Londres – Elon Musk parece estar vencendo mais uma queda de braço com a direção do Twitter em sua batalha para conseguir acesso pleno aos números de contas falsas na plataforma, segundo revelaram jornais americanos, atribuindo a informação a fontes internas.
Musk fechou um acordo para comprar o Twitter em abril, mas começou a colocar em questão o investimento de US$ 44 milhões alegando que o percentual de contas falsas chegaria a 20%, bem distante dos 5% informados pela diretoria executiva.
Depois de sugerir publicamente que poderia desistir da compra, o empresário fez um movimento jurídico: na segunda-feira, seus advogados enviaram uma carta dura à diretora jurídica da empresa, Vijaya Gadde, acusando a plataforma de “resistir e frustrar ativamente” seus direitos de acessar dados e informações da empresa sob o acordo.
Por que Musk se importa com contas falsas no Twitter
A notícia sobre a intenção do Twitter de abrir os dados a Elon Musk foi revelada pelo Washington Post nesta quarta-feira (8). O jornal afirmou que a empresa de mídia social forneceria acesso a um fluxo de dados composto por mais de 500 milhões de tweets postados todos os dias.
Segundo o Post, esse acesso já é concedido a empresas que pagam por ele e que podem visualizar um um registro em tempo real de tweets, dos dispositivos utilizados e das contas que tweetam.
E o New York Times também revelou que a plataforma permitira que Musk visse sua “mangueira de fogo” de tráfego diário.
As contas falsas em plataformas de mídia social são um problema para usuários e para quem anuncia.
Os bots de spam são usados para disseminar fake news e discurso de ódio. E os anunciantes tomam como referência os números de usuários fornecidos pelas empresas de mídia digital para definir seus investimentos.
O argumento de Elon Musk é de que se o número de usuários for menor, bem menor do que ele acreditava que fossem, as metas de crescimento e lucratividade que o levaram a tentar adquirir o Twitter ficariam comprometidas. O negócio valeira menos, ou não valeria a pena.
Nos últimos cinco dias, as ações do Twitter subiram 1,37%, um sinal de que o mercado está otimista com a compra.
O Twitter não fez comentários sobre as notícias. Apenas se referiu a um comunicado distribuído na segunda-feira, após a carta dos advogados, assegurando “continuará a compartilhar informações cooperativamente com Musk para consumar a transação de acordo com os termos do acordo de fusão”
O CEO da rede social, Parag Agrawal, também não comentou. Sua última postagem a respeito do assunto aconteceu em 16 de maio, quando ele publicou uma série de comentários e tuitou um documento do Twitter explicando “os fatos reais” sobre manipulação nas redes.
For those of you who want to learn more in the meantime: https://t.co/3zShh9dbMjhttps://t.co/njNfHHGrZq
— Parag Agrawal (@paraga) May 16, 2022
A pouca transparência em relação às contas falsas no Twitter e ao acesso do potencial comprador da rede social lança mais dúvidas sobre uma operação que além de gigantesca do ponto de vista financeiro, pode mudar radicalmente a forma como o Twitter funciona.
Elon Musk promete grandes mudanças para tornar a rede mais lucrativa, aumentar número de usuários e permitir o que ele classifica como liberdade de expressão, reduzindo os padrões de moderação. Para os críticos, isso significa permitir posições extremas e discurso de ódio.
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Analistas interpretaram o questionamento do número de contas falsas como uma possível tentativa de Musk desistir da compra com um argumento jurídico que permitisse se livrar da multa de US$ 1 bilhão.
Ele chegou a revelar que a aquisição estava temporariamente suspensa até que os números fossem confirmados, mas depois voltou atrás e disse que os planos continuavam de pé.
E criticou Parag Agrawal, executivo-chefe do Twitter, por se recusar publicamente a “mostrar provas” de que menos de 5% das contas eram “falsas/spam”.
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Mas nada disso surtiu efeito até a segunda-feira, quando a carta dos advogados foi enviada, em tom de ameaça:
“Como possível proprietário do Twitter, Musk tem claramente direito aos dados solicitados para permitir que ele se prepare para a transição dos negócios do Twitter para sua propriedade e para facilitar o financiamento de suas transações.
Para fazer as duas coisas, ele deve ter uma compreensão completa e precisa do núcleo do modelo de negócios do Twitter – sua base de usuários ativos.
Com base no comportamento do Twitter até o momento e na correspondência mais recente da empresa em particular, Musk acredita que a empresa está resistindo ativamente e frustrando seus direitos de informação.
Esta é uma clara violação material das obrigações do Twitter sob o acordo de fusão e Musk se reserva todos os direitos resultantes, incluindo seu direito de não consumar a transação e seu direito de rescindir o acordo de fusão”.
Contas falsas no Twitter e em outras redes
Musk não é o único de olho nas contas falsas do Twitter. O procurador-geral do Texas, Ken Paxton, anunciou uma investigação sobre o Twitter por supostamente não divulgar a extensão das contas falsas.
A sede corporativa da Tesla, empresa de automóveis elétricos de Elon Musk, mudou para o estado americano em dezembro passado. Outra de suas empresas, a SpaceX, tem no Texas uma fábrica e uma plataforma de lançamento de foguetes. E o empresário mora no Texas.
Enquanto isso, Elon Musk segue disparando contra as contas spam, e não apenas no Twitter.
No mesmo dia em que as especulações sobre o acesso aos dados seguiam quentes, ele tuitou criticando o YouTube por uma suposta complacência em relação a anúncios spam em comparação ao que acontece quando alguém usa linguagem ofensiva.
— Elon Musk (@elonmusk) June 7, 2022
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