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Mudança climática | Um pequeno dicionário do clima para ajudar a entender melhor a crise ambiental

(Frankund Frei /Pixabay)

Por Max Steiner, jornalista, WhoWhatWhy

A mudança climática está no centro das atenções, com furacões mortais, chuvas torrenciais e incêndios florestais fora de controle/ Mas pode ser difícil entender o “jargão” deste mundo aquecido (“captura de carbono”, todo mundo sabe o que é?).

Antes da COP26, cúpula do clima das Nações Unidas que vai acontecer na Escócia em novembro, a agência de notícias sem fins lucrativos WhoWhatWhy reuniu explicações sobre 14 dos termos que vão ser cada vez mais falados nos próximos meses. 

Veja a seguir um “pequeno dicionário do clima”, para ajudar a entender as discussões sobre a mudança climática.

Gases de efeito estufa

Gases de efeito estufa são botões de controle no termostato da Terra. Dispersos na atmosfera, eles absorvem o calor que o planeta emite na forma de radiação. 

Até certo ponto, isso é desejável: sem os gases de efeito estufa, a temperatura da Terra despencaria, como aconteceu nas repetidas eras do gelo, cada uma abrangendo milhares de anos.

Mas as atividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial no fim do século 19, estão causando disparos nos níveis desses gases, elevando a temperatura da Terra muito rapidamente e de forma demasiada para muitos ecossistemas e organismos, incluindo humanos — o chamado aquecimento global. 

Os níveis de três gases — dióxido de carbono, metano e óxido nitroso — aumentaram de forma mais precipitada. Os cientistas também estão de olho nos gases de efeito estufa sintéticos, como os refrigerantes HFC e CFC e o isolador elétrico SF6. 

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Dióxido de carbono 

Um químico diria a você que o dióxido de carbono, ou CO2, é simplesmente um átomo de carbono e dois átomos de oxigênio ligados entre si, gasoso quando na temperatura e pressão ambiente e sem odor ou cor.  A má notícia é que é um gás de efeito estufa, com impacto direto na mudança climática.

As atividades humanas liberam cerca de 35 bilhões de toneladas dessa substância globalmente a cada ano, das quais 16% se originam nos Estados Unidos. 

De longe, a maior fonte humana de dióxido de carbono é a queima de combustíveis fósseis — carvão, petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos — para produzir calor, gerar eletricidade e abastecer o transporte motorizado.

Outros materiais que também emitem dióxido de carbono em sua fabricação: cimento, aço e produtos petroquímicos, sendo responsáveis por cerca de 20% das emissões globais de CO2. 

Os níveis pré-industriais de dióxido de carbono na atmosfera da Terra eram de cerca de 280 partes por milhão. Eles subiram para 420 partes por milhão. 

Metano 

O metano, quimicamente CH4, é o principal componente do gás natural que abastece os fogões e caldeiras do país. Os fornecedores adicionam mercaptano para emprestar ao gás natural seu cheiro característico de ovo podre, mas o metano em si é inodoro. 

Uma molécula de metano retém cerca de 80 vezes mais calor do que uma molécula de dióxido de carbono em um período de 20 anos. Algum metano é produzido naturalmente quando as bactérias decompõem a matéria orgânica, mas a maior parte do aumento recente do metano atmosférico foi causado por atividades humanas. 

A agricultura é a principal fonte: o esterco em decomposição libera metano e as vacas o passam como subproduto digestivo. À medida que o lixo depositado em aterro se decompõe, ele também libera gás metano. 

Maiores do que as fontes agrícolas são as emissões indesejadas do metano que extraímos diretamente do solo, depois transportamos, armazenamos e queimamos como combustível. Em cada etapa, parte do gás escapa para a atmosfera devido a máquinas imperfeitas. Desde os tempos pré-industriais, mais do que dobraram as concentrações de metano na atmosfera.

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Antropogênico 

Antropogênico, ou feito pelo homem, é o termo que descreve as atividades humanas que geram mudanças climáticas, em oposição a eventos naturais como ciclos solares ou erupções vulcânicas. 

Em 1859, o físico irlandês John Tyndall provou que o dióxido de carbono atmosférico retém o calor da Terra.

Desde então, os cientistas encontraram várias armas fumegantes que revelam nosso papel no aumento dos níveis deste elemento, a partir de dados de amostras de árvores e núcleos de gelo que revelam as impressões digitais químicas de CO2, sendo possível analisar as temperaturas globais observadas e o impacto da interferência humana.

As atividades antropogênicas estão afetando os ecossistemas da Terra de forma tão perceptível que os cientistas cunharam o termo Antropoceno para marcar a era geológica atual, substituindo o Holoceno. O termo não foi sancionado oficialmente pelas organizações científicas relevantes, mas está sendo proposto para aprovação este ano.

Net Zero

Como reação à pressão pública devido à mudança climática, empresas de todos os matizes industriais e comerciais se comprometeram a virar operações “zero” até alguma data, normalmente em meados dos anos 2040 ou 2050, quando elas então deixarão de aumentar, em teoria, a quantidade total de gases de efeito estufa na atmosfera. 

