Londres – No início da crise do coronavírus, no ano passado, uma pesquisa da agência Edelman em 11 países (Brasil não incluído) divulgada em maio apontou que a confiança do público nos quatro setores que vêm sendo pesquisados há 20 anos pelo Edelman Trust Barometer havia atingido os recordes históricos.
Mas a edição 2021, que acaba de ser publicada, mostra que o resultado era uma bolha, cujo estouro, embora tenha feito os índices dos quatro setores caírem nos últimos seis meses, foi desastroso para os governos, que sofreram as maiores perdas no período, e péssimo para a mídia e para as ONGs, que perderam mais do que tinham ganhado na fase inicial.
O setor empresarial foi o que menos perdeu nos últimos seis meses e teve ótimas notícias: além de reassumir a liderança como o mais confiável, que havia perdido para os governos, foi o único considerado competente e ético pelas mais de 33 mil pessoas em 27 países entrevistadas em outubro e novembro de 2020.
Efeito residual ao fim de doze meses foi positivo para empresas e governos
No retrato divulgado em maio, tomando por base 11 países, as urgências médicas, econômicas e sociais tinham feito a confiança nos governos subir 11 pontos em poucos meses, chegando a 65 numa escala até 100. Pela primeira vez em 20 anos, os governos foram vistos como o setor mais confiável. Considerando-se a queda de 8 pontos nos últimos seis meses, o resultado manteve-se positivo (+3) ao final de um ano, assim como o do setor empresarial (+1).
Com a queda de 6 pontos que apresentaram nos últimos seis meses, tanto as ONGs (-2) como a mídia (-1) retrocederam em relação a janeiro de 2020 no ranking dos 11 países comparáveis.
No retrato de 27 países, resultado da mídia melhora
Quando se observa o retrato de janeiro deste ano em 27 países (Brasil incluído), o efeito bolha do meio da pandemia não é captado. As posições permaneceram inalteradas em relação a janeiro passado, com o setor empresarial mantendo-se na liderança e as ONGs sem terem perdido a segunda posição. Os governos aparecem em terceiro e a mídia em último.
Assim como no ranking dos 11 países comparáveis, ao fim de um ano os índices do setor empresarial (+2) e dos governos (+3) avançaram. A confiança nas ONGs também retrocedeu (-1), mas a diferença é que a confiança na mídia avançou 2 pontos.
Setor empresarial foi o único considerado ético e competente
A pesquisa com os dados dos 27 países mostra que o setor empresarial foi o único visto como competente e ético, aparecendo como líder em competência e o segundo mais ético. A liderança em ética permanece com as ONGs, que no entanto tiveram resultado negativo em competência.
A mídia aparece com resultados negativos em ética (embora tenha melhorado) e em competência. As piores avaliações nos dois atributos foram as dos governos.
Confiança no empregador turbinou os resultados do setor empresarial
A confiança dos funcionários em seus empregadores foi um dos pilares da performance das corporações. Em 18 dos 27 países pesquisados a confiança no próprio empregador subiu ou permaneceu estável.
No Brasil o índice diminuiu um ponto, mas ainda assim o país apresentou o oitavo maior índice dos países analisados, com 79 pontos, acima da média global de 76.
Confiança no CEO da empresa só não foi maior do que nos cientistas
Entre os líderes mais confiáveis na amostra global, os CEOs assumem o segundo lugar (63), atrás apenas dos cientistas (73).Os líderes sociais tradicionais caíram ao longo do período analisado. O pior índice foi o dos líderes governamentais, com 41 pontos.
Demanda para que empresas atuem para suprir falhas de governos
Os maiores níveis de confiança do setor, associados ao declínio da confiança no governo, faz aumentar as expectativas quanto à atuação dos CEOs: 86% dos respondentes acham que eles devem se posicionar sobre desafios sociais e 68% esperam que se envolvam quando governos não resolverem os problemas.
Notícias do empregador mais confiáveis do que notícias da imprensa
Adicionalmente, o declínio da confiança nas notícias veiculadas pela imprensa, que na nova pesquisa atingiu seu mais baixo índice na série histórica, também faz com que mais da metade dos respondentes (53%) acredite que quando a imprensa não cumpre o papel de informar cabe às corporações preencher o vácuo.
As informações recebidas da empresa foram vistas como as mais confiáveis por 61% dos entrevistados, à frente dos comunicados dos governos (58%) e de reportagens com fontes identificadas (57%). As mídias sociais lideram em desconfiança: um em cada quatro dos respondentes (24%) disse não acreditar em informações recebidas somente por elas.
Boa comunicação interna é a segunda maior expectativa com relação às corporações
Uma boa comunicação interna emergiu como a segunda maior expectativa relatada por eles, atrás apenas da garantia de manter os funcionários seguros.
Acesso a informações de qualidade é principal fator para confiança na empresa
Nem práticas sustentáveis e nem a adoção de medidas de saúde e segurança contra a Covid-19. O fator considerado primordial para a geração de confiança no setor empresarial foi o fornecimento de informações de qualidade.
Maior empoderamento para exigir mudanças
Por outro lado, seis em cada dez dos funcionários (62%) disseram acreditar que têm o poder de forçar suas corporaçoes a mudar. A crise fez com que 50% dos respodentes tenham se mostrado mais propensos do que há um ano a se manifestarem contra atos da gerência dos quais discordem ou a se engajarem em manifestações no trabalho.
As tendências apresentadas pela pesquisa aumentam os desafios, as responsabilidades e a importância cada vez mais estratégica das áreas de comunicação corporativa no novo normal que emerge da pandemia.