Nas comemorações pelo Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (em 3/5), a organização britânica Article 19 fez um chamado para a importância da educação midiática. A entidade afirma que o conhecimento sobre as diferentes formas de mídia está diretamente relacionado à confiança do público na imprensa.
E lembra que embora o ceticismo e a hostilidade em relação aos meios de comunicação não sejam novidade, a desinformação virou um risco ainda maior para a liberdade de expressão.
Para a Article 19, o entendimento sobre o que é de fato uma notícia falsa é fundamental para neutralizar o efeito dos que se utilizam do argumento de fake news para bloquear informações:
“Políticos, ativistas políticos, empresas (incluindo empresas de mídia) e governos podem usar a justificativa da desinformação para moldar a opinião pública, controlar o poder e ganhar dinheiro.
Todos, incluindo os defensores da liberdade de expressão, reconhecem que combater a desinformação é necessário. Mas a forma como se define o que é desinformação é crucial.”
Sob essa ótica, segundo a organização, a educação midiática colabora com a liberdade de expressão ao ajudar o público a compreender os meios de comunicação e como eles influenciam as suas vidas.
A falta de conhecimento da sociedade sobre o processo de produção e edição de notícias tem sido confirmada por pesquisas diversas. A mais recente delas, do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo da Universidade de Oxford, divugulgada em abril de 2021, apontou o baixo entendimento como uma das razões para a falta de confiança no jornalismo.
A entidade chama a atenção também para a importância de a mídia representar toda a sociedade, refletindo a realidade de mulheres, pessoas LGBTQI, minorias raciais, sociais e religiosas.
“Essas pessoas não formam a maioria da sociedade, mas suas vozes devem ser ouvidas.”
Pierre François Docquir, Chefe de Liberdade de Imprensa da Article 19, defende que a educação midiática é mais eficiente para lidar com a desinformação do que a adoção de mecanismos legais para combater fake news.
“A desinformação em si e o debate excessivo sobre a desinformação abalam a confiança do público na informação, ameaçando a democracia. Mas lidar com o problema por meio da leis pode colocar em risco a liberdade de expressão.
A educação midiática, por outro lado, leva ao empoderamento dos indivíduos, aumentando sua capacidade de receber criticamente o conteúdo de diferentes mídias e do jornalismo, capacitando-os a agir como cidadãos informados e fazer escolhas bem fundamentadas em relação a todos os aspectos da vida em sociedade. ”
A entidade destacou o agravamento da desinformação durante a crise de saúde pública:
A pandemia revelou muito sobre as sociedades e os governos no último ano. E deu lembretes cruéis sobre como as informações podem ser “gerenciadas” e muitas vezes distorcidas.
A Article 19 citou Brasil, Estados Unidos, Irã, México e Quênia como exemplos de países em que os governos se recusaram a reconhecer a extensão do problema e as ameaças que são enfrentadas pelos cidadãos. Destacou também a Índia, onde existem segundo a organização dúvidas sobre os números reais da doença.
O poder do protesto
Para a Article 19, a educação midiática também contribui para que os cidadãos se engajem em protestos para defender suas ideias e pontos de vista. Mas nem sempre isso é seguro, sobretudo para as mulheres.
Um relatório publicado pelo escritório regional da Article 19 no Brasil diagnosticou a ausência de medidas para protegê-las durante e depois de manifestações.
O guia Garota, você chegou em casa com segurança? foi elaborado a partir da experiência de mulheres que participam regularmente de protestos na Argentina, Brasil e Chile, identificando os riscos enfrentados e como superá-los. O nome da publicação remete à prática de confirmar se uma amiga sofreu alguma violência na volta para casa depois de um protesto.
Para a Article 19, a segurança e a educação midiática são deveres do Estado:
“A insegurança em protestos é mais um exemplo de como os governos falham em sua responsabilidade de proteger os direitos dos cidadãos. E devemos incentivá-los a serem claros e transparentes sobre as maneiras como estão fortalecendo o direito de saber, cobrando sua responsabilidade sobre a educação midiática”.