Em 2017, a hashtag #MeToo dominou as redes sociais com relatos pessoais de violências e abusos sexuais sofridos por mulheres no mundo inteiro. A onda foi desencadeada pelo caso do produtor Harvey Weinstein, um magnata de Hollywood acusado de agressão sexual por dezenas de atrizes.
Sete anos depois, 80% dos jornalistas dizem que o #MeToo impulsionou a cobertura de questões relacionadas aos direitos das mulheres, violências de gênero e sexuais. Essa visibilidade, no entanto, vem acompanhada de riscos: mais de 25% dos profissionais consideram perigoso investigar o tema.
Os dados são do levantamento “Jornalismo na era #MeToo“, da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), que alerta para a “repressão violenta” a jornalistas que cobrem esses assuntos.
Me Too provocou mudanças nas redações
O caso Weinstein veio à tona com a reportagem investigativa de Jodi Kantor e Megan Twohey, publicada em 5 de outubro de 2017 no New York Times. Dias depois, Ronan Farrow do The New Yorker detalhava os crimes do chefão do cinema norte-americano.
A reação às revelações veio em forma de indignação e solidariedade. As redes sociais foram inundadas pela #MeToo, movimento global que encorajou mulheres a falarem sobre suas experiências de abuso.
No Brasil, os relatos foram compartilhados com a #EuTambém; na Tunísia, #EnaZeda; na Espanha, #Cuéntalo; na África do Sul, #EndRapeCulture; no Chile, #UnVioladorEnTuCamino.
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Após incentivar denúncias e mudar leis, seria impossível o #MeToo não impactar também o jornalismo.
O termo “feminicídio” entrou no cotidiano da imprensa e a cobertura de violência sexual não é mais escanteada, sendo muitas vezes manchetes de grandes jornais.
Segundo a RSF, o avanço também foi apoiado por mudanças estruturais nas redações, que adotaram cartas éticas e criaram cargos de “editores de gênero”, com o objetivo de garantir uma cobertura mais igualitária para mulheres e minorias.
Para mensurar todas essas mudanças, o RSF fez uma pesquisa com 113 jornalistas em 112 países. Desde 2017, mais de 80% dos profissionais relataram um aumento significativo na cobertura de temas relacionados aos direitos das mulheres e à violência de gênero.
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No entanto, essa “primavera feminista” na mídia não vem sem riscos.
O levantamento revela que mais de 25% dos jornalistas consideram perigoso cobrir os casos. Isso porque quase 60% conhecem pelo menos uma situação de jornalista que sofreu assédio online após a publicação de matérias de violência contra mulheres.
Ameaçados e intimidados nas redes sociais, muitos profissionais se veem forçados à autocensura ou mesmo ao exílio, enquanto outros enfrentam processos judiciais abusivos.
Em países autoritários como Rússia, Irã e China, os jornalistas também correm risco de prisão por cobrirem o tema — como aconteceu com Sophia Huang Xueqin, criadora do #WoYeShi, o #MeToo chinês, presa em 2021 e condenada a cinco anos de prisão em junho.
RSF cobra ações contra repressão a jornalistas
O relatório da RSF traz 16 recomendações para ajudar a proteger jornalistas que cobrem a violência de gênero e os direitos das mulheres.
Entre as medidas, a organização sugere criminalizar assédio cibernético e o apoio de plataformas de redes sociais para ajudarem a prevenir e combater esse tipo de violência.
Anne Bocandé, diretora editorial da ONG, destaca a importância da cooperação entre Estados, autoridades, plataformas e empresas jornalísticas para garantir o direito dos jornalistas em trabalharem livremente:
“A RSF observou que o Me Too favoreceu o desenvolvimento de melhores práticas jornalísticas e de diversas redes de mulheres jornalistas. Entretanto, apesar de todos esses avanços, as jornalistas especializadas nos direitos das mulheres e na violência de gênero ainda são os principais alvos de ataques que envolvem desde campanhas de assédio cibernético até assassinatos. Esses abusos devem parar.”
O relatório completo pode ser visto aqui
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