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Liberdade de imprensa em Hong Kong cai para recorde mínimo, mostra novo relatório

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Três meses após o 25º aniversário da devolução de Hong Kong à China, um novo  relatório revela a extensão do encolhimento da liberdade de imprensa na ilha, que registrou um novo recorde mínimo pelo terceiro ano consecutivo.

O último ano foi marcado pelo avanço das violações contra jornalistas, incluindo o fechamento de três grandes veículos e o assédio judicial a profissionais e defensores da mídia.

O índice anual de liberdade de imprensa da Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA) revela o impacto dessas ações do governo nas empresas de comunicação privadas da ex-colônia britânica.

Aumenta perseguição a profissionais de imprensa em Hong Kong

O relatório da HKJA é baseado em duas pesquisas: um questionário entregue aos que trabalham na área de mídia e outro, ao público.

A conclusão dos pesquisadores é que os residentes da ilha questionam a eficácia da imprensa como um “watchdog”, ou cão de guarda, na ideia de um guardião da sociedade, num cenário cada vez mais repressor para o setor.

O mais recente ranking de liberdade de imprensa que representa as opiniões dos trabalhadores da mídia registrou 26,2% este ano, abaixo dos 32,1% do ano passado. O número representa a maior queda desde que o HKJA começou o índice, em 2013.

Mais da metade dos entrevistados do público geral afirmou que a liberdade de imprensa ficou mais restrita após 2020. Já 97% de todos os jornalistas entrevistados disseram acreditar que a liberdade de imprensa diminuiu, o que também foi percebido para 53,5% do público geral.

A queda de 0,5 ponto no relatório baseado na percepção do público geral em relação a 2020 é atribuída diretamente a dois indicadores: diversidade de pontos de vista na mídia local e hesitações da imprensa em criticar o governo central.

Para os jornalistas, a liberdade de imprensa foi prejudicada principalmente pelo declínio significativo em quatro indicadores de classificação: eficácia da mídia como um “watchdog”, hesitações em criticar o governo, diversidade de pontos de vista e autocensura.

Acesse o relatório na íntegra neste link.

2021 deteriorou liberdade de imprensa, diz associação

Em comunicado, a HKJA disse que o ambiente para o jornalismo em Hong Kong “se deteriorou drasticamente no ano passado”.

O grupo citou o fechamento do Apple Daily em junho de 2021, do Stand News, que encerrou em dezembro passado, e do Citizen News, em janeiro.

Executivos e editores do Apple Daily e Stand News enfrentam até hoje processos sob a legislação de segurança nacional ou a lei de sedição da era colonial depois que suas redações foram invadidas.

“Como consequência direta de uma indústria de notícias cada vez menor, menos informações de interesse público estão disponíveis, e aquelas que permanecem acessíveis se tornam mais homogêneas do que diversas”, diz a associação.

A perseguição à imprensa em Hong Kong começou em 2014, durante o “Movimento dos Guarda-Chuvas” pró-democracia, quando os jornalistas foram alvos pela primeira vez de violência por parte da polícia e apoiadores pró-Pequim na ilha.

Cinco anos mais tarde, durante as manifestações do projeto de lei “anti-extradição”, a violência se intensificou ainda mais e centenas de jornalistas foram vítimas de brutalidade policial.

Em junho de 2020, a situação agravou-se com a adoção da Lei de Segurança Nacional, que pune com prisão perpétua os crimes de “terrorismo”, “secessão”, “subversão” e “conluio com forças estrangeiras” — e da qual jornalistas são uns dos principais alvos.

No ano passado, o governo que administra o território fechou dois veículos independentes, o Apple Daily e o Stand News. Em janeiro deste ano, o jornal online Citizen News foi o terceiro obrigado a encerrar as operações em seis meses.

Para o relatório, a HKJA entrevistou 169 pessoas que trabalham na mídia e 1.016 pessoas do público geral em maio. A associação destaca que foi notável alcançar uma taxa de resposta de 22,9% — contra 82,8% no ano passado:

“Alguns jornalistas que abordamos para a pesquisa disseram temer que a associação tenha entrado na mira das autoridades e, portanto, temem represálias por preencher um questionário conduzido pela HKJA.”

A organização acrescentou que a capacidade da imprensa de operar em um “ambiente livre e seguro” seria “crucial” para manter o status de Hong Kong como um centro financeiro internacional.

Relatório sai após evento para imprensa

A divulgação do relatório ocorreu um dia depois que o Chefe do Executivo da ilha, John Lee, participou de um evento para profissionais da imprensa comemorando o Dia Nacional da China. Na ocasião, o político disse aos jornalistas para entregar a “mensagem certa de Hong Kong” ao mundo.

A HKFP teve o acesso negado ao evento somente para convidados. O governo justificou o veto primeiro citando a covid-19, depois alegando que o evento era ” apenas para veículos chineses” — o que não aconteceu.

Questionado pela associação, um funcionário do evento afirmou que apenas “meios de comunicação tradicionais” foram convidados.

Durante seu discurso, Lee alertou os repórteres para distinguir o certo do errado e manter distância da “mídia falsa” e dos “maus elementos” que “destroem a liberdade de imprensa”.

As autoridades disseram que estão analisando a promulgação de uma lei de “fake news” para combater a desinformação. Segundo a associação, críticos dizem que a nova legislação pode ser desenhada para reprimir as agências de notícias e sufocar ainda mais a liberdade de imprensa.

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