A procuradoria-geral do estado americano de Ohio abriu nesta segunda-feira (15/11) um processo contra o Facebook por fraude de valores mobiliários, cobrando milhões de dólares em perdas sofridas pelo principal fundo de pensão do estado, um dos maiores do mundo.
A ação indica que as consequências do vazamento de documentos internos do Facebook pela ex-funcionária Frances Haugen, em outubro, começam a sair da esfera de reputação corporativa para entrarem na seara jurídica.
Um outro processo havia sido aberto em outubro por uma investidora no estado de Nova York com alegações semelhantes. Mas a ação movida por uma procuradoria estadual é um sinal de que os problemas legais depois dos relatos de que o gigante da mídia social sabia que o Instagram estava prejudicando adolescentes e não fez nada a respeito estão escalando.
Ação questiona governança do Facebook
O procurador-geral, Dave Yost, moveu o processo em nome do Sistema de Aposentadoria de Funcionários Públicos de Ohio, e busca ampliar a ação para representar todos que compraram ações do Facebook entre 29 de abril e 21 de outubro deste ano.
O Ohio Public Employees Retirement System vendeu ações do Facebook que comprara em julho, com prejuízo de US $ 4 milhões. Segundo a petição inicial, o preço das ações da empresa caiu mais de 14% entre 13 de setembro, quando o The Wall Street Journal publicou sua primeira reportagem com base nos documentos de Haugen – e 21 de outubro.
Yost admitiu que o prejuízo com a venda dos papéis é uma pequena porcentagem dos mais de US$ 90 bilhões que o fundo administra, mas disse que não se trata apenas do valor em dólares da perda.
“O resultado final é que há questões substanciais sobre a governança do Facebook. Suas políticas são o que dizem que significam? Quais são os procedimentos internos para garantir que a política seja seguida? ” questionou em um comunicado.
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Desinformação e conteúdo prejudicial
O Facebook enganou os investidores deturpando suas políticas sobre “desinformação” e “conteúdo prejudicial”, alega o procurador-geral.
A rede social sentiu o golpe depois das denúncias da ex-funcionária, e anunciou o adiamento do lançamento do Instagram for Kids devido às reações negativas.
Mas o entendimento do procurador-geral de Ohio é que o mal já foi feito.
“Este assunto surge de uma violação flagrante de confiança pública pelo Facebook, que explorou conscientemente seus usuários mais vulneráveis - incluindo crianças em todo o mundo – a fim de impulsionar os lucros corporativos”, diz Yost na reclamação.
Ele destacou que os documentos fornecidos pela ex-funcionária Haugen mostram que o Facebook sabia que seus produtos e sistemas estavam “crivados de falhas que semeiam dissensão, facilitam atividades ilegais e extremismo violento e causam danos significativos aos usuários”.
“Apesar desse conhecimento, o Facebook optou por maximizar seus lucros às custas da segurança de seus usuários e do público em geral, expondo o Facebook a sérios danos de reputação, jurídicos e financeiros”, alega a denúncia.
E durante esse tempo, o Facebook “garantiu repetidamente aos investidores que tem ‘o conjunto de políticas de conteúdo mais robusto que existe’ e elogiou as medidas agressivas que toma para garantir a segurança de seus usuários, evitando que informações incorretas e conteúdo prejudicial se espalhem por meio de suas plataformas , ”afirma a reclamação.
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O procurador tem histórico de ações contra plataformas digitais. Em julho, ele solicitou a um tribunal estadual que declarasse o Google uma “operadora comum” e proibisse a empresa de priorizar seus serviços ou produtos nos resultados.
Um porta-voz do Facebook afirma que o processo “não tem mérito” e que a empresa se defenderá vigorosamente.
No final do mês passado, a investidora a acionista Wee Ann Ngian apresentou uma ação coletiva semelhante no tribunal federal de Nova York, representando todos que compraram ações no Facebook entre 3 de novembro de 2016 e 4 de outubro deste ano.
No processo do “Facebook Papers”
As revelações que abriram a maior crise na história do Facebook foram feitas pela ex-funcionária Frances Haugen, de 37 anos.
Ela deixou o cargo de gerente de produto na equipe de integridade cívica da empresa no início do ano levando documentos confidenciais, como apresentações de pesquisas internas, que mostravam conhecimento sobre males causados ao estado emocional de jovens usuários do Instagram e pouca ação contra discurso de ódio, com privilégios para celebridades e políticos.
Os documentos foram passados inicialmente ao The Wall Street Journal em setembro. Semanas depois ela mostrou o rosto em uma entrevista para a rede americana CBS.
No programa 60 Minutes, acusou a empresa de, entre outras malfeitorias, ter culpa pela mobilização que culminou na invasão ao Capitólio em janeiro, que deixou cinco mortos.
A ex-gerente afirmou que resolveu revelar o que hoje são os “Facebook Papers” pois os documentos “provam que o Facebook prioriza repetidamente o crescimento da empresa em detrimento da segurança de seus usuários”.
“O Facebook repetidamente escolheu otimizar [a plataforma] para seus próprios interesses, como ganhar mais dinheiro”, afirmou a ex-funcionária.
Desde então ela já depôs no Senado americano, no Parlamento britânico e no Parlamento europeu em comissões que discutem regulamentação das plataformas digitais.
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