O escritor britânico-egípcio Alaa Abdel-Fattah está endurecendo a sua greve de fome dias antes da abertura da COP27, a Conferência do Clima das Nações Unidas. O objetivo é chamar a atenção dos líderes mundiais para a situação dos presos políticos no Egito.
Abdel-Fattah foi um dos principais ativistas da revolução de 2011 no país, que levou à queda do ex-presidente Hosni Mubarak. Preso algumas vezes desde 2014, no fim do ano passado ele foi condenado a mais cinco anos de detenção por divulgação de fake news.
Em protesto, ele iniciou uma greve de fome em abril e, agora, ameaça deixar de consumir qualquer tipo de alimento e líquidos a partir de 6 de novembro — dia em que se inicia a COP27 na cidade de Sharm el-Sheikh, no Egito.
Em protesto, blogueiro pode morrer antes do fim da COP27
Alaa Abdel-Fattah é um escritor britânico-egípcio, defensor dos direitos humanos e desenvolvedor de software. Conhecido por fundar um agregador de blogs em árabe, o ativista esteve envolvido em várias iniciativas de jornalismo cidadão e já teve textos publicados em vários veículos.
O anúncio de que Abdel-Fattah vai elevar o nível do seu protesto às vésperas da COP27 deixou em alerta entidades dos direitos humanos.
Desde o dia 2 de abril, ele iniciou uma greve de fome parcial, ingerindo somente 100 calorias por dia. Após mais de 200 dias tendo sua liberdade ignorada pelas autoridades egípcias, o ativista decidiu ficar em greve de fome total a partir de 1º de novembro.
Ele também decidiu iniciar uma greve de água a partir do dia 6 de novembro, coincidindo com a abertura da Conferência do Clima da ONU, que reunirá líderes de todo o mundo.
Grupos de direitos humanos alertam que, se Abdel-Fattah não for libertado, ele morrerá antes do final da COP27.
Leia também | Irã: Jornalistas que noticiaram morte de Mahsa Amini são acusadas de espionagem para os EUA
Em carta enviada à família, o ativista explica por que vai intensificar a greve de fome:
“Tomei a decisão de escalar em um momento que considero adequado para minha luta pela minha liberdade e a liberdade de prisioneiros de um conflito do qual não participam ou do qual estão tentando sair; para as vítimas de um regime que é incapaz de lidar com suas crises exceto com a opressão, incapaz de se reproduzir exceto através do encarceramento”.
O Relator Especial da ONU sobre direitos humanos e meio ambiente, David R. Boyd, chamou a atenção da organização para o caso do blogueiro.
“Antes da COP27, me junto às vozes globais pedindo a libertação imediata de Alaa Abd el-Fattah, um ativista egípcio que definhou na prisão por anos apenas por expressar sua opinião”, disse em comunicado. “A liberdade de expressão é um pré-requisito para a justiça climática.”
Uma coalizão com menos 65 entidades defensoras dos direitos humanos divulgou um documento pressionando às autoridades egípcias a libertarem o ativista e todos os outros presos políticos.
Por ter obtido cidadania britânica recentemente, o grupo também apela às autoridades britânicas para que intervenham no caso.
Entre as organizações signatárias do documento, estão Anistia Internacional, PEN Internacional, Serviço Internacional de Direitos Humanos (ISHR) e EgyptWide for Human Rights.
Ganhadores do Nobel também se unem em prol de ativista
O protesto às vésperas da COP27 também mobilizou ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura a pressionarem os líderes mundiais para cobrarem do Egito a libertação dos presos políticos, incluindo Alaa Abd el-Fattah.
A carta foi enviada à ONU, ao Conselho Europeu e aos chefes de Estado da França, Reino Unido, Estados Unidos e França, entre outros, por 15 ganhadores do Nobel de Literatura, incluindo a poetisa americana Louise Gluck, o britânico Kazuo Ishiguro e o turco Orhan Pamuk.
“Pedimos que vocês usem a oportunidade que está agora em suas mãos para ajudar os mais vulneráveis, não apenas aos que podem ser atingidos pela elevação do mar, mas também aos presos e esquecidos – especificamente no próprio país que tem o privilégio de hospedar o evento.”
“Pedimos que usem seus discursos em plenário para falarem os nomes dos presos, pedirem por liberdade e convidar o Egito a virar a página e se tornar um verdadeiro parceiro em um futuro diferente: um futuro que respeite a vida e a dignidade humanas.”
“Pedimos que tragam as vozes dos presos injustamente. A voz poderosa de Alaa Abd el-Fattah para a democracia está perto de ser extinta.”
Antes da cúpula, as forças de segurança egípcias prenderam quase 70 pessoas que estariam organizando protestos para a COP27, segundo informações da Al Jazeera citando grupos locais de direitos humanos.
Leia também | Egito volta a permitir que turistas fotografem no país sem licença prévia, mas punirá cliques ‘ofensivos à nação’