Está provado que tudo é relativo, até mesmo a desinformação. Depois que o presidente Biden deu 90 dias na quarta-feira (26) para que as agências de inteligência esclareçam se a Covid-19 teve origem natural ou foi vazada de um laboratório de Wuhan, o Facebook anunciou ontem que reverteu sua política e não mais banirá posts que defendam a teoria da origem humana.
O Wall Street Journal, que vem defendendo há tempos uma investigação mais aprofundada da hipótese e publicou no fim de semana uma matéria que pode ter precipitado a decisão do presidente noticiou assim as decisões de Biden e do Facebook:
“O presidente Biden pediu um relatório da inteligência dos EUA sobre as origens da Covid, já que persiste a suspeita sobre um possível acidente de laboratório.”
“O Facebook parou de remover posts que dizem que a Covid-19 foi criada por humanos. A reversão reflete um o aprofundamento do debate sobre as origens da pandemia.”
Após o anúncio das duas decisões, o Wall Street Journal publicou um editorial sobre o tema, no qual critica a demora para se apurar a suspeita:
“A represa finalmente estourou com a evidência de que o coronavírus pode ter escapado do Instituto de Virologia de Wuhan. Pena que tenha demorado tanto tempo, pois os fatos suspeitos estavam à mostra desde o início.”
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Decisão do Facebook também vale para o Instagram
A decisão vale para todas as plataformas do Facebook, incluindo o Instagram, e muda completamente a medida anunciada em 8 de fevereiro, de que passaria a banir daquela data em diante todos os posts que afirmassem que a Covid-19 tinha sido originada ou fabricada por ação humana. Esse foi o anúncio da empresa:
“Devido às investigações atuais sobre as origens da Covid-19 e em consulta com especialistas da saúde, não eliminaremos mais das nossas plataformas as afirmações de que a Covid-19 foi feita por humanos, ou fabricada.”
Com a reversão da política, o que era visto no Facebook ou no Instagram até ontem como teoria da conspiração, passa a ser considerado uma argumentação válida. Mas isso não se restringe ao mundo das mídias sociais, como enfatizou o Wall Street na terça-feira (25), antes mesmo de o Facebook anunciar sua decisão:
“Ano passado, 27 cientistas condenaram teorias da conspiração que sugeriam que a Covid não tinha uma origem natural. Agora alguns apoiam a investigação mais completa de um laboraratorio chinês.”
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Cientistas pedem na revista Science que hipótese do laboratório seja levada a sério
No início deste mês, um grupo de 18 proeminentes cientistas publicaram uma carta-aberta na prestigiosa revista científica Science criticando as conclusões do relatório divulgado pela OMS em março. A equipe da OMS que visitou a China em fevereiro não apresentou uma prova definitiva sobre a origem da doença, mas concluiu que provavelmente teve origem natural.
O The Wall Street enfatizou o alerta dos cientistas:
“Cientistas importantes, antes céticos quanto à hipótese de que a Covid vazou de um laboratório de Wuhan, estão pedindo uma investigação mais produnda: “O objetivo de tudo isso é seguir a ciência”.
Na carta-aberta, os cientistas pedem uma nova investigação internacional mais aprofundada, argumentando que a missão da OMS não teve permissão para investigar adequadamente as diversas possibilidades. Os cientistas dizem que a equipe da OMS optou pela origem animal como o cenário mais provável e dedicou apenas quatro das 313 páginas do relatório à possibilidade de um acidente de laboratório. Eles escreveram:
“Devemos levar a sério as hipóteses da origem da natureza e do laboratório até que tenhamos dados suficientes.”
Entre os que assinam a carta estão nomes como Jesse Bloom, biólogo computacional do Fred Hutchinson Cancer Research Center em Seattle; Ralph Baric, um pesquisador de coronavírus que colaborou com cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan; e David Relman, microbiologista e imunologista da Stanford University School of Medicine.
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Repórter do Wall Street Journal visitou mina de morcegos e foi detido pela polícia chinesa
Embora admitindo que até o momento não seja a hipótese predominante para a origem da Covid, o Wall Street Journal publicou no último fim de semana uma matéria que dá mais força para a teoria do vazamento do vírus pelo laboratório.
Com o título “A Questão do Vazamento do laboratório de Wuhan: uma mina chinesa desativada vira o centro do debate”, a matéria narra a visita do repórter a uma de cobre desativada nas profundezas das montanhas do sudoeste da China. Os principais destaques foram publicados na conta do Twitter do jornal.
“Em 2012, seis mineiros adoeceram com uma doença misteriosa e três deles morreram após entrarem em uma mina nas profundezas das montanhas do sudoeste da China – o lar subterrâneo do vírus conhecido mais próximo daquele que causa a Covid-19.”
O repórter conta que o caso viria a ser investigado pelos pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan, justamente de onde se suspeita que teria vazado o vírus que originou a atual pandemia,
“Cientistas chineses do Institudo de Virologia de Wuhan foram chamados para investigar o caso e, depois de obter amostras dos morcegos na mina, identificaram uma série de novos coronavírus.”
Porém, a matéria conta que alguns dos pesquisadores teriam adoecido depois de colher amostras dos morcegos na mina.
“Três pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan adoeceram em novembro de 2019 a ponto de necessitarem atendimento hospitalar, revela um relatório de inteligência dos Estados Unidos que poderia contribuir para uma investigação mais completa sobre se o vírus da Covid-19 poder ter escapado do laboratório.”
O jornal diz que desde então as perguntas não respondidas sobre a doença dos mineiros, o que houve com os pesquisadores que adoeceram, quais os vírus encontrados no local e qual o resultado das pesquisas feitas com eles elevaram a hipótese antes descartada como uma teoria da conspiração a uma suspeita plausível que merece uma investigação mais aprofundada.
Mas em vez de obter respostas, foi o autor da matéria que teve que responder às perguntas. Após visitar a mina desativada, ele foi detido pela polícia chinesa e submetido a um exaustivo interrogatório que durou várias horas antes de ser liberado.
Nesta sexta-feira (28), o jornal continua a pressionar por urgência para a investigação do caso:
“Pesquisadores de uma equipe liderada pela OMS que investiga a origem da Covid-19 dizem que o tempo está se esgotando para examinar amostras de sangue e outras pistas importantes na China.”
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