Muitas cidades do mundo estão avançando na implementação de políticas ambientais ambiciosas, mesmo em um momento em que a colaboração global para combater as mudanças climáticas esteja se despedaçando – e um exemplo emblemático é a proibição de anúncios de empresas e produtos altamente poluentes, como combustíveis fósseis, companhias aéreas, viagens de luxo e automóveis SUV.

No Reino Unido, as cidades de Edimburgo e Sheffield introduziram tais proibições, atingindo anúncios de empresas de combustíveis fósseis como Shell e BP veiculados em mídia exterior.

O mesmo aconteceu com companhias aéreas, aeroportos, SUVs e veículos movidos a gasolina ou diesel, cujos anúncios desapareceram de locais administrados pelo poder público local à medida que as políticas foram sendo consolidadas.

Os conselheiros parlamentares da cidade de Edimburgo afirmaram que para atingir as metas climáticas da cidade é necessário “uma mudança na percepção da sociedade sobre o sucesso”. 

Além disso, disseram que “a promoção de produtos de alto carbono é incompatível com objetivos de net zero” [termo que se refere ao compromisso de eliminar as emissões de carbono líquido].

Os vereadores de Sheffield declararam que a concessão de publicidade da cidade “aborda alguns dos impactos do consumo, da publicidade e da injustiça”.

Expansão global das proibições de anúncios de combustíveis fósseis

Mais longe, a cidade holandesa de Haia e a capital da Suécia, Estocolmo, introduziram proibições semelhantes, assim como redes de transporte público em Gotemburgo, Montreal e Toronto.

Muitas outras cidades  pelo mundo têm adotado movimentos que podem se transformar em proibições totalmente eficazes.

Os apelos para a proibição de anúncios com base no clima, como os de combustíveis fósseis, chegaram ao topo das Nações Unidas, para a Câmara dos Lordes do Reino Unido e seus profissionais de saúde pública.

Ambientalistas famosos como Chris Packham também apoiaram uma exclusão a essa promoção. 

Proibições de anúncios no passado: o caso do tabaco

Há até relativamente pouco tempo atrás era comum ver anúncios incentivando o consumo de produtos à base de tabaco.  Mas graças a campanhas eficazes, essas propagandas foram removidas de outdoors, camisas de futebol, telas de televisão e no final, da toda a vida cotidiana.

O tabaco é o precedente histórico mais conhecido, mas outras proibições já aconteceram. 

Diversas cidades já barraram propagandas de álcool, como uma na Escócia. Outras iniciativas bloquearam propaganda de junk food, como o transporte público em Londres – um dos maiores sistemas de publicidade física e digital do mundo.

A lógica por trás das proibições de publicidade é direta. Ao vetar a promoção de certos bens e serviços, o consumo será reduzido, e por extensão os danos associados ao seu consumo, emissões, poluição ou doenças.

Depois que a Transport for London mudou sua regulamentação de junk food em 2019, houve uma redução significativa no consumo de alimentos ricos em gordura, sal e açúcar pelos londrinos.

Entre as famílias que vivem em Londres, houve uma redução de mais de 1.000 calorias, uma queda de cerca de 7%. Uma análise mais aprofundada sugeriu que a concessão de anúncios pode ser capaz de prevenir quase 100.000 casos de obesidade.

Esse número poderia economizar ao NHS  [National Health Service, sistema de saúde pública britânico] cerca de £ 200 milhões (R$ 1,4 bilhão).

Reduções semelhantes no consumo foram observadas na sequência das proibições de publicidade de tabaco.

A publicidade contribuindo para a crise climática

A relação direta entre propaganda e consumo está ganhando reconhecimento. Estudos mostram que a publicidade de alto carbono aumenta a demanda por esses bens, e como resultado, impulsiona o crescimento das emissões.

Um estudo de 2022 descobriu que as companhias aéreas com os maiores orçamentos de publicidade realizaram vendas de passagens mais caras. Isso mostra uma ligação direta entre gastos com anúncios e demanda por voos.

Outro estudo descobriu que a publicidade é responsável por adicionar 32% mais emissões de carbono de cada pessoa no Reino Unido.

Junto com o impacto direto da publicidade nas emissões, a propaganda de alto carbono normaliza formas de consumo intensivo em emissões, como viagens aéreas frequentes.

Os anúncios em questão geralmente contêm afirmações ambientais enganosas, às vezes fazendo as pessoas pensarem que a crise climática é menos grave ou que não há nada a se fazer.

Talvez este seja o efeito mais simbólico, mas não menos nocivo da publicidade de alto carbono. Há um consenso de que a eliminação rápida dos combustíveis fósseis é essencial para estabilizar as temperaturas globais e evitar impactos catastróficos.

Mas essas empresas gastam reservas de bilhões em todo o mundo em depósitos que afirmam que são “parte da solução”. Na maioria das vezes, a conversa é unilateral: os cidadãos não têm direito de resposta quando se trata de outdoors gigantes de publicidade.

Proibições de anúncios relacionadas a combustíveis fósseis

Com a proibição dos anúncios de combustíveis fósseis, as ambições e políticas podem ser alinhadas. Reduzir a demanda por produtos e serviços com alta emissão é uma estratégia cada vez mais importante nas políticas de mitigação do governo.

O IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, órgão das Nações Unidas que avalia a ciência relacionada às mudanças climáticas] estima que estratégias do lado da demanda podem reduzir as emissões globais entre 40% e 70% até 2050.

Com o crescimento das emissões de carros SUV prejudicando a diminuição das emissões de carbono no setor de transporte, pode ser uma questão de tempo até que o CCC e outros consultores do governo recomendem restrições mais rígidas à publicidade de alto carbono.

A piora constante das mudanças climáticas destaca uma tensão para as políticas de publicidade de cidades e vilas.

Eles deveriam promover as mesmas empresas que estão minando a segurança pública, a segurança de suas cidades e destruindo espaços públicos por meio de inundações, incêndios e eventos climáticos extremos?

Algumas cidades já responderam a essa pergunta com um enfático “não”. Essas proibições são mais do que gestos políticos.

À medida que os desastres climáticos se intensificam e o fardo financeiro sobre as cidades aumenta, a questão não é mais se a publicidade de alto carbono deve ser restringida.

A dúvida é como fazer essas políticas podem ser expandidas rapidamente para enfrentar a intensificação da crise.

Este artigo foi publicado originalmente no portal acadêmico The Conversation e é republicado aqui sob licença Creative Commons.