Este artigo foi atualizado em 18/4 e 19/4 para refletir a cobertura posterior ao sepultamento do Príncipe Philip

O sepultamento do príncipe Philip, ocorrido no sábado (17/3) foi registrado pela imprensa britânica como se toda a mídia tivesse combinado usar o mesmo ângulo e a mesma foto. Certamente nada foi combinado entre veículos concorrentes, mas nem precisava, porque a imagem era forte o suficiente para ter se tornado (em close ou ampliada) a escolha natural dos editores para ilustrar capas, home pages, escaladas de telejornais e posts em mídias sociais. 

A imagem da rainha solitária na igreja do Castelo de Windsor revela mais do que uma viúva enlutada pela perda de seu companheiro de 73 anos. Aos 95 anos, Elizabeth II é o esteio da Coroa britânica, que em tempos modernos não é mais uma unanimidade entre os súditos de um reino em que tendências separatistas (sobretudo na Escócia) indicam chances reais de que venha a ser desunido. 

A palavra “alone” (sozinha) dominou as manchetes, inferindo uma fragilidade institucional de uma dinastia sem herdeiros à altura do carisma da rainha. O futuro da Coroa britânica vem sendo debatido em muitos círculos. A forma como a máquina do Palácio de Buckinghan conduziu a comunicação do dia em que Philip morreu ao dia em que foi enterrado e como a imprensa tratou o acontecimento serão influências importantes para esse futuro. 

E duas dessas manchetes parecem emblemáticas sobre as incertezas.  O Sunday Express parece mandar um recado: “a senhora não está sozinha”. E o Daily Star faz votos para que a rainha seja abençoada. 

A reação veio da azeitada máquina de RP do Palácio de Buckinghan, veio rápido, coroando um show de estratégia apresentado desde que o príncipe morreu. No domingo (18/4) alardeou que Elizabeth II vai se dedicar agora à preparação dos festejos pelo jubileu de platina de seu reinado, em junho de 2022 – um recado eloquente de que não está fraca nem pretende abdicar. 

O tamanho e o tom da cobertura de imprensa

No dia seguinte ao da morte do Príncipe Philip (ocorrida em 9/4), havíamos levantado aqui no MediaTalks uma questão: qual o tamanho adequado da cobertura sobre a morte de uma personalidade desse porte?

E observamos que a imprensa britânica teria que descobrir a resposta sem referências anteriores recentes, já que o Duque de Edinburgh foi um dos três monarcas ou consortes falecidos em 61 anos. E o primeiro na era das redes sociais. 

Uma semana depois, o número de páginas dedicadas pelos jornais (mais de 550 nos três primeiros dias), as controvérsias sobre a extensão da cobertura de TV e a permanência da morte do príncipe como pauta dominante nos dias que se seguiram permitem tirar conclusões a respeito do espaço e do tempo dedicado ao tema.

O que aconteceu no jornalismo e nas redes sociais desde nesses últimos dias não é importante apenas pelo aspecto quantitativo. Foi uma semana em que a imprensa tomou suas decisões editoriais sob o peso gigantesco de tudo o que a família real representa para o Reino Unido, levando a uma cobertura extensa, simpática, emocional e pouco controversa.

Para isso, contou com a providencial ajuda do time de RP do Palácio de Buckinghan, que manejou o noticiário com maestria por meio de uma distribuição orquestrada de notícias, declarações e fotos capaz de garantir uma exposição gigantesca que não arrefeceu depois do primeiro impacto.

Os recursos incluíram até o lançamento de novos personagens para o centro do palco – o núcleo dos Wessex, quarto filho da rainha, cuja mulher Sophie é uma ex-RP, a quem coube falar pela primeira vez em nome da família depois da morte do príncipe, revelando como estava a rainha. E no dia seguinte, como foi a passagem. 

 A operação teve também que lidar com sensibilidades como a briga dos irmãos Harry e William e o radioativo Príncipe Andrew, com imagem queimada pela amizade com um pedófilo. 

Pode-se afirmar que a comunicação da chamada “Firma”, como a família real é apelidada, levou quase todas – mas não todas. Se há certezas, uma delas é que nem a máquina mais eficiente consegue controlar as redes sociais, onde afloram as reações de uma sociedade que não idolatra mais seus nobres incondicionalmente.

