O Facebook, que nos últimos dias enfrentou apagão, queda no preço das ações, reportagens negativas e uma audiência complicada com uma ex-funcionária no Senado nesta terça-feira (6/10), está pensando duas (ou mais) vezes antes de fazer qualquer modificação em seus produtos ou lançamentos.
Em nova reportagem do Wall Street Journal (WSJ), publicada nesta quarta-feira (6/10), informações obtidas sobre fatos internos mostram a empresa medindo cada passo para evitar novos abalos na reputação, numa série de “revisões reputacionais”.
As informações vêm à tona uma semana após a empresa anunciar que suspendeu o lançamento de uma versão do Instagram para crianças, destinada a usuários com menos de 13 anos de idade. Segundo o chefe global Adam Mossari, a decisão busca “conversar com pais e legisladores” sobre o produto.
Facebook Papers geraram uma revisão geral para prevenção de danos
Os executivos da empresa estão pausando atualizações dos produtos atuais e retardando o lançamento de novos enquanto passam por revisões, de acordo com o WSJ.
Nas análises, o objetivo é garantir que os produtos não prejudiquem crianças e examinar como o Facebook pode ser criticado novamente, como aconteceu após a publicação da série de reportagens Facebook Papers.
O WSJ não revelou quanto tempo as avaliações devem durar ou quais produtos exatamente elas envolvem.
Com a exposição dos relatórios sobre os danos causados pelo Instagram à saúde mental dos jovens americanos, a empresa se posicionou em pronunciamento da chefe da área de pesquisas da empresa, Pratiti Raychoudhury, que afirmou que o WSJ carecia de contexto, e que as pesquisas indicam uma amplificação do estado mental dos adolescentes, que, se estão bem, se sentem melhor com o Instagram, e se estão mal, ficam pior.
Revelações levam empresa em direção a “caminho sem volta” na reputação
Análise da revista The Economist ressalta que, apesar dos percalços, as ações do Facebook subiram 30% em um ano e a resposta de Mark Zuckerberg, de que estão “pintando uma imagem falsa” sobre a mentalidade da empresa para os negócios, tem pontos convincentes — o problema maior, aponta a revista, é que a sociedade parece já não querer ouvir.
Para a Economist, o maior perigo para o Facebook no momento é se tornar uma empresa definitivamente associada a algo ruim, como a indústria do tabaco, no que a revista chama de “um caminho sem volta” na reputação da rede social e seus produtos.
Segundo a ex-funcionária Frances Haugen, que copiou os relatórios que deram origem aos Facebook Papers, o Facebook repetidamente priorizou o lucro em detrimento da segurança e bem-estar dos usuários, a ainda, é uma “ameaça à democracia”, lucrando com um mecanismo na rede social que incentiva o discurso de ódio e a polarização.
Haugen repetiu no Congresso afirmações que havia feito em entrevista no programa 60 Minutes, quando responsabilizou ainda o Facebook por aliviar após as eleições de 2020 as medidas que havia tomado contra a desinformação e o ódio, o que, segundo Haugen, contribuiu para a invasão do Capitólio em janeiro, quando militantes da extrema direita tentaram impedir a oficialização da derrota de Donald Trump nas urnas.
Leia mais: Ex-funcionária que expôs relatórios do Facebook mostra o rosto em entrevista à CBS nos EUA
Crise de imagem pode trazer danos maiores ao Facebook, alerta Economist
O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, publicou um posicionamento na terça-feira, após a audiência de Haugen no Senado americano.
“Tenho certeza de que muitos de vocês acharam a cobertura recente difícil de ler porque ela simplesmente não reflete a empresa que conhecemos”, escreveu Zuckerberg. “Nós nos preocupamos profundamente com questões como segurança, bem-estar e saúde mental.”
“É difícil ver uma cobertura [jornalística] que deturpe nosso trabalho e nossos motivos”, continuou. “No nível mais básico, acho que a maioria de nós simplesmente não reconhece a falsa imagem da empresa que está sendo pintada.”
Leia mais: Revelação de que “vips” escapam da moderação faz Conselho externo cobrar transparência do Facebook
A Economist ainda aponta para o que, na avaliação da revista, pode ser o maior dano afinal, após toda a turbulência: o declínio da audiência jovem do Facebook.
“Haugen alega [em depoimento ao Congresso] que o Facebook escondeu um declínio no número de usuários americanos jovens. Ela revelou projeções internas de que uma queda no engajamento dos adolescentes poderia levar a um declínio geral de usuários americanos de 45% nos próximos dois anos.”
A revelação, se comprovada, poderia prejudicar o Facebook tanto entre os investidores, pela falta de transparência, quanto até mesmo de um ponto de vista legal, avalia a Economist. Perder o apelo jovem pode estragar planos de novos produtos.