A agência americana de checagem de dados First Draft emitiu um alerta ontem (23/4) sobre uma onda de desinformação que começou nos Estados Unidos (EUA) há dois dias a respeito da vacina contra a Covid-19 para jovens e crianças. As publicações distorcem o conteúdo de comunicados publicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), enganosamente apresentados como se fossem novas orientações. 

Em uma postagem em seu site no dia 8 de abril, a OMS havia afirmado que “várias vacinas Covid-19 são seguras e eficazes para a maioria das pessoas com mais de 18 anos” e que as crianças “não devem ser vacinadas no momento”, mas sem alusão a riscos, e sim à prioridade para pessoas mais vulneráveis. 

Em 11 de junho, a agência publicou outro comunicado afirmando que vacinar crianças não era prioridade e que, quando o estoque da vacina for limitado, outros grupos deveriam estar em primeiro lugar, mas igualmente não fazia alusão a riscos para a saúde, como destacou o cientista-chefe da OMS, Dr. Soumya Swaminathan.

“Portanto, a razão pela qual hoje, em junho de 2021, a OMS está dizendo que vacinar crianças não é uma prioridade é porque as crianças, embora possam ser infectadas com Covid-19 e possam transmitir a infecção a outras pessoas, correm um risco muito menor de contrair doença grave em comparação com adultos mais velhos.”

No entanto, no dia 22 de junho a First Draft detectou em seu monitoramento das redes sociais um volume expressivo de postagens com base no comunicado da OMS de 8 de abril. O tópico dominou as pesquisas no Google relacionadas a vacinas no país, de acordo com dados do Google Trends.

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A agência destacou que entre os que compartilham a desinformação estavam o ativista antivacinas Robert F. Kennedy Jr., sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy. Ele fez uma postagem com link para uma reportagem no blog da Children’s Health Defense, um grupo que ele fundou e que promove informações falsas sobre vacinas.

A maioria das postagens na conta de Kennedy Jr. tem origem em posts do blog. No comentário, ele afirmou que seria uma “orientação atualizada” da OMS, sugerindo uma novidade. E não destacou a referência da OMS à prioridade para mais vulneráveis, e não a riscos.  

Depois da onda, a OMS voltou a atualizar as orientações para refletir que “crianças e adolescentes tendem a ter doença mais branda em comparação com adultos, portanto, a menos que façam parte de um grupo com maior risco de Covid-19, é menos urgente vaciná-los”.

A agência diz ainda que “mais evidências são necessárias para fazer recomendações gerais sobre a vacinação de crianças”, mas afirma que o Grupo de Especialistas Consultivos Estratégicos da OMS concluiu que a vacina Pfizer “é adequada para pessoas com 12 anos ou mais”.

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O blog The Defense fez então uma mensagem no alto da matéria original, registrando a atualização da OMS:

Depois que este artigo foi publicado no The Defender em 22 de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) editou suas últimas orientações sobre quem deve tomar a vacina COVID, removendo a frase: “Crianças não devem ser vacinadas no momento”, e em vez disso dizendo que um painel de especialistas considerou a vacina “adequada para uso” por crianças com mais de 12 anos. Aqui está uma comparação lado a lado da página do site da OMS como era antes de ser atualizada e como está agora. 

Apesar da atualização, o blog manteve o artigo original, com o mesmo título: “OMS: crianças não devem ser vacinadas no momento”. E o post original continua sendo compartilhado nas redes sociais. 

A First Draft observou que não é a primeira vez que isso acontece, lembrando que em agosto de 2020, pessoas que propagam desinformação alegaram falsamente que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos “atualizaram discretamente” dados sobre mortes relacionadas à Covid-19, quando na verdade os dados já estavam disponíveis publicamente há meses.

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Segundo a agência estatal Office for National Statistics(ONS), 6% da população não quer se imunizar. No entanto, a taxa mais do que dobra entre os jovens entre 16 a 29 anos, chegando a 13%. É a proporção mais alta dentre todas as faixas etárias pesquisadas. 

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