E onde são feitos os questionamentos que a mídia tradicional não quer ou não pode – institucionalmente, não por qualquer tipo de censura – fazer. Quando se arrisca, pode ser dar mal. 

Foi o caso da BBC, que depois de amargar mais de 100 mil reclamações por excesso de cobertura sobre a morte do príncipe no primeiro dia, acordou domingo entre os trending topics nas redes sociais devido a observações do comentarista Nicholas Witchell sobre Harry e William feitos durante a transmissão do enterro. Essa é outra certeza: faça o que fizer, a BBC dificilmente escapa incólume. 

Um roteiro para ocupar espaços ao longo da semana

 A morte de Philip era esperada, pois ele tinha 99 anos e andava adoentado. Desenhou o Land Rover que levaria seu caixão e tomou todas as decisões a respeito da cerimônia fúnebre, dos convidados às músicas. Nenhuma empresa pode se gabar de tamanha exposição de sua marca com tal impacto como a Land Rover, ícone britânico.

Tudo foi planejado sob a Operação Forth Bridge. A ideia inicial era um funeral sem honras de estado, mas ainda assim grandioso.

Devido à Covid-19, no entanto, a cerimônia ficou restrita a 30 pessoas, dentro do Castelo de Windsor, sem que o público pudesse acompanhar o cortejo ou ver os dignitários e celebridades chegando para o evento.  

A única alternativa era a TV: as três grandes emissoras (BBC, ITV e SkyNews) transmitiram ao vivo e fizeram longas programações antes e depois do enterro. A audiência foi alta – mais de 13 milhões, somando BBC e ITV – mas não superou outros eventos reais como os funerais da princesa Diana, com 32 milhões. 

Para contornar o impacto reduzido de uma cerimônia menor e não perder a oprtunidade de reafirmar a mística da realeza, o plano de comunicação baseou-se na ideia de criar fatos e manter o interesse.

Os detalhes sobre como seria a cerimônia não foram anunciados de uma só vez. Saíram aos poucos, com informações novas reveladas a cada dia para ocupar o máximo de espaços na mídia – quantas pessoas, quem ia participar, como seria o cortejo, a música, as roupas.

E a mídia correspondeu, consumindo as informações avidamente. O noticiário sobre o príncipe dividiu espaços com a política nacional e com a pandemia. 

Outra tática vencedora, alinhada ao mundo das redes sociais, foi a distribuição de fotos. A cada dia apareciam nas contas oficiais imagens do príncipe Philip, algumas inéditas – com a rainha, com os netos, com os filhos e em compromissos oficiais. As mensagens embutidas concentraram-se nos valores mais caros para a realeza: a vida em família e o chamado “sense of duty” britânico, o compromisso em servir ao país e à coroa.

Tomaram conta das redes diariamente e acabaram indo parar nas páginas de jornais e no noticiário da TV. 

O tom quase monocórdio da cobertura, a quase total ausência de histórias pouco abonadoras sobre o falecido (elas existem e já foram publicadas no passado) ou de espaço para os antimonarquistas (eles existem, e representam uma parcela nada desprezível da população britânica) não são sinal de mau jornalismo. O tratamento apenas reflete o peso institucional da realeza no país, do qual  a imprensa não escapa, com poucas exceções.  

É  importante lembrar que a maioria dos grandes jornais britânicos é alinhada ao Partido Conservador. Vários pertencem a famílias nobres, associadas aos valores da monarquia. E há grandes interesses envolvidos na estabilidade e na reputação que a realeza confere ao país, um dos elementos mais fortes para o soft power britânico. Tudo isso esteve em jogo durante a semana. 

Uma sequência meticulosa de fotos e declarações

O roteiro de comunicação começou com uma nota oficial afixada nas grades do Palácio de Buckingham, em estilo medieval, anunciando a morte do príncipe (em 9/4). No dia seguinte (10/4), apenas a declaração rápida de Sophie, a Condessa de Wessex, saindo de uma visita à rainha.

No domingo (11/4), Charles, o herdeiro do trono, dá à imprensa um depoimento oficial emocionado diante de sua casa, usando uma expressão que ganhou as manchetes pela ternura: “my dear papa”.

