Um novo documentário produzido pela empresa de mídia americana Zeteo traz novas informações sobre a morte da jornalista palestina Shireen Abu Akleh por soldados de Israel há três anos, ocorrida em 11 de maio de 2022. 

A repórter da Al Jazeera, uma das personalidades mais conhecidas da TV no Oriente Médio, foi baleada enquanto cobria uma operação das Forças de Defesa de Israel (IDF) em Jenin, na Cisjordânia, ao lado outros jornalistas que testemunharam as cenas dramáticas.

Intitulado “Quem matou Shireen?”, o documentário afirma ter identificado o soldado israelense responsável pelo disparo: Alon Scagio, que teria sido transferido após o caso e morreu dois anos depois, também em Jenin, vítima de um explosão. 

O documentário sobre a morte da jornalista palestina por Israel 

A A Zeteo é uma empresa de mídia independente fundada por Mehdi Hasan, jornalista conhecido por suas entrevistas incisivas e análises políticas.

O documentário de 40 minutos, filmado em Jenin, Washington e Jerusalém, será exibido apenas na plataforma Zeteo, para assinantes. Mas quem não é assinante pode assistir uma prévia de 8 minutos. 

Dois soldados israelenses apontaram Alon Scagio como autor do disparo. 

O trailer mostra cenas contundentes, como o depoimento de um deles afirmando que o soldado provavelmente viu que a jornalista estava usando o colete de imprensa antes de atirar. 

O soldado disse que o conhecia pessoalmente, e que ele não comemorou o fato de ter atirado na jornalista, mas também não aparentava um grande arrependimento. 

O documentário foi conduzido por três jornalistas experientes em zonas de conflito: Dion Nissenbaum, ex-correspondente do Wall Street Journal e duas vezes finalista do Prêmio Pulitzer; Fatima AbdulKarim, repórter do New York Times baseada na Cisjordânia e amiga pessoal de Shireen Abu Akleh; e Conor Powell, produtor multimídia e ex-repórter de TV com mais de uma década cobrindo guerras no Oriente Médio.

Quem era Shireen Abu Akleh e por que sua morte chocou o jornalismo internacional

Shireen era uma das vozes mais respeitadas da Al Jazeera, rede árabe de propriedade do governo do Catar.  Depois da guerra em Gaza, a emissora foi proibida de operar em Israel, e nos territórios ocupados mas as tensões já existiam antes. 

A jornalista vestia colete e capacete com a palavra “PRESS” visível no momento em que foi atingida, segundo imagens verificadas por investigações independentes, como a da CNN.

Ainda assim, o Exército israelense alegou em 2022 que havia uma “alta possibilidade” de que ela tivesse sido morta por engano, e se recusou a abrir uma investigação criminal sobre o caso.

Diversas investigações independentes apontaram a responsabilidade de soldados israelenses na morte, apontando conclusões diferentes.

Mas a identificação do soldado que atirou nunca havia sido feita até o documentário da Zeteo. 

CPJ denuncia impunidade no caso documentado da jornalista palestina

Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), o documentário sobre a morte da jornalista palestina por Israel expõe falhas graves nas investigações conduzidas por autoridades dos Estados Unidos e do Tribunal Penal Internacional (TPI).

A CEO do CPJ, Jodie Ginsberg, declarou:

“A responsabilidade criminal em toda a cadeia de comando é o único caminho para a justiça. Shireen Abu Akleh era uma cidadã e jornalista americana, e os EUA têm uma clara responsabilidade de investigar seu assassinato de forma completa e rápida, e de punir os perpetradores.”

O CPJ classifica os atrasos na investigação como “inaceitáveis” e lembra que, desde 2001, pelo menos 20 jornalistas foram mortos por soldados israelenses — sem que nenhuma responsabilização judicial tenha ocorrido.

Família critica ausência de justiça no caso da jornalista palestina

No documentário sobre a morte da jornalista palestina por Israel, a sobrinha de Shireen, Lina Abu Akleh, critica a ausência de responsabilização institucional.

Em entrevista ao CPJ, ela afirmou:

“Saber quem apertou o gatilho não basta. A cadeia de comando deve ser responsabilizada — quem ordenou, quem acobertou e quem segue negando os fatos.”

A família também questiona o silêncio do Tribunal Penal Internacional, que até hoje não deu andamento às queixas apresentadas formalmente pela Al Jazeera e por parentes da jornalista.

Produtor ferido na operação está detido por Israel

O documentário também traz à tona a situação de Ali Al Samoudi, produtor de Shireen que estava ao lado dela no momento do disparo e foi ferido nas costas.

De acordo com o CPJ, ele está atualmente detido sob custódia administrativa desde abril de 2025, sem qualquer acusação formal.

A entidade denuncia que ações como essa são parte de um padrão de repressão a jornalistas e testemunhas em áreas de conflito, reforçando o alerta levantado pelo documentário.

Três anos depois, morte de jornalista palestina por Israel continua sem resposta

A produção da Zeteo busca pressionar por responsabilização internacional e expor a continuidade de práticas que colocam a liberdade de imprensa em risco.

O CPJ alerta que, após três anos da morte da jornalista palestina por Israel, ainda não há cronograma para a conclusão das investigações do FBI — iniciadas em 2022 — nem sinais de ação concreta por parte do TPI.

O caso de Shireen Abu Akleh tornou-se símbolo da impunidade enfrentada por jornalistas palestinos. Para entidades como o CPJ, a ausência de justiça não é apenas uma falha diplomática, mas um incentivo à repetição da violência.