga com o NYT.

O anúncio apresentado ao jornal dizia:

“Diga ao Congresso para parar de armar o genocídio de Israel em Gaza agora!

Como uma organização quaker, trabalhamos pela paz. Junte-se a nós.

Diga ao Presidente e ao Congresso para parar com a matança e a fome em Gaza.”

Ao receber o texto publicitário, um representante comercial do NYT sugeriu que a associação usasse a palavra “guerra” no lugar de “genocídio” – o que foi recusado pela AFSC.

Joyce Ajlouny, secretária-geral da entidade, condenou a posição do jornal:

“A recusa do The New York Times em publicar anúncios pagos que pedem o fim do genocídio de Israel em Gaza é uma tentativa ultrajante de contornar a verdade.”

Ela acrescenta que palestinos e aliados foram silenciados por décadas na mídia, por isso, é necessário desafiar veículos que mantêm essa postura.

A AFSC ainda aponta que a sugestão de usar “guerra” em vez de “genocídio” para se referir à situação de Gaza no anúncio publicitário muda totalmente o sentido do que está acontecendo na região – tanto na ortografia quanto sob as leis internacionais.

Em resposta, a equipe de anúncios do NYT enviou um e-mail para a associação explicando sua posição:

“Vários órgãos internacionais, organizações de direitos humanos e governos têm visões diferentes sobre a situação.

Em linha com nosso compromisso com a precisão dos fatos e a adesão aos padrões legais, devemos garantir que todo o conteúdo publicitário esteja em conformidade com essas definições amplamente aplicadas.”

Os quakers, no entanto, apontaram que diversas organizações dos direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional, Human Rights Watch e órgãos da ONU, já afirmam que Israel está cometendo genocídio ou atos genocidas em Gaza.

“O New York Times regularmente usa várias dessas organizações como fontes para suas próprias reportagens”, acrescentou a associação cristã.

“Sugerir que o New York Times não poderia publicar um anúncio contra o genocídio de Israel em Gaza porque há ‘visões divergentes’ é absurdo”, diz Layne Mullett, diretor de Relações com a Mídia da AFSC.

“O New York Times anuncia uma grande variedade de produtos e mensagens sobre nas quais há visões divergentes.

Por que não é aceitável divulgar as atrocidades meticulosamente documentadas cometidas por Israel e pagas pelos Estados Unidos?”

NYT se posiciona contra anúncios “enganosos ou imprecisos”

Com a repercussão do caso, o jornal britânico The Guardian questionou o NYT sobre o veto ao anúncio.

O departamento publicitário do veículo dos EUA disse que trabalha para garantir que os anúncios “estejam em conformidade com nossas diretrizes de aceitabilidade”.

“Este caso não foi diferente e está inteiramente em linha com os padrões que aplicamos a todos os envios de anúncios.”

O Guardian destaca, no entanto, que o NYT já usou o termo “genocídio” em outras propagandas – em 2016, sobre o genocídio armênio, e em 2008, sobre o genocídio em Darfur.

Nas diretrizes para a divulgação de anúncios no NYT, o jornal afirma que seu “espaço de publicidade é aberto a todos os pontos de vista” e anúncios estão sujeitos a checagem de fatos.

O jornal ainda se reserva no direito de rejeitar um anúncio que for “considerado enganoso ou impreciso”.