Para quem acompamhou a série The Crown, na qual Philip foi retratado como pai rigoroso e crítico do primogênito Charles, o papel de filho amoroso pode não ter convencido. Mas nada garante que a série seja fiel à realidade, coisa que os mais próximos à família juram de pés juntos que não é. Ou que na velhice a ternura entre pai e filho não tenha aflorado 

O fato é que “my dear papa” foi capa dos jornais de domingo e segunda-feira. Mais um ponto para a máquina de RP. 

Passado mais um dia, o roteiro seguiu. Os outros três filhos de Philip – Anne, Edward e Andrew – distribuíram notas e falaram às TVs com declarações em tom pessoal. 

Onde o roteiro parece ter dado errado

Ninguém duvida dos sentimentos dos filhos. Mas em uma família apelidada de “A Firma”, é de se supor que cada fala tenha passado pelo crivo do QG da Forth Bridge. Só que aqui pode ter havido uma pequena falha no que vinha até então sendo uma cobertura totalmente favorável. 

Mesmo na comoção pela dor da rainha, a aparição do príncipe Andrew foi alvo de controvérsia. Depois de mais de um ano sem falar publicamente, ele reapareceu no domingo (11/4), dando uma entrevista diante da capela do Castelo de Windsor.

Chamou o pai de “avô da nação”. A fala desencadeou uma onda de especulações sobre se a aparição teria sido um ensaio para voltar à vida pública, na esteira da popularidade de Philip.

O filho caçula do Duque de Edinburgh caiu em desgraça em 2019 pela amizade com o pedófilo Jeffrey Epstein, que o obrigou a deixar suas funções “na Firma”. E ainda está sob risco de ter que explicar à justiça americana sobre o envolvimento com algumas jovens em encontros escusos promovidos pelo amigo. 

Até a BBC acabou engolfada na polêmica. A emissora bateu em três dias seu recorde histórico de reclamações (mais de 100 mil) pela sua cobertura, considerada exagerada porque paralisou a programação para dar lugar a comentários e documentários. Críticas ao espaço dado a Andrew também fizeram parte do rol de lamentos feitos pelos espectadores. 

Rapidamente os porta-vozes reais tiveram que desmentir a existência de planos para que ele volte a representar o Palácio de Buckinghan – e o Reino Unido, já que os membros ativos da realeza participam de encontros diplomáticos. 

Duque e Duquesa de Wessex e Lady Louise: os novos embaixadores?

Andrew não é o único membro da família com imagem desgastada. O príncipe Harry e sua mulher Meghan Markle, que há três anos casaram-se no mesmo Castelo de Windsor onde Philip descansará para sempre, abriram a maior crise da história da monarquia desde a abdicação em 1936 do Rei Eduardo VIII, tio da Rainha Elizabeth – que abriu mão de seu reinado para se casar com a americana Wallis Simpson. 

O príncipe Charles não é exatamente uma unanimidade. A última temporada da série The Crown só piorou a imagem dele, retratado como marido cruel e infiel da doce Diana. 

O príncipe William tem alta popularidade – maior do que a da rainha neste momento, segundo a última pesquisa do Instituto YouGov. Mas as rusgas com Harry e a suposta discórdia entre sua mulher Kate e Meghan provocam alguma controvérsia nas redes sociais entre os admiradores dos dois casais. 

Pode ser coincidência e nada ter sido orquestrado inicialmente pela turma da comunicação. Mas chamou a atenção a proeminência de figuras que não costumavam aparecer tanto na linha de frente: o filho mais jovem, Edward, com sua mulher, a Duquesa de Wessex. E a meiga filha do casal, Lady Louise.

Os sinais são de que os Wessex despontam como a novidade bem-comportada capaz de representar a estabiilidade e os valores familiares que andaram meio em falta entre os outros filhos da rainha. Edward é o único filho de Philip que não se divorciou, o que ajuda a trazer simpatia para uma família abalada por tantos divórcios rumorosos. 

Essa impressão, que havia surgido no início da semana, foi confirmada nas cobertura posterior ao sepultamento, como no jornal The Times, que fez no domingo (18/4) um longo perfil de Sophie, rotulando o casal de “novos embaixadores”.

