Londres – Apenas um em cada dez entrevistados brasileiros ainda se informa por veículos impressos, segundo o novo relatório de mídia digital divulgado nesta terça-feira (17) pelo Reuters Institute, da Universidade de Oxford.

O levantamento mostra também que o Brasil segue acima da média global em confiança na imprensa (42% contra 40% no mundo), acima de países como a França (29%) e os EUA (30%). 

O Digital News Report 2025 destaca uma tendência no comportamento global: influenciadores digitais e plataformas como YouTube e TikTok são agora fontes frequentes de informação, sendo a opção para 65% dos entrevistados.  

O fenômeno da queda dos jornais impressos é mundial. Nos EUA, apenas 7% ainda consomem notícias no papel.

No Brasil, esse declínio é intensificado pela alta conectividade (86%, segundo o estudo anual DataReportal) e pelo tempo médio de uso de redes sociais — 3h 37 min por dia, o terceiro maior do mundo.

No Brasil, 35% dos entrevistados disseram se informar por mídias digitais, taxa superior a de vários outros países com igual ou maior acesso à internet entre a população. 

 

“Em todo o mundo, o envolvimento com fontes de mídia tradicionais, como sites de TV, impressão e notícias, continua a cair, enquanto a dependência de mídias sociais, plataformas de vídeo e agregadores on-line segue crescendo”, afirma Nic Newman, autor principal do trabalho. 

O Brasil está entre os países com alto uso do YouTube para notícias. 

 

Chatbots de IA no centro da transformação digital

O estudo do Instituto Reuters, resultado de pesquisas com 97 mil adultos em 48 países, registrou ainda o avanço dos chatbots de inteligência artificial como fonte de informação.

Entre os jovens, 12% já recorrem a essas ferramentas para se atualizar sobre acontecimentos atuais.

Esse avanço preocupa organizações jornalísticas, já que reduz o tráfego originado por buscas e pode afetar a sustentabilidade financeira dos veículos tradicionais.

A ascensão dos influenciadores digitais na mídia

Mas o Reuters vê com mais preocupação ainda a inclinação do público a se informar por meio de influenciadores e não pela imprensa tradicional, embora o estudo aponte um alto grau de desconfiança nas notícias encontradas em redes sociais. 

Influenciadores e personalidades online são vistos globalmente como a maior ameaça (47%) para a desinformação, juntamente com os políticos nacionais (47%).

Apesar da desconfiança generalizada, muitas pessoas preferem se informar por meio de criadores de conteúdo do que pela imprensa.

Nic Newman alerta para os desafios que os meios tradicionais enfrentam ao competir com vídeos e personalidades nas redes. Para ele, isso impacta diretamente a confiança na imprensa.

“As organizações de mídia enfrentam uma perda de influência, com políticos populistas contornando jornalistas e favorecendo influenciadores simpáticos”. 

Nos Estados Unidos, o podcaster Joe Rogan, apoiador de Donald Trump, foi citado por 22% dos entrevistados como fonte de informação.

No Brasil, o caso do deputado Nikolas Ferreira, que publicou um vídeo com alegações falsas sobre regulamentações fiscais e atingiu mais de 300 milhões de visualizações no Instagram, também é citado como exemplo.

TikTok lidera crescimento entre redes sociais

O TikTok aparece como a rede de crescimento mais rápido em 2025 no novo relatório de mídia digital. 

Ganhou 4 pontos percentuais nos mercados de notícias, alcançando 49% dos usuários online na Tailândia e 40% na Malásia. 

 

A despeito de sua popularidade, a plataforma é vista como uma das principais ameaças em termos de desinformação, ao lado do Facebook, segundo o estudo. 

Confiança nas notícias segue estável

Apesar das transformações, o Digital News Report constatou que a confiança geral nas notícias (40%) permaneceu estável pelo terceiro ano consecutivo, embora ainda esteja quatro pontos abaixo do que no auge da pandemia. 

A Finlândia lidera com 67%, enquanto Grécia e Hungria registram os menores índices (22%).

O Brasil, com 44%, está acima de democracias consolidadas como Estados Unidos (30%), França (29%) e Reino Unido (35%), mercados em que a indústria de mídia é bem estruturada e veículos como CNN, New York Times, Washington Post, The Economist, BBC, Financial Times e Le Monde sempre exerceram influência global. 

 

O fenômeno da evasão de notícias

Mas a confiança e o fácil acesso a informações por meio digital não ajudam a reverter uma outra tendência registrada no relatório: a de evitar as notícias. 

Quatro em cada dez pessoas afirmam que às vezes ou frequentemente evitam notícias, um crescimento em relação aos 29% registrados em 2017. É o maior índice já apurado pelo relatório.

No Brasil o percentual é de 46%. 

Entre os motivos estão o impacto negativo no humor (39%), a exaustão com o volume de conteúdo (31%) e o excesso de notícias sobre guerras (30%) ou política (29%).

Desinformação e receio com IA no novo relatório de mídia digital

A preocupação com notícias falsas é destaque no novo relatório de mídia digital: 58% dos entrevistados relatam dificuldades em distinguir o que é verdadeiro ou falso na internet.

Essa preocupação é maior em regiões onde o uso de mídias sociais é elevado, como na África (73%) e nos Estados Unidos (73%), e menor na Europa Ocidental (46%). No Brasil é de 67%. 

 

O Reuters afirma que o público permanece cético em relação às notícias encontradas tanto em plataformas sociais quanto em plataformas de inteligência artificial (IA), em parte devido a preocupações sobre o acesso a conteúdo confiável.

Os influenciadores online e os políticos são vistos como as maiores ameaças.

A maioria dos entrevistados também teme que a IA torne a produção de notícias mais barata, mas menos precisas e menos confiáveis.