Um novo relatório divulgado na semana em que se comemora o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas (2 de novembro), pressiona nações ocidentais a cobrarem das autoridades de Mianmar o fim das violações de direitos humanos e da liberdade de imprensa no país.

O apelo é feito pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) a partir da compilação de relatos de jornalistas e profissionais de mídia birmaneses que vivem sob a ditadura no país ou tiveram que partir para o exílio.

O documento critica o que considera uma “ação global inadequada” para rejeitar o golpe militar de 2021, bem como para condenar as agressões contra a sociedade civil de Mianmar.

Violações de direitos humanos devem cessar em Mianmar, diz federação

No relatório “The Revolution Will Not Be Broadcast – Myanmar: IFJ Situation Report 2022”, jornalistas contaram à entidade como graves violações dos direitos humanos escalaram em Mianmar desde a chegada da junta militar ao poder.

Além de censurar os cidadãos comuns, as autoridades do país mantêm a “perseguição contínua de jornalistas e os ataques à mídia independente”, denuncia a federação.

A FIJ também pede à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) medidas firmes contra a junta antes da cúpula do grupo, que acontece entre os dias 10 e 13 de novembro.

“Até o momento, os militares continuam a mostrar flagrante desrespeito aos esforços regionais e internacionais para cessar a violência arbitrária, matança e intimidação contra seu próprio povo”, destaca a entidade.

Até o dia 2 de novembro, 59 jornalistas estavam presos em Mianmar. Segundo a FIJ pelo menos 2.371 pessoas foram mortas pelos militares, incluindo quatro profissionais de imprensa desde fevereiro de 2021.

O Índice de Impunidade Global 2022 do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) listou Mianmar como o oitavo pior país do mundo em impunidade.

Em meio à deterioração das liberdades em Mianmar, a FIJ destacou que ações importantes são realizadas em países vizinhos.

Na Indonésia, por exemplo, a Aliança de Jornalistas Independentes (AJI) e outros ativistas pró-democracia apresentaram uma petição à Suprema Corte do país para permitir que os tribunais processassem casos de violação de direitos humanos de Mianmar através do sistema jurídico indonésio.

“A Federação Internacional de Jornalistas pede aos governos, ASEAN, jornalistas, organizações de mídia e membros da sociedade civil que tomem todas as medidas possíveis para lidar com as hediondas violações de direitos humanos cometidas pela junta militar em Mianmar.

A FIJ se solidariza com os colegas birmaneses e elogia o trabalho corajoso da mídia do país, tanto dentro de Mianmar quanto no exílio, em resistir às imposições dos militares e continuar a noticiar diante de desafios severos. ”

Acesse aqui o relatório na íntegra.

Prisão de jornalistas em Mianmar

Em apenas uma semana de outubro, mais dois jornalistas foram condenados à prisão pela junta militar em Mianmar.

O repórter birmanês Sithu Aung Myint, que trabalhou na revista Frontier Myanmar e foi comentarista político da emissora Voice Of America (VOA), foi sentenciado a três anos de prisão depois de passar 14 meses detido de forma preventiva.

Dois dias antes da condenação de Myint, foi decretada a prisão do documentarista japonês Toru Kubota por 10 anos. Os dois profissionais receberam acusações semelhantes às de Htet Htet Khine, jornalista freelancer da BBC, mandada para a cadeia no final do mês passado.

Nos últimos meses, jornalistas viraram o alvo favorito da junta, que usa brechas na lei para assediar, perseguir e prender profissionais da mídia, segundo entidades internacionais.