A forma como Sophie entrou no radar da imprensa foi um pouco inusitada e parece ter sido casual. Ou provocada por iniciativa dela própria, que antes de se casar tinha sua própria empresa de RP e sabe manejar as ferramentas. No dia seguinte à morte do príncipe Philip, ela falou de dentro do carro para uma repórter que estava na rua, comentando sobre o estado emocional da rainha.

Não tardou para que os holofotes da mídia se voltassem para a condessa. Passou a ser apontada como “a nora preferida de Elizabeth”. 

Mesmo que essa fala não tenha sido combinada previamente com a comunicação, o efeito foi positivo. De olho na audiência e na simpatia, o comando da Operação Forth Bridge claramente decidiu investir nos novos personagens. O canal oficial da família real explorou bem as imagens dos Wessex ao longo da semana. 

Outro sinal de sua relevância  é que na sexta-feira (16/4), a “foto do dia”, inédita, foi um momento de alegria do casal, capturado adivinhem por quem? Pela nora querida. A foto tomou conta das redes sociais e ilustrou as primeiras páginas dos jornais no dia do enterro.

Lady Louise, candidata ao posto de nova celebridade real

E mais um detalhe que não passou despercebido. Sempre que os Wessex apareciam diante das câmeras na saída da missa, ou em fotos admirando os tributos deixados para o príncipe Philip, Lady Louise estava presente. 

Olhos de RP treinados talvez concordem que foi quase um “product placement”, lançando uma jovem capaz de agregar admiradores em uma família que precisa deles para substituir figuras desgastadas. O vídeo foi reproduzido nas redes sociais, TVs e nos sites de jornais, como o Daily Mail. 

Ela foi  uma das duas únicas crianças (como foram chamados pela imprensa) selecionadas entre os 30 participantes da cerimônia fúnebre (junto com o irmão menor). Uma lista que deixou de fora até os filhos de William e Kate, um deles (George) o terceiro na linha de sucessão.

Durante a semana a “operação-foto” distribuiu uma imagem de Louise conduzindo uma carruagem, aproximando-a da imagem do avô.  A isca parece estar sendo mordida, pois a revista Hello adorou a pauta, indicando o surgimento de mais uma nobre para alimentar o culto a celebridades. 

Mas será que alguém previu as desavenças familiares?

A família real britânica não é a única no mundo − real ou não − a ver tensões latentes aflorarem quando um ente querido se vai. No matriarcado de Elizabeth II, o falecimento do príncipe consorte em meio à crise desencadeada pela entrevista de Harry e Meghan à apresentadora americana Oprah Winfrey fez com que discordâncias e infortúnios ficassem mais expostos.

Depois do fim de semana dominado pelas manifestações dos filhos, a semana foi aberta com a primeira de um dos netos, terceiro na linha de sucessão. O príncipe William soltou um comunicado nas redes sociais enaltecendo “os anos de serviço público” do avô e assegurando que seguiria cumprindo a missão de servir ao país, e invocando o “sense of duty” tão caro aos britânicos. 

Nobre, se não fosse um detalhe que algum assessor não previu: alguém se sentiu atingido. E este alguém foi o irmão Harry, que aquela altura parecia não estar sendo perdoado por ter rompido com as tradições familiares nem no luto.

Logo em seguida, o caçula soltou pelas redes uma declaração carinhosa sobre o avô, chamando-o de “lenda do churrasco”. Foi interpretada por meio mundo como uma resposta e um posicionamento.

As imagens transmitidas foram a do neto “da obrigação” e a do neto “do amor”. Ou a de um William que nem no luto perdeu a chance de alfinetar o irmão.

Pode não ser nada disso. Mas nesse mundo, o que vale é a percepção, difícil de ser prevista e administrada até pelos comandantes de uma bem planejada operação de comunicação. 

Harry e William, “apart”

No início da semana, poucos apostavam em uma reconciliação dos irmãos, mesmo com corações amolecidos pela perda do avô. O episódio das notas foi escalando durante a semana, para chegar ao seu ponto alto: a notícia de que William e Harry fariam o cortejo fúnebre separados por um primo, parecendo até uma sugestão de que precisam de alguém para desapartar uma briga. 

