Quase quatro semanas após ataques racistas de torcedores contra três jogadores ingleses na final da Euro 2020, a polícia britânica prendeu 11 pessoas acusadas de envolvimento no episódio que mobilizou autoridades, celebridades e a monarquia no Reino Unido. A operação ocorreu nesta quinta-feira (5/8).

Na dia 11 de julho, a Itália venceu a Inglaterra nos pênaltis, e torcedores ingleses protagonizaram cenas de horror nas ruas e nas redes sociais, com atos de vandalismo e mensagens virtuais de cunho racista contra três jogadores ingleses que perderam pênaltis na partida: Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka.

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O caso teve repercussão mundial e colocou mais uma vez em questão a capacidade de as plataformas digitais coibirem os abusos e não apenas lamentar quando eles ocorrem. Após a mobilização nacional,  Facebook e Twitter estiveram com o primeiro-ministro, Boris Johnson , e posteriormente entregaram dados de perfis ligados aos insultos contra os atletas.

As mensagens comparavam os jogadores a macacos e os insultavam com os termos mais agressivos na língua inglesa, como “nigger”, uma das formas mais ofensivas de atacar uma pessoa negra. 

Ainda na quinta-feira, a PFA, associação que representa as principais ligas inglesas, divulgou um estudo mostrando que casos de abuso online vêm aumentando, apesar dos esforços públicos para combatê-los. O trabalho foi feito usando inteligência artificial para identificar a origem e natureza dos abusos. A entidade atacou duramente as plataformas, questionando o argumento de que não há recursos tecnológicos capazes de encontrar os que praticam abusos. 

Idade dos presos vai de 18 a 63 anos

“Existem pessoas por aí que acreditam que podem se esconder atrás de um perfil de mídia social e escapar impunes de postar comentários tão abomináveis. Eles precisam pensar novamente”, disse, em nota, o chefe de polícia Mark Roberts, titular da Unidade de Futebol da Polícia do Reino Unido.

O nome dos presos, com idades entre 18 a 63 anos, não foi revelado. Eles prestaram depoimento e vão aguardar o desdobramento das investigações em liberdade, segundo a polícia inglesa. 

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No decorrer do caso, o Instagram foi alvo de críticas publicas por manter os ataques online, mesmo após receber avisos de conteúdo impróprio. O diretor geral da rede social foi a público afirmar que a empresa cometeu um erro de moderação.

Os detalhes de quem está fora do Reino Unido foram repassados ​​aos respectivos países de origem. A polícia afirma aguardar informações sobre cerca de outros 50 usuários de redes sociais envolvidos no caso.

Painel em homenagem ao jogador Marcus Rashford, da seleção inglesa. (Reprodução/Twitter)
Federação inglesa e príncipe William condenaram o episódio de racismo

Os ataques aos três jogadores negros provocaram grande repercussão nas redes sociais, com uma contraofensiva em defesa dos atletas e condenando a atitude dos torcedores radicais.

Muitos lembraram a campanha de Rashford pelas crianças, que valeu a comenda MBE (condecoração da Ordem do Império Britanico), terceira mais importante honraria dada pela rainha. O jovem jogador de 21 anos virou ídolo nacional ao pressionar o Governo a prover alimentos para os estudantes durante o lockdown.

Logo após os ataques, a Federação Inglesa de Futebol (FA) cobrou das empresas de mídia digital responsabilidade e ação para banir os abusadores das redes, a entrega de evidências que possam ajudar a condená-los e manutenção das plataformas livres de “abuso abominável”, e pediu ao Governo celeridade na adoção da nova lei de abuso online que está em tramitação. 

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O primeiro-ministro Boris Johnson tuitou reprovando a atitude dos torcedores e dizendo que deveriam ter vergonha de si mesmos. No entanto, foi criticado nas redes sociais por ter se manifestado anteriormente contra a prática dos jogadores de se ajoelharem no início dos jogos para sinalizar a condenação do racismo na sociedade.

O jogador Buyako Saka, da seleção inglesa. (Reprodução/Instagram)

O príncipe William se manifestou pessoalmente na sua conta de Twitter:

“Estou nauseado com o abuso racista dirigido aos jogadores da Inglaterra após a partida de ontem à noite [referindo-se à final da Euro]. É totalmente inaceitável que os jogadores tenham que suportar esse comportamento repulsivo.”

Durante a Eurocopa, os jogadores da Inglaterra estiveram entre os que se ajoelharam no início da partida em sinal de protesto contra o racismo, o que nem todos os times fizeram. O brasileiro Jorginho, que joga pela seleção italiana, virou alvo de polêmica por se ajoelhar nas partidas de seu time, o Chelsea, mas não ter feito o mesmo nas primeiras partidas disputadas pela Itália no torneio. 

O problema do racismo online contra atletas é recorrente na Europa. Em abril, o Reino Unido foi palco de um boicote às redes sociais que durou quatro dias. Clubes e atletas não postaram nada para denunciar a falta de ação das plataformas digitais.

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