Na semana em que é celebrado o Dia da Consciência Negra no Brasil, um estudo sobre diversidade, equidade e inclusão (DEI) no mercado de trabalho dos EUA acende um alerta importante.

Em pouco mais de um ano, a opinião dos norte-americanos sobre esforços DEI no ambiente de trabalho se tornou mais negativa – puxada principalmente pela percepção de homens brancos, segundo a pesquisa do Pew Research Center.

Apesar de ser focado no mercado dos EUA, o estudo pode indicar uma nova tendência na mesma onda anti-ESG que cresce no país. E a eleição de Donald Trump pode contribuir para a diminuição da diversidade no mundo corporativo, com reflexos em todo o mundo, já que multinacionais americanas costumam aplicar os mesmos parâmetros globalmente. 

Nos EUA, apoio à diversidade tem partido

A opinião sobre a DEI no mercado de trabalho está alinhada ao movimento anti-ESG, que tem nos EUA seu campo mais fértil. Investidores pressionam cada vez mais as diretorias e conselhos corporativos contra iniciativas que combinam operações e benefícios à sociedade, definidas pela sigla que significa Environment, Social e Governance. 

O Social refere-se justamente às práticas inclusivas.

Na pesquisa realizada com trabalhadores dos EUA em outubro deste ano, o instituto Pew constatou que mais norte-americanos (21%) estão dispostos a afirmar que é ruim incentivar iniciativas de diversidade no ambiente corporativo.

O número representa um aumento de 5 pontos percentuais comparado com o levantamento anterior, de fevereiro de 2023.

A maioria, no entanto, segue vendo o lado positivo de políticas DEI no trabalho.

Cerca de metade dos trabalhadores dos EUA (52%) diz que é bom aumentar a diversidade, abaixo dos 56% da pesquisa do ano passado. Já 26% não consideram nem bom nem ruim o foco em DEI.

Um gráfico de linhas mostrando que uma parcela crescente de trabalhadores dos EUA diz que focar em DEI no trabalho é algo ruim.

A pesquisa mostra que, assim como em 2023, mulheres, democratas, negros, hispânicos e asiáticos estão mais propensos a ver iniciativas DEI como algo positivo.

Na outra ponta, republicanos e homens continuam entre os trabalhadores mais propensos a dizer que isso é algo negativo.

Entre os alinhados com o partido de Trump, 42% disseram que acham ruim a empresa focar em iniciativas DEI – 12 pontos percentuais do que na pesquisa anterior. O número de quem tem uma visão neutra caiu 8 pontos, enquanto aqueles que veem como algo positivo teve uma queda de 30% para 27%.

No recorte racial, cresceu o número de trabalhadores brancos que declaram ser ruim iniciativas DEI no trabalho: 27% afirmam isso neste ano, contra 21% em 2023.

Um gráfico de barras empilhadas mostra que os trabalhadores republicanos nos EUA estão consideravelmente mais propensos a dizer que focar em DEI no trabalho é algo ruim.

Homens brancos se sentem ameaçados por ações de diversidade nos EUA

Em outra pesquisa, realizada em setembro, o Pew Research Center analisou a percepção sobre ações de diversidade para adultos dos EUA independente de terem um emprego ou não. O instituto também questionou se as práticas DEI no ambiente profissional ajudam ou prejudicam determinados grupos.

A maioria dos norte-americanos considera que medidas DEI ajudam homens e mulheres negros, hispânicos e asiáticos.

Questionados sobre os impactos para mulheres brancas, os entrevistados ficaram mais divididos: 30% acham que as práticas DEI ajudam esse grupo, contra 23% que dizem que as prejudicam.

Sobre homens brancos, no entanto, os norte-americanos têm uma posição clara: 36% acham que políticas para diversidade prejudicam homens brancos (contra 14% que discordam).

Olhando para as opiniões de homens e mulheres, eles são mais propensos do que elas a dizerem que práticas DEI prejudicam cada grupo: 45% dos homens, por exemplo, acham que ações afirmativas prejudicam homens brancos no trabalho – enquanto 29% das mulheres que afirmaram o mesmo.

Um gráfico de barras mostrando que a maioria dos americanos diz que as práticas DEI ajudam homens e mulheres negros no local de trabalho.