Realizado a cada cinco anos com apoio da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o Global Media Monitoring Project (GMMP), levantamento que estuda a representação de mulheres na mídia global, revelou em sua edição de 2025 que apenas 2% das notícias veiculadas em um dia típico desafiam estereótipos de gênero.
O relatório também mostra que as mulheres aparecem como fontes ou personagens em apenas 26% das matérias analisadas, percentual que se mantém estagnado desde 2010, apesar de elas constituirem metade da população do mundo.
O GMMP é o maior e mais longevo estudo global sobre a representação de gênero na mídia. Criado em 1995, ele analisa a presença de mulheres e homens nas notícias em diferentes plataformas e países. A coleta de dados ocorre em um único dia, com participação de redes de comunicadores em mais de 100 países. A edição de 2025 foi realizada em 6 de maio.
Além de examinar a participação de mulheres como fontes ou personagens das matérias, o relatório avalia a presença feminina na autoria das reportagens, os temas em que aparecem com mais ou menos destaque e a persistência de estereótipos de gênero. Pela primeira vez, o estudo incluiu um recorte específico sobre a cobertura de violência baseada em gênero.
Representatividade estagnada nas redações e nas fontes
Apesar de avanços na produção jornalística, a presença de mulheres nas notícias continua limitada.
- 26% das fontes ou personagens nas notícias são mulheres;
- 41% das reportagens foram assinadas por jornalistas mulheres;
- 29% das fontes em matérias escritas por mulheres também são do mesmo gênero (contra 24% nos textos assinados por homens).
Desigualdade por tema revela onde as mulheres aparecem mais
A participação feminina varia bastante conforme o assunto abordado.
- 36% de presença feminina em notícias sobre ciência e saúde;
- 25% em economia;
- 22% em política;
- -4 pontos em temas sociais e legais em relação ao relatório anterior.
Estereótipos de gênero seguem dominando as narrativas
Apenas uma fração das matérias questiona papéis tradicionais de gênero.
- 2% das notícias desafiam estereótipos de gênero;
- Mulheres seguem mais retratadas como cidadãs comuns, donas de casa ou celebridades;
- Homens aparecem mais como especialistas, autoridades ou protagonistas.
Violência de gênero tem espaço marginal no noticiário
Temas críticos sobre violência ainda são pouco cobertos.
- 1,8% das matérias tratam de violência baseada em gênero;
- Maioria aborda estupro, feminicídio e assédio sexual;
- Pouca cobertura sobre violência digital, tráfico de mulheres ou mutilação genital.
Mulheres de minorias têm visibilidade quase nula
A interseccionalidade de gênero com raça, etnia e religião é ignorada.
- 6% das fontes ou personagens pertencem a grupos minoritários;
- Menos de 10% dessas são mulheres.
América Latina combina avanços e retrocessos
A região lidera em crescimento na mídia tradicional, mas perde espaço no digital.
- +14 pontos na participação de mulheres como repórteres desde 2000;
- -5 pontos na mídia digital desde 2020.