Os problemas de imagem da família real britânica causados pelas revelações de que o assessor mais próximo do príncipe Charles teria comandado ajudado um magnata saudita a conseguir uma condecoração real e a cidadania em troca de doações para obras sociais não terminaram com a declaração de que o herdeiro do trono apoia as investigações, feita três dias depois de as notícias serem publicadas pela imprensa.
Nesta segunda-feira (6/9), o grupo anti-monarquista Republic denunciou Charles e Michael Fawcett, seu braço-direto há anos, à Scotland Yard, a polícia metropolitana de Londres.
Graham Smith, executivo-chefe da organização que faz campanha para que o Reino Unido se torne uma república, passando a ter um governante eleito, disse que “a falha em investigar adequadamente essas questões prejudicará a confiança do público na polícia, na realeza e no sistema de condecorações”.
“Rasputin”
Michael Fawcett, um poderoso assessor que chega a ser chamado de “Rasputin” pela sua influência sobre Charles, foi obrigado a renunciar na noite de sábado (4/9) ao cargo de executivo-chefe da Prince’s Foundation, organização que concentra todas as atividades beneficentes do futuro rei da Inglaterra.
O motivo foi a denúncia de que teria negociado com representantes do magnata saudita Mahfouz Marei Mubarak bin Mahfouz para que ele recebesse a comenda CBE (Commander of the Order of the British Empire, ou Ordem do Império Britânico), mais alta honraria concedida pela coroa britânica, em retribuição a generosas doações a projetos de interesse da fundação do príncipe.
O jornal The Times, que revelou a história, disse que Charles concedeu o título ao empresário em uma cerimônia privada no Palácio de Buckingham, em novembro de 2016. O jornal afirmou que evento não foi publicado na Court Circular, a lista oficial de compromissos reais.
Violação da Lei de Honras
Gordon Smith disse que entrou em contato com a Polícia Metropolitana e denunciou Charles e Fawcett sob suspeita de violação da Lei de Honras (Prevenção de Abusos) de 1925.
Ele criticou a resposta da família real à crise:
“Mais uma vez, os membros da realeza culpam seus funcionários ou associados por seus próprios erros.
“É difícil acreditar que Charles não estava ciente desses arranjos ou promessas. É hora de a realeza ser pessoalmente desafiada por sua conduta.”
O ex-membro do parlamento do partido Liberal Democrata, Norman Baker, também formalizou na polícia um pedido à chefe da força, Cressida Dick, para que iniciasse uma investigação criminal.
Baker, autor de um livro sobre as finanças da família real, disse acreditar que há evidências claras de que um um crime foi cometido sob a Lei de Honras (Prevenção de Abusos) de 1925 e que “precisa ser investigado”.
Ele pediu a Charles que fizesse uma declaração, dizendo que o príncipe deve confessar e aceitar a responsabilidade”.
“A história dele e de Michael Fawcett é que quando as coisas se complicam, Charles vai para o segundo plano e finge que não o conhece, até que o problema passe, trazendo-o então de volta.”
Michael Fawcett já havia sido afastado de funções reais por irregularidades, e foi readmitido como diretor da Prince’s Foundation, que coordena as atividades beneficentes do príncipe Charles.
Nas redes sociais da Clarence House, canal oficial do príncipe e de sua mulher, Camila Parker Bowles, nehuma menção foi feita ao caso. As únicas postagens são sobre atividades sociais da duquesa da Cornualha nos últimos dias.
Um porta-voz da Scotland Yard disse: “Estamos cientes dos relatos da mídia e aguardamos novos contatos em relação a este assunto”.
Entenda o caso
Monarquia perde força entre jovens
A pressão contra a monarquia não vem apenas de grupos organizados como o Republic. Eepisódios como o que se abateu sobre o príncipe Charles podem agravar a percepção dos que são contrários ao atual sistema.
Apesar da admiração dos britânicos pela rainha Elizabeth, que segundo o instituto de pesquisas YouGov tem 80% de aprovação dos súditos, as gerações mais novas questionam a existência da monarquia.
O mesmo instituto afirma que as atitudes dos jovens em relação à monarquia mudaram substancialmente desde 2019. Um estudo apresentado em maio deste ano mostrou que 41% de pessoas entre 18 a 24 anos agora dizem que a Grã-Bretanha deveria ter um chefe de estado eleito, e apenas 31% gostariam que o sistema atual continuasse.
Há dois anos a situação era oposta. Em 2019, quase metade dos jovens de 18 a 24 anos (46%) eram a favor da monarquia. Apenas um quatro (26%) preferia um chefe de estado eleito.
Embora a visão dos jovens sobre a monarquia como uma instituição pareça estar azedando, as mudanças entre a população como um todo têm sido mais sutis.
Três em cada cinco britânicos (61%) ainda apóiam a monarquia, enquanto um quarto (24%) prefere um chefe de estado eleito. Essa é uma pequena mudança em relação a 2019, quando dois terços (65%) estavam atrás da empresa e um quinto (19%) preferia se livrar dela.
As opiniões entre as pessoas de 25 a 49 anos também mudaram ligeiramente, com metade (53%) agora a favor de uma monarquia – abaixo dos 58%. Cerca de um quarto (27%) gostaria de optar por um chefe de estado eleito, um aumento de 4 pontos.
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