Alguns lances dessa história podem ou não ter sido orquestrados. Esse é um deles. Em tese, a notícia da briga não é favorável. Mas teria sido uma estratégia para deixar bem claro que Harry não faz mais parte do núcleo da família real britânica?

Os jornais refletiram bem a discórdia, com várias capas do dia em que a notícia saiu utilizando a palavra “apart”.

No entanto, analistas que proliferam nos jornais e nas TVs têm salientado o desejo da rainha de enviar sinais de unidade da família, o que deixaria mais improvável a tese da maldade.

No sepultamento os dois apareceram conversando na saída, o que ajudou a reverter a impressão de discórdia. E colocou Kate Middleton em alta novamente, apontada pela imprensa como a conciliadora que está aproximando os dois irmãos. Na segunda-feira (19/4) os jornais repercutiram a notícia transmitida por fontes do Palácio dando conta de que os irmãos se encontraram para conversar. 

Sem uniformes militares 

Outro imbroglio familiar foi o uso de uniformes militares, alvo de especulações durante a semana. Harry queria usar, mas desde que deixou as funções oficiais na família real perdeu também seus títulos militares. Nesse caso, a decisão foi mais conciliatória. Ficou decidido que ninguém ia usar uniforme, apenas trajes civis e as medalhas. 

Mas a solução pode não ter sido apenas para não constranger Harry, já que o príncipe Andrew igualmente não poderia usar uniforme – e sua imagem seria ainda mais desgastada. Novamente pode ter havido aí uma estratégia de comunicação bem amarrada para minimizar danos. 

BBC, sempre na berlinda 

O mar de reclamações à BBC pela cobertura excessiva da morte do príncipe Philip na TV entrou para a história como o maior já recebido na TV britânica. Foram quase 110 mil em três dias. Fora as redes sociais, onde a polêmica se alastrou. Mas não necessariamente contra a rede.

Ficou evidente que nem todos acham que a morte do marido da rainha é motivo para a imprensa deixar de lado outros assuntos importantes e tirar do ar a programação normal. Como sempre, há as teorias conspiratórias sugerindo que a rede pública estava se aproveitando para deixar de cobrir temas espinhosos. 

No meio da semana, a BBC  divulgou um statement justificando o tempo dedicado à morte do príncipe sob o argumento de que a decisão foi tomada para refletir seu papel de emissora nacional em momentos de grande importância para o país.

Mas não incorreu no mesmo risco de tirar programas do ar subitamente nem de privar seus espectadores de assistir outras atrações no dia do enterro, apesar de dedicar seis horas de conteúdo para a cobertura desde a véspera. 

No final, a BBC teve pelo menos algo a celebrar. Em uma cerimônia absolutamente restrita, coube à rádio BBC  ter o único jornalista presente na capela de Windsor para acompanhar a missa fúnebre, fato devidamente promovido pela rede, tão criticada na semana anterior. 

Nicholas Witchell, o novo problema 

Mas a alegria durou pouco. Ao falar abertamente da briga dos irmãos durante a transmissão do enterro pela BBC, o veterano Nicholas Witchell, comentarista da realeza desencadeou nova onda de protestos nas redes sociais.

O que ele disse não é nada demais e nada diferente do que muitos disseram ou escreveram. Seus comentários foram sobre a linguagem corporal dos irmãos, que a seu ver sinalizaram a tensão ainda existente.

E foi mais crítico a Harry ao dizer em tom levemente pejorativo que havia absorvido as “atitudes da Califórnia”. Mas falar sobre isso durante o momento solene foi demais para os súditos, muitos questionando a imparcialidade da BBC.

O jornalista não é exatamente um amigo da Coroa nem dos que gravitam em torno de seus personagens. Em março despertou a ira dos fãs de Meghan Markle ao comentar que a entrevista a Oprah faria mal a uma pessoa com problemas cardíacos como o príncipe Philip. 

