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Crise na BBC

Após ameaça de processo, BBC pede desculpas a Trump, mas nega pagamento de indenização

A BBC já havia emitido um pedido de desculpas público pelo que considerou um “erro de julgamento”. Agora, a rede se voltou diretamente a Trump

Donald Trump com bandeiras dos EUA ao fundo


A BBC se desculpou com o presidente dos Estados Unidos Donald Trump pela edição de um discurso. Pedido de desculpas veio após Trump ameaçar processar a emissora e exigir desculpas e compensações.


A BBC publicou na manhã desta sexta-feira (14) um pedido de desculpas direcionado diretamente ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A rede britânica, porém, negou que pagará indenização ao americano.

Trump está no centro de uma crise que abalou a BBC esta semana. Um relatório interno da empresa divulgado pelo jornal Daily Telegraph mostra falhas de imparcialidade editorial, incluindo na edição de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 – data da invasão do Capitólio nos Estados Unidos.

A BBC já havia emitido um pedido de desculpas público e ao Parlamento pelo que considerou um “erro de julgamento”. Agora, a rede se dirigiu diretamente a Trump.

O movimento acontece após a equipe de Trump enviar uma carta à BBC na qual afirma que o presidente abriria um processo contra a empresa – algo que ainda não chegou a acontecer – pedindo uma indenização de US$ 1 bilhão, entre outras compensações, caso a BBC não se retratasse até a noite desta sexta.

BBC se dirigiu a Trump

A rede afirmou em sua comunicação com o presidente que a edição deu “a impressão errada de que o presidente Trump havia feito um apelo direto à violência”. A BBC também disse que não exibirá novamente o programa de 2024 que é questionado pela edição.

“Reconhecemos que nossa edição, involuntariamente, criou a impressão de que estávamos exibindo uma única seção contínua do discurso, em vez de trechos de diferentes pontos do discurso, e que isso deu a impressão errônea de que o presidente Trump havia feito um apelo direto à violência”.

De acordo com a BBC, advogados da empresa escreveram para a equipe jurídica do presidente como resposta à carta enviada por eles no domingo (9).

Além disso, o presidente da rede britânica, Samir Shah, enviou também uma carta pessoal a Trump. Nela, segundo um porta-voz da BBC, ele “deixa claro que ele e a emissora lamentam a edição do discurso”.

Empresa nega indenização

Além das desculpas, Trump também havia pedido uma compensação. No comunicado, a BBC abordou este o pedido, negando o pagamento de qualquer indenização.

“Embora a BBC lamente sinceramente a forma como o vídeo foi editado, discordamos veementemente que haja fundamento para uma ação por difamação”, disse o porta-voz da BBC.

Segundo a empresa, na carta enviada à equipe de Trump foram destacados cinco argumentos que explicam o motivo de a BBC não acreditar que haja necessidade ou justificativa para uma indenização.

O primeiro é o fato de o discurso editado não ter sido exibido nos Estados Unidos. O segundo é que não é possível dizer que o discurso tenha prejudicado o presidente, uma vez que ele foi reeleito em 2024.

Em terceiro lugar, a BBC argumenta que a edição não foi intencionalmente maliciosa, ela só pretendia encurtar o discurso do presidente para exibição na TV. Além disso, a edição do discurso é apenas parte de uma reportagem maior, que também dava espaço a apoiadores de Trump.

Por fim, a BBC lembra que nos EUA, a liberdade de expressão política é fortemente protegida, mesmo quando confrontada com leis de difamação.

História ainda não acabou

A manifestação da BBC é um passo importante, mas não põe um fim definitivo à crise. O presidente Donald Trump ainda não se manifestou e, portanto, não está claro se ainda assim ele vai entrar com uma ação legal.

Além disso, o Daily Telegraph, que revelou o documento da BBC dando início à crise, publicou outro episódio em que o discurso do presidente americano teria sido manipulado.

Isso tudo também suscitou questões quanto às indicações políticas à BBC, emissora estatal. O debate sobre o caso chegou ao Parlamento inglês nesta quinta-feira (12), quando o primeiro-ministro Keir Starmer foi cobrado a convencer Trump a desistir do processo.

Starmer disse confiar na importância da emissora em tempos de desinformação, embora tenha admitido que a rede precisa “arrumar a casa”. Ele aproveitou para acusar o antigo governo Conservador de orquestrar uma campanha para desacreditar a BBC.

Em meio à crise, ganhou força também a ideia de que a disputa é parte de uma tentativa de enfraquecer a BBC e remonta à era Boris Johnson, que atacava à rede em meio ao contexto do Brexit.

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