Londres – Ainda inconformado por ter sido obrigado a deixar para trás 89 milhões de seguidores no Twitter e outros tantos nas demais plataformas, Donald Trump voltou a atacar a “tirania das redes sociais” ao anunciar que sua nova empresa de mídia social levantou uma bolada de US$ 1,25 bilhão junto a investidores e está pronta para rivalizar com as gigantes de tecnologia. 

A notícia sobre os recursos para a Truth Social foi anunciada em um comunicado distribuído pela TMTG (Trump Media & Technology Group), empresa criada por Trump em associação com a Digital World Acquisition Corp. para conduzir a empreitada, que envolve até canais de streaming de vídeo.

Sediada em Miami, a DWAC é uma SPAC (empresa de aquisição de propósito específico, especializada em ajudar companhias a lançarem ações em bolsas de valores), e tem como diretor financeiro o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança, que se apresenta como herdeiro do trono do imperador Pedro II. No entanto, o único membro da equipe citado no site é Patrick Orlando, Chairman e CEO.

Truth Social atrasada 

Apesar da injeção de recursos anunciada por Trump, a Truth Social anda atrasada em seus planos. O lançamento de uma versão beta, para convidados e inscritos, prometido para novembro, não se concretizou. 

O site da Truth Social convida interessados a se inscreverem na “lista de espera”, mas não faz referência a quantos potenciais usuários já teriam manifestado interesse, e nem há qualquer outro detalhe sobre a plataforma. 

Os problemas tinham começado nos dia seguinte ao lançamento. A Truth Social foi hackeada por um membro do grupo Anonymus, que invadiu a versão beta (de testes), criou um perfil do próprio Trump e postou a foto de um porco defecando. 

No site do TMTG, a tela de abertura exibe uma bandeira americana em uma paisagem rural e o sol nascendo ao fundo, cenário interiorano associado a uma parcela importante do público conservador, que vive fora dos grandes centros urbanos americanos. 

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Mensagem para as Big Techs 

Os investidores responsáveis por contratos de subscrição de US$ 1 bilhão não tiveram a identidade revelada pelo ex-presidente. E o comunicado segue a linha das manifestações exaltadas de Trump, tom pouco comum em notícias financeiras. 

No segundo parágrafo do texto, o ex-presidente afirma: 

US$ 1 bilhão envia uma mensagem importante às Big Techs, de que a censura e a discriminação política devem acabar.

A América está pronta para a TRUTH Social, uma plataforma que não discriminará com base na ideologia política. À medida que nosso balanço patrimonial se expande, a TMTG estará em uma posição mais forte para lutar contra a tirania da Big Techs”

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Patrick Orlando, falando em nome da Digital World Acquisition Corp., foi mais contido e procurou transmitir garantias a potenciais acionistas”:

“Nosso foco em fornecer valor ao acionista impulsiona nossa tomada de decisão e, ao aceitar esses compromissos para uma injeção estratégica de capital de crescimento, acreditamos que a empresa combinada pode crescer em um base incrivelmente forte. 

A liquidez que será fornecida ao balanço patrimonial da empresa combinada, superior a até US$ 293 milhões (menos despesas) que a DWAC pode proporcionar, deve fortalecer o posicionamento estratégico da TMTG.

Estou confiante de que TMTG pode efetivamente implantar este capital para acelerar e fortalecer a execução de seus negócios, incluindo continuar a atrair os melhores talentos, contratar os melhores fornecedores de tecnologia e lançar campanhas significativas de publicidade e desenvolvimento de negócios.”

Segundo o comunicado, a transação proporcionará receitas estimadas de aproximadamente US$ 1,25 bilhão (após dedução das despesas estimadas do negócio), assumindo a entrega total do valor em dinheiro mantido em custódia pela DWAC, a ser usado para financiar as operações da entidade combinada, a TMTG. 

A rede social de Trump

Desde que foi expulso das principais plataformas digitais, em janeiro, após a invasão do Capitólio por seus seguidores, Donald Trump e seus assessores sinalizaram a intenção de criar uma rede social para continuar dialogando com apoiadores livremente, com baixo grau de moderação.

O ex-presidente chegou a ensaiar um blog em seu site, com conteúdo em forma de postagens em redes sociais e expectativa de que fosse compartilhado por seguidores. Um mês depois encerrou a experiência frustrada.

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No dia 20 de outubro, a Digital World Acquisition Corp (DWAC) anunciou uma fusão com o Trump Media & Technology Group, avaliado em U$$ 875  milhões.

A empresa viu suas ações valorizarem 400%, chegando a serem vendidas a US$ 175, mas o crescimento não se sustentou, com o valor caindo para pouco mais de US$ 40. 

Ao revelar o empreendimento em outubro, Trump disse: “Vivemos em um mundo onde o Talibã tem uma grande presença no Twitter, mas seu presidente americano favorito foi silenciado. Isso é inaceitável.”

Imagem: divulgação

As especulações sobre se Trump concorrerá na campanha eleitoral de 2024 continuam, e a rede social própria é um instrumento vital para influenciar seguidores e fazer com que sua mensagem chegue a um público ampliado por meio de compartilhamento nas plataformas tradicionais. 

Analistas acompanham os planos com atenção, e alguns levantam dúvidas sobre a solidez tecnológica da rede social de Trump. Ela foi colocada à prova logo no lançamento e não passou no primeiro teste. 

Imprensa continua no alvo de Trump 

A irritação de Donald Trump não é apenas com as empresas de mídia social. Ele continua vociferando contra a imprensa tradicional, como fazia enquanto era presidente. 

O jornal britânico The Guardian publicou nesta segunda-feira (6/12)  uma reportagem sobre um vídeo em que o ex-presidente fala a convidados em seu resort na Flórida. A gravação foi feita pelo blogueiro e ativista de direita Jack Posobiec. 

O encontro, realizado no sábado (4/12) reunia integrantes do  Turning Point USA, um grupo de jovens conservadores. Ele disse: 

“Não temos imprensa. A imprensa é tão corrupta! Não temos uma organização de mídia.

Se há uma boa história sobre nós, uma boa história sobre qualquer um dos republicanos, conservadores, eles fazem disso uma matéria ruim. E se for uma história ruim, eles fazem dela a pior matéria da história. É o grupo de pessoas mais desonesto.”

No discurso, recheado de palavrões, ele também atacou o general Mark Milley, o presidente da junta de chefes de Estado Maior, narrando passagens em que ele teria discordado do aconselhamento a respeito da ocupação do Afeganistão. 

Milley foi um dos entrevistados pelos jornalistas Bob Woodward e Robert Acosta para o livro Peril, que narra os últimos dias de Trump na presidência. Ele contou que se ofereceu para avisar seu homólogo chinês se Donald Trump ordenasse um ataque nas últimas semanas caóticas de seu mandato. 

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