Londres – Nos últimos dias, imagens falsas de Donald Trump sendo preso em Nova York foram vistas por mais de cinco milhões de usuários do Twitter – só que o objetivo não era enganar, e sim denunciar o risco de fotos e vídeos “deepfake”.

O autor das cenas foi o jornalista britânico Eliot Higgins, um dos fundadores do premiado site de jornalismo investigativo Bellingcat. 

As cenas de Trump foram postadas no dia em que supostamente o ex-presidente seria preso em Nova York. Há dias ele vinha conclamando seus apoiadores a se unirem para evitar sua detenção, que ainda não aconteceu.

Em sua primeira postagem, em 20 de março, Higgins informa claramente que se trata de uma cena falsa. 

“Fazendo imagens de Trump sendo preso enquanto aguardamos a prisão de Trump”. 

Ele utilizou o sistema gerador de texto para imagem AI Midjourney. Mas seu post original foi visto mais de cinco milhões de vezes, com riscos de confundir pessoas menos atentas. 

https://twitter.com/EliotHiggins/status/1637927681734987777?s=20

https://twitter.com/EliotHiggins/status/1637930259193663488?s=20

Também foram criadas imagens falsas de Trump já preso, com uniforme de presidiário, algumas nitidamente fabricadas observando-se os detalhes, mas capazes de confundir à primeira vista, ou de serem usadas por apoiadores de Trump em mensagens de apoio a ele. 

As cenas foram destaque em vários jornais e TVs internacionais, sempre sinalizando a falsificação intencional. 

https://twitter.com/EliotHiggins/status/1638164357304467462?s=20

Em entrevista ao jornal Washington Post, Higgins disse que não esperava que as imagens deepfake tivessem tanto impacto.

“Pensei que talvez cinco pessoas fossem retuitar”, disse ele, acrescentando que estava fazendo uma brincadeira. 

À Associated Press, Elliot Higgins apontou falhas na sua produção, como a de que a primeira imagem mostra Trump com três pernas e um cinto de polícia. 

Mas salientou que “isso parece não ter impedido algumas pessoas de achar que são genuínas, o que destaca a falta de habilidades de pensamento crítico em nosso sistema.”

Ele chegou a simular imagens mostrando o filho de Trump protestando contra a prisão e da mulher do ex-presidente, Melania, gritando com policiais. 

Foto falsa (Elliot Higgins via Twitter)
foto falsa (Elliot Higgins via Twitter)

Quem não achou graça da brincadeira foi a Midjourney. No dia seguinte à postagem dos vídeos, Higgins foi expulso da plataforma, como ele próprio anunciou. 

https://twitter.com/EliotHiggins/status/1638470303310389248?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1638470303310389248%7Ctwgr%5E23d8909db1551cd23836bae2739be242fc9504ab%7Ctwcon%5Es1_c10&ref_url=https%3A%2F%2Fwegotthiscovered.com%2Fsocial-media%2Feliot-higgins-banned-from-ai-program-midjourney-for-viral-trump-deepfake-images%2F

Nesta quina-feira (23), Higgins retuitou uma imagem de Donald Trump rezando, postada pelo ex-presidente em sua própria rede social, a Truth Social, e produzida pela mesma plataforma Midjourney, questionando se ele também seria banido. 

 

Trump não foi preso

No sábado, Trump, disse achar que seria preso na terça-feira desta semana, como desdobramento do processo que investiga a acusação de suborno pago à ex-atriz pornô Stormy Daniels antes das eleições presidenciais de 2016. Ela afirma que foi paga para ficar em silêncio sobre um breve caso que teve com ele.

A Corte ainda não deu o veredito, e o promotor que investiga o caso, Alvin Bragg, não deu declarações que justificassem o alerta feito por Trump a seus seguidores. Mas desde que o processo foi aberto, o presidente arrecadou mais alguns milhões de dólares para sua campanha à presidência. 

Imagens deepfake começaram a ser produzidas para vídeos pornográficos, e acabaram se tornando uma arma de propaganda política.

 O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é um dos que já teve sua imagem falsificada, em um video deepfake em que anuncia uma suposta rendição à Rússia.