Londres – Quem sentiu falta de briga de família nos três primeiros episódios do documentário Harry & Meghan deve estar animado com os três próximos, pois o novo trailer da continuação da série, liberado pela Netflix nesta segunda-feira (12), sinaliza que desta vez pode haver críticas mais contundentes aos membros da realeza. 

Pelo menos essa foi a interpretação da mídia britânica, que nos três primeiros blocos do programa, exibidos em 7 de dezembro, foi demonizada por racismo e suposta invasão da privacidade de Harry e Meghan, tema central do início da série. 

No entanto, há chances de que as novas acusações sigam vagas. 

Nos trechos mais picantes do trailer liberado, Harry e Meghan se referem a “eles”, sem especificar quem seriam, para repetir reclamações antigas em um tom mais confessional do que documental, como prometeu a série vendida como um documentário. 

No clipe de 90 segundos, Harry diz que “eles estavam felizes em mentir para proteger William”, enquanto aparecem imagens dos dois irmãos caminhando juntos no funeral do príncipe Philip, em 2021. 

E “eles” nunca quiseram dizer a verdade para proteger a ele e a Meghan, disse o príncipe. Pelo menos no trailer, a reclamação não é dirigia a William, deixando implícito o autor do ataque ao irmão ou a quem quer que tenha mentido em nome dele. 

Os mesmos “eles” teriam ativamente “recrutado pessoas para disseminar desinformação”, segundo o empresário de tecnologia Christopher Bouzy, fundador do monitoramento de redes sociais Bot Sentinel, criado para combater discurso de ódio.

Uma pesquisa feita pela empresa de Bouzy identificou uma campanha de ódio direcionada contra o príncipe Harry e Meghan.

Não se sabe ainda quem são ‘eles’, e nem se o mistério será revelado quando os três novos episódios forem ao ar, no dia 15 de dezembro. 

No trailer, Harry e Meghan voltam a demonstrar ressentimento com o que foi classificado por ele como “gaslighting institucional”. 

Gaslighting é o termo usado para definir o ato de manipular uma pessoa vulnerável a partir de uma narrativa falsa, levando-a a duvidar de suas próprias convicções e a se tornar confusa ou angustiada. 

Meghan diz no trailer que não estava sendo jogada aos lobos, e sim dada com alimento a “eles” (supostamente a imprensa), sem especificar quem teria feito isso.

O tweet excluído pela Netflix

A confusão em torno de quem seriam os “eles” mencionados em Harry & Meghan aumentou com a suposta retirada de um tweet pela Netflix, assunto que virou conversa nas redes sociais. 

O primeiro tweet tinha um clip do trailer com a legenda citando a frase do príncipe Harry “eles ficaram felizes em mentir”. Já no site da Netflix, a legenda dizia: “A mídia britânica estava disposta a mentir”.

Um dos que chamou a atenção para a história foi Richard Eden, colunista do tabloide Daily Mail. 

Ele tuitou dizendo ser “intrigante” a exclusão, sugerindo que os advogados “devem estar nervosos com as acusações de mentira”. 

Segurança de Harry & Meghan

Uma aparente contradição no programa é a reclamação sobre retirada da segurança do casal, que teria motivado a partida para os EUA, onde supostamente estariam mais protegidos contra ataques.

Na cena inicial do trailer, Harry especula sobre “o que poderia ter acontecido com eles se não tivessem partido”, e em seguida Meghan diz que a segurança estava sendo retirada. 

Mas isso só aconteceu depois que eles deixaram o Reino Unido, em janeiro de 2020. Até a partida, eles viviam na residência Frogmore Cottage, nos domínios do Palácio de Windsor, e tinham segurança oficial.

Inicialmente Harry e Meghan  pretendiam continuar com funções oficiais na monarquia, combinando-as com atividades de caráter privado – como o contrato de US$ 100 milhões com a Netflix. 

