• O que aconteceu: CEO do X (antigo Twitter), Linda Yaccarino pede demissão após dois anos no cargo.
  • Gestão foi marcada por tensão com Elon Musk, queda na receita publicitária e crises relacionadas às políticas de moderação afrouxadas. 

A saída de Linda Yaccarino do comando do X (ex-Twitter) encerra uma gestão turbulenta iniciada após a compra da rede social por Elon Musk. A executiva foi nomeada para recuperar a confiança de anunciantes e conter as crises de reputação, mas enfrentou desafios crescentes com a política de moderação e a interferência direta do dono da plataforma.

Crises de imagem e conflitos com a IA de Musk

Depois de dois anos, o X volta a ficar sem um executivo comandando as operações abaixo de Elon Musk em um momento crítico para o bilionário que rompeu de forma explosiva com Donald Trump e enfrenta queda de vendas dos veículos Tesla.

A marca de carros elétricos passou a ser boicotada em todo o mundo devido à associação de Musk com o presidente dos EUA e seu trabalho como líder de uma área destinada a reduzir burocracia governamental, resultando em cortes de benefícios, serviços e até a ajuda internacional americana a outros países. 

Linda Yaccarino, que pediu demissão do cargo de CEO nesta quarta-feira (9), assumiu o cargo em maio 2023 com a missão de recuperar a confiança de anunciantes e transformar a plataforma em um superapp.

Um desafio gigante depois que Musk, que comprou a rede social em 2022 por US$ 44 bilhões e transformou completamente seu perfil a ponto de abandonar o nome e a marca do pássaro azul. O Twitter virou alvo de críticas e boicotes de celebridades, organizações e anunciantes, e perdeu valor de mercado

A última edição do relatório Digital News do Instituto Reuters mostra que a plataforma que tem em seu dono um dos principais influenciadores – conta com mais de 220 milhões de seguidores – aponta que o X sob Musk inclinou-se para a direita.

Isso foi consequência de ele ter dado espaço para figuras controvertidas com o teórico da conspiração Alan Jones  e relaxado na moderação, permitindo circulação mais livre de teorias conspiratórias e discurso de ódio. 

Quem é Yaccarino e o que ela tentou fazer como CEO do X

Yaccarino chegou ao então Twitter após uma carreira de destaque como executiva de publicidade na NBCUniversal.

Sua nomeação foi vista como uma tentativa estratégica de Musk para profissionalizar a gestão do X e suavizar sua imagem perante o mercado publicitário.

Durante os dois anos à frente da rede social, ela liderou iniciativas que visavam transformar o X em um “Everything App”, nos moldes do WeChat chinês.

Entre os destaques da gestão estão o desenvolvimento da plataforma de pagamentos X Money, a ampliação de formatos multimídia e o fortalecimento das Notas da Comunidade para checagem de informações.

A CEO do X também tentou estabelecer pontes com grandes marcas para recuperar a confiança dos anunciantes, abalada pelas mudanças na moderação e pelo discurso radical de Musk.

Mas isso foi pouco perto do que se esperava, e não suficiente para recuperar as finanças abaladas, como o próprio Musk chegou a admitir e o mercado financeiro registrou. 

Demissão repentina de Linda Yacarino: o que ela não conseguiu fazer?

Mesmo tendo sido anunciado repentinamente, o desligamento da experiente CEO não causou espanto. 

Em uma gestão marcada pela interferência constante de Musk, Yaccarino teve de lidar com situações como o dono da plataforma xingando anunciantes por deixarem de investir no X e processando ONGs por denunciarem conteúdo nazista e discurso de ódio que levou ao afastamento das corporações. 

A integração com a xAI — empresa de inteligência artificial também liderada por Musk — trouxe novas tensões.

Um dia antes do anúncio da renúncia, o chatbot Grok gerou polêmica ao publicar respostas antissemitas e elogios a Adolf Hitler, após uma mudança que o tornaria “menos politicamente correto”.

 As respostas do Grok foram apagadas, mas o episódio pode ter sido a gota d’água para a CEO.

E para anunciantes, parceiros comerciais e investidores no X e em outros negócios do empresário, a partida reforça as críticas sobre sua gestão e sobre o tempo e energia dedicados a assuntos políticos.

Na semana passada, Musk anunciou a intenção de criar um novo partido político nos EUA, parte de sua briga com o ex-amigo Trump em torno da nova lei fiscal que cortou subsídios para carros elétricos. 

Comunicado discreto e agradecimento protocolar

Yaccarino publicou um comunicado anunciando a decisão no próprio X, dizendo que viveu “dois anos incríveis” à frente da empresa.

No post, ela expressou gratidão pela oportunidade de liderar uma equipe talentosa e destacou o trabalho feito para transformar a plataforma em um espaço dedicado à liberdade de expressão e à inovação.

Ela agradeceu a Elon Musk pelo apoio e aos usuários pelo engajamento contínuo, afirmando que continuará torcendo pelo sucesso do X.

“Dois anos incríveis à frente do X. Sou grata por esta oportunidade única de liderar uma equipe tão talentosa enquanto trabalhávamos para transformar esta plataforma em um espaço para expressão livre e inovação. Agradeço a Elon Musk pelo apoio e aos usuários pelo engajamento contínuo. Continuarei torcendo pelo sucesso do X.”

Elon Musk respondeu com uma mensagem sucinta: “Obrigado por suas contribuições”, reforçando o tom protocolar da despedida, sem elogios ou comentários sobre o futuro do cargo. 

 

Saída da CEO do X não é um caso isolado

Diversos executivos escolhidos por Elon Musk enfrentaram obstáculos para se manter nos cargos. Isso reflete o estilo centralizador do bilionário e os desafios em lidar com sua influência direta nas empresas.

Martin Eberhard, cofundador e primeiro CEO da Tesla, foi substituído por Musk em 2007.

A saída foi marcada por desacordos públicos: Eberhard afirma que foi demitido, enquanto Musk diz que ele deixou o cargo por vontade própria. Anos depois, Musk chegou a descrevê-lo como “a pior pessoa com quem trabalhou”.

Na Neuralink, Max Hodak, cofundador da empresa de neurotecnologia, deixou o cargo em 2021 em circunstâncias discretas. Posteriormente, fundou sua própria startup de interface cérebro-computador, o que sugere divergências quanto aos rumos da empresa original.

Sam Altman, da OpenAI, também teve uma relação conflituosa com Musk. Embora não tenha sido CEO de uma empresa comandada diretamente por ele, Altman era próximo de Musk na fundação da organização. O bilionário se afastou da OpenAI em 2018 devido a conflitos de interesse.