Londres – O que a rainha – e avó – Elizabeth II não viu nos últimos anos de sua vida o mundo viu nos 38 minutos em que o caixão com o seu corpo foi transportado em cortejo solene do Palácio de Buckingham para a sede do Parlamento britânico: os netos William e Harry caminhando juntos em sua homenagem.
A cena foi comparada com o enterro da mãe, a princesa Diana, há 25 anos. A trégua na discórdia entre os irmãos para homenagear a avó faz parte da comoção que tomou conta do país pela morte da rainha, há cinco dias.
O caixão transportado em uma carruagem aberta cruzou os portões do Palácio de Buckingham em uma tarde de sol, depois ter ter chegado na noite de ontem sob chuva intensa exatamente às 14h22, horário local.
O público se aglomerou para assistir, com muitas pessoas de todas as idades emocionadas. O silêncio era quase absoluto, ouvindo-se apenas o som da banda e dos passos da guarda e dos familiares.
A coroa que Elizabeth II recebeu há 70 anos estava sobre o caixão, envolvido com o estandarte da rainha.
Muitos especularam sobre o motivo de uma hora tão precisa, talvez algum simbolismo. Era apenas a pontualidade britânica, traço da cultura do país que Elizabeth II representou como nenhuma outra figura pública, para que o cortejo chegasse ao Palácio de Westminster às 15h.
Cortejo de Elizabeth II reuniu a família
O ambiente foi de solenidade, sob o som de tambores, combinando os elementos medievais, militares e religiosos que fazem parte da imagem da monarquia.
A banda tocou peças fúnebres de Beethoven, Chopin e Mendhelson.
Logo atrás do caixão estavam o rei Charles, e os irmãos Anne, Edward e Andrew, único que não usou trajes militares, pois depois dos escândalos de abuso sexual perdeu os cargos que ocupava nas Forças Armadas.
Em seguida marcharam William e Harry, que também não usou trajes militares mas ostentava as medalhas recebidas em seu tempo de serviço militar.
Harry exibiu uma fisionomia profundamente triste. Ele era muito ligado à avó, e escolheu o apelido íntimo de Elizabeth II, Lilibet, para o nome da filha.
Em uma mensagem postada no site Archwell mantido por ele e pela mulher, Meghan Markle, o filho mais novo do rei Charles dirigiu-se a ela como “vovó”. Ele falou da “grande tristeza” pela morte da rainha, dizendo que teria “muita saudade”.
As mulheres da família – a rainha consorte e as esposas dos príncipes William, Harry e Edward – seguiram para o Palácio de Westminster de automóvel.
Milhares de pessoas foram para as ruas desde ontem nas ruas para garantir um bom lugar e ver o cortejo passar. As ruas foram sinalizadas para indicar os locais da passagem, e algumas estações de metrô foram fechadas.
Os voos do aeroporto de Heathrow foram atrasados para que perturbar a procissão, segundo comunicado do aeroporto, um dos principais da Europa.
Os voos foram interrompidos entre 13h50 e 15h40 de quarta-feira para “garantir silêncio sobre o centro de Londres enquanto a procissão cerimonial se move do Palácio de Buckingham para Westminster Hall”.
As filas foram enormes para chegar aos locais onde a passagem do cortejo podia ser vista, embora todas as emissoras de TV estejam transmitindo ao vivo desde as primeiras horas da manhã.
A despedida da #rainhaelizabeth
parou #Londres, com filas enormes para ver o cortejo fúnebre passar. O caixão com o corpo sai do #paláciodebuckingham às 14h22 em ponto, para chegar a #Westminster exatamente às 15h (horário local), honrando a #pontualidadeBritânica. pic.twitter.com/iToZXgy7jm— MediaTalks by J&Cia (@_MediaTalks) September 14, 2022
Mas muitos queriam ver pessoalmente a despedida de uma figura que marcou a história do país, tendo passado 70 anos no trono.
Alguns aproveitaram para faturar, como um homem vendendo flores para os que querem prestar homenagens à monarca.
Funerais de Elizabeth II
O caixão vai ficar quatro dias no Palácio de Westminster, e a previsão é de que as filas alcancem 10 milhas.
O último membro da família real a ter seu velório acompanhado pelo público foi a rainha-mãe em 2002, quando mais de 200 mil pessoas ficaram na fila para ver seu caixão.
Um esquema gigante de segurança e de apoio foi montado para organizar, à moda britânica. Os que chegarem ao fim da fila receberão uma pulseirinha numerada e colorida, podendo sair para descansar, se alimentar ou usar o banheiro sem perder o lugar.
Os organizadores informaram que mais de 1 mil pessoas trabalharão em cada turno, incluindo policiais, agentes de segurança e voluntários de grupos como Cruz Vermelha, Exército da Salvação e até tradutores de linguagem de sinais.
Um total de 500 banheiros químicos estão à disposição dos que devem dormir na fila para ver por alguns segundos o caixão de Elizabeth II.
Desde a última quinta-feira, quando a morte da rainha de 96 foi anunciada, entrou em ação o plano chamado Operação London Bridge, desenhado há mais de 30 anos e com seus detalhes definidos pela própria Elizabeth II.
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Ela morreu no castelo de Balmoral, na Escócia, de causa não revelada, um dos muitos segredos em torno da monarquia, que pratica em sua comunicação o lema “nunca explique, nunca reclame”.
No dia seguinte o novo monarca fez seu primeiro pronunciamento à nação, e no sábado foi proclamado rei Charles III, em uma cerimônia televisionada pela primeira vez na história.
Na segunda-feira o caixão com o corpo da rainha deixou o castelo, passou em cortejo por várias cidades escocesas e chegou ao Palácio de Holyrood, sede do parlamento escocês, onde atraiu uma multidão silenciosa, passando rapidamente diante da urna fechada e coberta com o estandarte vermelho e amarelo de Elizabeth II.
Ontem chegou a Londres, passou a noite no Palácio de Buckingham para homenagens privadas da família, e ficará na sede do Parlamento até segunda-feira, dia do enterro, que será feriado nacional.
Elizabeth II será sepultada em Windsor, onde viveu os últimos anos com o príncipe Philip, que morreu ano passado e também foi enterrado lá.