Em 8 de janeiro de 2020, os Sussex revelaram em uma carta, supostamente pegando o Palácio de Buckingham de surpresa, que pretendiam rever seus papéis como membros ‘sênior’ da família real e trabalhar para se tornarem financeiramente independentes. 

Quando o duque e a duquesa de Sussex voaram para o Canadá e anunciaram seus planos de uma vida “intermediária”, sem servir à Coroa em tempo integral, a monarquia não concordou, e o casal deixou de fazer parte do núcleo de “working royals”. 

Eles se desligaram oficialmente dos postos de representação do país e da monarquia em 31 de março de 2020. Assim, pararam de contar com segurança paga pela realeza e pelo governo britânico ou por governos de outros países, como acontece quando representantes de Estado ou de Governo viajam para o exterior. 

Até o Canadá entrou na confusão. Como Inicialmente Harry e Meghan se radicaram no país onde ela havia morado, que faz parte da Comunidade Britânica das Nações (Commonwealth), arcou com a responsabilidade de fornecer segurança.

Até que no fim de fevereiro de 2020 o governo canadense anunciou que como eles deixariam de ser reconhecidos como “Pessoas Protegidas Internacionalmente”, cessaria a obrigação de continuar com o esquema. Em março eles se radicaram na California. 

Depois que as regras de viagem impostas pela pandemia foram relaxadas, em 2021, Harry iniciou uma batalha com o governo britânico, demandando segurança oficial como condição para vir ao país até mesmo para visitar a avó, a rainha Elizabeth.

Ele queria pagar pelo serviço, alegando que seguranças particulares não tinham acesso a informações de inteligência oficiais sobre possíveis ameaças a ele e à família. 

A briga foi para as manchetes, e Harry abriu um processo contra um tabloide por notícias relacionadas ao seu processo contra o governo britânico (e não contra a monarquia). 

O novo trailer de Harry & Meghan trailer mostra clips da mídia registrando a ida do casal para os EUA, que o príncipe chama de voo da liberdade.

Um deles, uma manchete do tabloide sensacionalista Daily Mirror, diz que a rainha teria ordenado um “hard Megxit”, ou seja, tratamento duro para os Sussex que decidiram pela separação de forma unilateral. 

No entanto, nunca houve oficialmente por parte da rainha uma ordem nesse sentido, embora a reprodução da capa do jornal sugira o contrário. 

Assim como nos três episódios iniciais de Harry & Meghan, o trailer procura criar expectativa nos fãs dos Sussex mostrando cenas caseiras, como a da duquesa arrumando bolas de gás para uma festinha na cozinha.

Ao fundo, a frase “eles queriam apenas ser livres e felizes”. 

Aparecem também imagens dos dois com os filhos, mostrando pouco da fisionomia de Archie e Lilibet. 

No final do trailer, Harry diz que a separação da família real que “era uma briga que ele achou que valia a pena encarar”. 

Após a entrevista bombástica com Oprah Winfrey em 2021, o documentário dirigido pela indicada ao Oscar Liz Garbus, foi anunciado como um evento global da Netflix, com Harry e Meghan compartilhando “o outro lado de sua história de amor”.

O contrato com a Netflix foi estimado em US$ 100 milhões. Os primeiros três capítulos foram recebidos com revolta pela imprensa britânica, acusada de racismo e de ter perseguido o casal de forma implacável, como ocorreu com a princesa Diana. 

Os comentários do duque e a duquesa de Sussex, que correm o risco de perder os títulos de nobreza que ganharam quando se casaram, foram considerados ofensivos à instituição monarquia e à memória da rainha Elizabeth II, que morreu em setembro. 

O Palácio de Buckingham disse que não vai se pronunciar sobre a série Harry & Meghan da Netflix, que está em segundo lugar entre os programas mais assistidos no serviço de streaming no Reino Unido. 

 A quinta temporada de The Crown está em quarto lugar.