As empresas podem atingir o zero líquido não emitindo esses gases, mas o mais comum é uma estratégia para removê-los do ar para compensar quaisquer emissões residuais que são mais ou menos associadas ao funcionamento de um determinado negócio.

A United Airlines, por exemplo, planeja aumentar o uso de combustíveis sintéticos fabricados retirando dióxido de carbono da atmosfera. Quando queimados em um motor de aeronave, esses combustíveis liberam a mesma quantidade de dióxido de carbono que foi removido inicialmente, portanto, no balanço, seria uma atividade “zero”. 

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Captura de Carbono

As formas baseadas na natureza para remover o dióxido de carbono da atmosfera são plantar árvores, restaurar pântanos e ajustar as práticas agrícolas, mas é difícil determinar quanto carbono esses sumidouros naturais podem sequestrar e é difícil mantê-los adequadamente. As soluções baseadas em tecnologia vêm em duas possibilidades, ou talvez duas e meio. 

Filtros de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) fixam-se em chaminés industriais e separam o dióxido de carbono de outros gases de combustão; o dióxido de carbono é então armazenado, de preferência para sempre.

Um pouco relacionado está a Captura e Utilização de Carbono (CCU), o processo de capturar dióxido de carbono e reciclá-lo em, digamos, plástico, concreto ou biocombustível. Os projetos de captura direta de ar (DAC) são filtros autônomos que retiram dióxido de carbono diretamente do ar. O gás é então armazenado no subsolo ou vendido para reutilização (mais e mais projetos DAC estão chegando). 

Os críticos da captura de carbono apontam que ela não se concentra o suficiente na redução dos níveis de CO2 e estão preocupados que o gás armazenado ou reutilizado acabe voltando para a atmosfera.

Cap and Trade

Com um programa de limite e comércio, os governos usam incentivos de mercado para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Com base em suas metas climáticas, um governo fixa a quantidade total de dióxido de carbono que uma indústria pode emitir. 

Do total, cada empresa pode emitir uma determinada quantidade, medida em unidades de 1 tonelada de CO2. As unidades são negociáveis ​​e o mercado de carbono determina o preço.

As empresas que reduzem as emissões abaixo de sua permissão podem vender suas unidades excedentes para outras que poluíram além de seu limite e, de outra forma, enfrentariam uma penalidade fiscal. 

Os Estados Unidos usaram um sistema de limite e comércio para reduzir a chuva ácida causada pelas emissões de dióxido de enxofre. Onze estados americanos participam atualmente de programas regionais de limite e comércio de emissões de gases de efeito estufa. Mas os mercados de carbono exigem uma supervisão cuidadosa: caiu para US$ 12 (R$ 63) o preço por tonelada de dióxido de carbono emitida, um valor muito baixo para desencorajar seriamente as emissões e a mudança climática. 

Imposto do carbono

Um imposto sobre o carbono pode ser cobrado sobre cada tonelada de gás de efeito estufa emitida ou sobre bens e serviços baseados em carbono. 

Uma opção comparativamente fácil é tributar as empresas que fornecem petróleo, gás ou carvão. O custo incremental então passa para todos os usuários de combustíveis fósseis e os estimula a reduzir o consumo, mudar para fontes renováveis ​​ou buscar outros substitutos ecológicos. 

O carbono não liberado como dióxido de carbono — incorporado em plásticos, por exemplo — não é tributado. A Finlândia, a Suécia e a Noruega têm tributado o carbono desde o início dos anos 1990, e hoje cada tonelada emitida tem um custo de cerca de US$ 70 (R$ 370). 

Embora não exista nenhuma política nacional nos Estados Unidos, a cidade de Boulder, no estado do Colorado, tornou-se o primeiro município a cobrar um imposto sobre o carbono de seus fornecedores de eletricidade.

A iniciativa reduziu as emissões anuais de dióxido de carbono em cerca de 100 mil toneladas e traz à cidade cerca de US$ 2 milhões (R$ 10,5 milhões) em receita anual. Um estudo de 2017 sugere que um imposto nos Estados Unidos de US$ 45 (R$ 237) por tonelada emitida poderia arrecadar US$ 2,2 trilhões (cerca de R$ 11 trilhões) em 10 anos.

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Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

O IPCC é um órgão das Nações Unidas (ONU) destinado a fornecer uma imagem abrangente do que sabemos sobre a física e os impactos das mudanças climáticas. Criado em 1988, conta com 195 países membros. 

O IPCC não faz experimentos por si mesmo, mas revisa a literatura científica e compila o que encontra em relatórios de avaliação gerados por milhares de cientistas que se ofereceram para revisar milhares de estudos. Os resultados não apenas informam os formuladores de políticas sobre o estado atual da mudança climática, mas também sugerem maneiras de lidar com ela. 

O trabalho do IPCC rendeu-lhe o Prêmio Nobel da Paz de 2007, dividido com o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore.