O problema dele não é só com os Sussex. Circula nas redes um vídeo em que o príncipe Charles reclama abertamente de Witchell.

https://twitter.com/i/status/1362802648773238787

Simbolismo da monarquia

A habilidade de “a Firma” contornar obstáculos e aproveitar as oportunidades para reafirmar sua imagem pública ficou mais uma vez evidente no roteiro da cerimônia fúnebre. Foi amplamente noticiado que o príncipe Philip deixou tudo organizado, inclusive quem participaria. 

Três horas antes do sepultamento, começou um majestoso ritual com direito a parada militar e  instrumentos musicais cobertos por um tecido negro. Perfeito para encantar os súditos que puderam acompanhar o espetáculo carregado de simbolismo pela TV e pelas redes sociais. 

Pretas também foram as roupas usadas pelos apresentadores e repórteres no sábado do sepultamento. Isso valeu até para os que não estavam na cobertura do príncipe, como o pessoal de esportes da BBC.

As gafes de quem preferiu não dar muita bola para a notícia 

Se o príncipe Philip ficou famoso por suas gafes (ou tiradas, como preferem alguns), sua morte acabou deixando alguns políticos em má situação. Foi o caso de Jeremy Corbyn, que por vários anos comandou o Partido Trabalhista, de oposição ao atual governo, liderado pelos conservadores.

Menos de uma hora após o falecimento ter sido anunciado, Corbyn postou no Twitter uma mensagem de apoio ao povo… da Bolívia! As críticas foram tantas que ele teve que apagar o post e tuitar novamente expressando pesar pelos britânicos. E aproveitou para dar uma alfinetada na gestão da Covid pelo governo de Boris Johnson, referindo-se às famílias que perderam entes queridos para o coronavírus.

 

 

 

O futuro da monarquia 

Muito se especula sobre o futuro da monarquia pós-Elizabeth. Entre os herdeiros da coroa britânica, William é o que tem mais popularidade e é o preferido para tornar-se o próximo rei, segundo o instituto de pesquisas YouGov.

O ritual em torno da morte do príncipe Philip, a exposição favorável na mídia ao longo da semana após sua morte e a bem-sucedida operação de RP que culminou com a cerimônia carregada de símbolos pode fortalecer a monarquia. 

Mas a unanimidade em torno de seu futuro, segundo as pesquisas, parece ser menor do que a que tem sido refletida pela grande imprensa. O último resultado do acompanhamento do YouGov mostra que a soma entre os que acham que Elizabeth não deve ser sucedida por ninguém ou que não sabem passa de um quarto da população.

 

As pautas exóticas 

A profusão de fotos, curiosidades e informações divulgadas oficialmente pela família real, por seus membros e por toda sorte de gente que aproveitou a semana da morte do príncipe Philip para fazer alguma associação com o acontecimento não deixou faltar pauta para a imprensa, nem assunto novo nas redes sociais. 

Teve de tudo: quem ganhou algum prêmio das entidades apoiadas por ele, pessoas que apertaram a mão do príncipe um dia, companheiros de longa data, a diretora da escola onde ele estudou. Tudo virou pauta. E muita gente pegou carona da história.

Entre todas elas, talvez a mais inusitada tenha sido o caso  da uma mesa na qual a mãe de Philip teria dado à luz,. Philip nasceu em Corfu, na Grécia e a mesa teria sido escolhida pelo médico responsável pelo parto por não achar a cama adequada para o procedimento.

A tal mesa fez um longo caminho até chegar ao escritório da empresa de navegação Howe Robinson, em Londres. E foi devidamente apresentada à imprensa esta semana pelos donos, que a utilizam para reuniões no escritório da companhia. 

A parte mais curiosa da história é que o príncipe Philip teria sido convidado há alguns anos a jantar na mesa, mas declinou. Sábio Philip. 

O grand finale

Para fechar o sábado do sepultamento, chave de ouro. A imagem postada pelas redes sociais da família real no fim do dia é bonita e expressiva. Na sequência, as notícias favoráveis sobre o entendimento dos irmãos e da intenção da rainha de se ocupar dos festejos de 2022 só confirmam a eficiência da máquina de RP do Palácio de Buckinghan. 

No que depender dela, a monarquia terá vida longa.

 

Veja uma análise sobre como a imprensa britânica cobriu a morte do príncipe Philip nos primeiros dias e a polêmica em torno da cobertura da BBC, objeto de reclamações de todos os tipos.

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