Londres – A Global Investigative Journalism Network (GIJN) promove no dia 14 de dezembro um webinar com um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2021, Dmitry Muratov, editor-chefe do Novaya Gazeta da Rússia. Ele falará sobre o desafio de praticar jornalismo independente diante de ameaças crescentes em seu país e no mundo.
O encontro será às 11h (horário de Brasília), com tradução simultânea para inglês, russo, árabe e francês. Os participantes poderão enviar perguntas.
Muratov foi indicado para receber o Nobel junto com a filipina Maria Ressa, que enfrenta perseguições judiciais por seu jornalismo investigativo e virou um dos símbolos de assédio a mulheres jornalistas.
Jornalismo independente sufocado
A conversa será moderada pelo diretor-executivo da GIJN, David E.Kaplan, e pela diretora-adjunta, Gabriela Manuli. As inscrições podem ser feitas aqui.
A GIJN vem documentado o que chama de “crise existencial para a democracia e seu componente essencial, uma imprensa fiscalizadora independente”.
“Jornalistas estão sendo processados, presos ou mortos e enfrentam vigilância digital e assédio, e a enxurrada de informações incorretas mina a confiança do público em seu trabalho.”
A Rússia está entre os países onde a situação é mais crítica.
O país tem desde 2017 uma lei que permite rotular publicações e jornalistas como ‘agentes estrangeiros’, e também obriga a imprensa independente a revelar em suas reportagens os financiadores do veículo, o que afugenta patrocinadores e leva muitos a fechar. O uso da lei passou a ser frequente desde o fim do ano passado.
O editor não foi enquadrado na lei do agente estrangeiro, mas o presidente Vladimir Putin mandou um recado após a notícia do Nobel afirmando que não haveria motivo para tal “desde que Muratov não viole a lei. “
Mas no dia 18 de novembro, ambos foram multados por não rotularem adequadamente os “agentes estrangeiros” mencionados em suas reportagens.
Nem jornalistas estrangeiros têm sido poupados pela repressão ao jornalismo independente, com casos seguidos de expulsão. O mais recente foi o de Tom Vennink, correspondente em Moscou do jornal holandês Volkskrant, que teve o visto revogado e está proibido de voltar ao país até 2025.
O mesmo tinha ocorrido três meses antes com a correspondente da rede britânica Sarah Rainsford BBC, que também teve que sair da Rússia, só que para sempre.
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Muratov sempre defendeu a liberdade de expressão
O russo Dmitry Andreyevich Muratov vem defendendo por décadas a liberdade de expressão na Rússia em condições cada vez mais desafiadoras. Em 1993 ele foi um dos fundadores do Novaja Gazeta, que se transformou no principal exemplo de jornalismo independente do país.
O jornal tenta sobreviver em um ambiente de ameaças cada vez maiores, com uma atitude crítica em relação ao poder. Por isso, segundo a GIJN, tornou-se uma importante fonte de informação sobre aspectos censuráveis da sociedade russa raramente mencionados por outros meios de comunicação.
O jornal é conhecido por suas investigações sobre corrupção, abusos de direitos humanos, fraude eleitoral e violência policial em um país onde muitos veículos de notícias foram forçados a fechar ou comprometer seu trabalho editorial.
Desde 2000, pelo menos cinco jornalistas da Novaya Gazeta foram mortos, entre eles a jornalista Anna Politkovskaya, que escreveu matérias sobre a guerra na Chechênia.
No aniversário do presidente Vladmir Putin, que coincidiu com a data em que a jornalista perdeu a vida, a organização Repórteres Sem Fronteiras fez um protesto em várias cidades para simbolizar o luto.
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Nobel da Paz
Muratov compartilha o Prêmio Nobel da Paz de 2021 com a jornalista filipina Maria Ressa, “por seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e uma paz duradoura”.
Ele dedicou o prêmio aos jornalistas mortos do jornal Noraya Gazeta. Mas apesar das mortes e ameaças, o editor-chefe se recusou a abandonar a política independente do jornal.
No último ranking de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, a Rússia já ocupava a 150ª. posição entre os 180 países analisados, e atos recentes vêm agravando a situação da mídia independente local e de jornalistas estrangeiros.
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