Acordo de Paris

Entre os famosos tratados da ONU, o Acordo de Paris está no topo da lista. É internacional, juridicamente vinculativo e foi assinado por 195 nações em 2015, com o objetivo central de limitar o aumento da temperatura média global “bem abaixo” de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, o período de 1850-1900. 

“Bem abaixo” permaneceu indefinido no documento, mas as nações ainda se comprometeram a tentar limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius se possível, conforme recomendado por especialistas na preparação para a redação do acordo. 

Esses limites de temperatura são vistos como um marco estabelecido a “grosso modo”, em vez de uma linha precisa que separa as temperaturas seguras das inseguras na mudança climática.

Dito isso, meio grau faz uma enorme diferença: O IPCC estima que o objetivo do limite inferior poderia “reduzir o número de pessoas expostas aos riscos relacionados ao clima e suscetíveis à pobreza em até várias centenas de milhões até 2050”. 

Para atingir a meta de 1,5 °C, as emissões globais precisam cair 45% até 2030 e chegar a zero líquido em meados do século. As promessas registradas atualmente erram o alvo.

UNFCCC e COP26

O Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima é uma das três convenções juridicamente vinculativas da ONU que foram abertas para assinatura na Cúpula da Terra do Rio em 1992, a Eco-92. A UNFCCC, que visa prevenir a interferência humana perigosa no clima, foi ratificada por 197 países membros (Um dos grandes tratados climáticos que a convenção negociou foi o Acordo de Paris).

Os membros, também chamados de Partes da Convenção, relatam regularmente suas políticas de mudança climática e inventários anuais de suas emissões de gases de efeito estufa. A Conferência das Partes supervisiona a implementação da convenção, e sua 26ª reunião, a abreviatura COP26, está agendada para novembro em Glasgow, no Reino Unido. 

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Ponto de Virada

Um breve experimento: pegue uma mola e a puxe com cuidado, após a liberação, ele se contrairá de volta à sua forma original. Mas puxe-a longe demais e ela se deformará e, quando for liberada, irá parar em uma nova posição estável. 

Os pontos de inflexão são o limite além do qual um sistema é forçado a assumir uma nova normalidade. As mudanças climáticas podem desencadear esses pontos de inflexão para vários ecossistemas. 

A Circulação de Virada Meridional do Atlântico, por exemplo — correntes que trocam calor entre o Equador e o Atlântico norte — enfraqueceu em 15% desde 1900, e os cientistas estão debatendo em que ponto ele pode ser desestabilizado o suficiente para entrar em colapso completamente. 

Sem transferência de calor entre as latitudes atlânticas, os cientistas esperam um resfriamento substancial do Hemisfério Norte, mudanças nas chuvas tropicais, tempestades de inverno mais frequentes na Europa e aumento adicional do nível do mar em torno da bacia do Atlântico Norte. Uma vez que um ponto de inflexão é acionado, o novo status quo pode levar milênios para chegar, mas geralmente é considerado irreversível. 

Feedback negativo e positivo

Contrariando a intuição, o feedback negativo é útil; o positivo, nem tanto. O feedback negativo amortece ou neutraliza os processos que impulsionam as mudanças climáticas, proporcionando um efeito estabilizador. O feedback positivo estimula as mudanças climáticas.

As nuvens podem fornecer feedback negativo, resfriando a Terra ao refletir cerca de um terço da luz solar que chega de volta ao espaço. 

O derretimento dos mantos de gelo do Ártico, por outro lado, fornece um feedback positivo, adicionando água ao oceano, que é escuro e, portanto, absorve a luz solar, aquecendo o planeta. 

O feedback positivo relacionado ao gelo significa que a região do Ártico está aquecendo duas a três vezes o valor a taxa média global, um fenômeno denominado Amplificação Polar.

Justiça Climática

A destruição causada pelas mudanças climáticas não é suportada igualmente pelas comunidades. A justiça climática busca garantir que aqueles que precisam de ajuda não sejam deixados para trás — especialmente porque as comunidades mais afetadas são frequentemente as menos responsáveis ​​pelas emissões de carbono que causam o aumento das temperaturas. 

A Ilha de Jean Charles, uma ilha ao largo da costa da Louisiana (EUA) cujos residentes são descendentes de nativos americanos, fornece um exemplo de como a justiça climática pode ser administrada e quão ampla pode ser a necessidade.

Mais de 98% da ilha desapareceu no Golfo do México devido à erosão, tempestades e aumento do nível do mar. A comunidade agora está recebendo ajuda federal para se mudar para o norte, e o processo deve não apenas garantir a segurança física dos moradores, mas também tentar preservar seus laços culturais com as terras deixadas para trás. 


  • Max Steiner cresceu na Áustria e estudou engenharia química e matemática aplicada na Universidade de Washington. Ele é repórter e bolsista ambiental da WhoWhatWhy.

Esta matéria está sendo republicada como parte da Covering Climate Now , uma colaboração global de veículos de imprensa globais dedicados a aumentar e aprimorar a cobertura sobre as mudanças climáticas. O MediaTalks integra a CCNow. 

 


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