Londres – As redes sociais causaram impacto profundo no jornalismo, e um deles foi o de transformar alguns jornalistas em celebridades que despertam mais atenção do que os próprios veículos em que trabalham. 

O Dia do Jornalista, comemorado em 7 de abril, foi criado em reconhecimento a um profissional de imprensa italiano radicado no Brasil, Líbero Badaró, que viveu no Século 19 e nunca poderia imaginar que colegas chegariam a ter mais de 10 milhões de seguidores. 

O Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo fez uma pesquisa para compreender em que medida o público que se informa pela internet presta mais atenção aos jornalistas do que aos veículos, e identificar os nomes mais populares em seis países: Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Finlândia.

O que é um jornalista aos olhos do público? 

O Reuters salientou que a visão do público sobre o que significa ser um jornalista agora é muito mais ampla do que “alguém que trabalha para a grande mídia”, podendo incluir YouTubers, podcasters e comediantes. 

Seja porque jornalistas de TV estão sendo mais hábeis em se posicionar nas redes sociais, tornando-se visíveis 24h por dia, ou porque a influência da TV ainda é esmagadora, profissionais de mídia impressa representam uma parcela ínfima entre os mais lembrados pelo público.

No Brasil, a taxa foi de 4%, e de 6% para jornalistas de meios digitais. 

Mais atenção a jornalistas ou aos veículos que representam?

A maioria disse prestar mais atenção aos veículos de imprensa nos mercados ao norte da Europa, como Finlândia, Alemanha e Reino Unido. No Brasil e na França, os nomes de jornalistas exercem mais atração. Nos EUA as opiniões são divididas. 

Dia do Jornalista pesquisa nomes populares Instituto Reuteres
Reprodução

A análise do instituto mostra que países como Finlândia, Alemanha e Reino Unido têm marcas de mídia historicamente fortes. Na Finlândia, 65% dos entrevistados dizem se informar por sites dessas mídias.

Por outro lado, audiências são mais baixas nos Estados Unidos (24%), França (15%) e Brasil (11%). Nestes países, a pesquisa identificou que os leitores são mais dependentes das redes sociais para se informar.

Outras explicações podem estar relacionadas aos tipos de jornalismo praticados em diferentes países. Redes públicas de mídia na Finlândia (Yle), Alemanha (ARD, ZDF) e Reino Unido (BBC) são bem fortes, diferentemente do que ocorre em outras nações onde o setor privado domina a indústria. 

Os jornalistas e âncoras que se destacaram na pesquisa do Instituto Reuters não são necessariamente os mais reconhecidos dentro do meio jornalístico ou premiados – e alguns são polêmicos, como o americano Tucker Carlson, da Fox News.

Mas segundo a pesquisa, aos olhos do público são os mais populares e em quem a audiência diz prestar mais atenção. Veja quem são e como segui-los nas redes.

Jornalistas mais populares nos seis países

Brasil

A grande maioria (86%) dos jornalistas citados pelos entrevistados no Brasil são apresentadores ou âncoras da TV aberta, e mais de quatro em cada dez (41%) trabalham para a TV Globo, enquanto 17%  são da Record ou Band. 

William Bonner, âncora do Jornal Nacional, encabeça a lista, seguido pelo apresentador José Luiz Datena e outra apresentadora da TV Globo, Maria Júlia Coutinho.

Bonner não é muito ativo nas redes sociais. Sua última postagem no Twitter, onde tem quase 10 milhões de seguidores, é de 2020.

No Instagram, o apresentador aparece de vez em quando. Em fevereiro, Bonner gravou um vídeo bem humorado para desmentir uma fake news de que teria morrido.

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José Luiz Datena também não é usuário frequente do Twitter, apesar de ter mais de 1 milhão de seguidores. Sua última aparição foi em junho de 2022 para dizer que não seria candidato ao Senado. 

O apresentador da TV Band usa mais o Instagram, com 868 mil seguidores.  Datena costuma publicar selfies com famílias e amigos, e trechos de seu programa. 

Já Maria Júlia Coutinho é usuária mais frequente da rede de Elon Musk. Maju, como é conhecida, costuma republicar posts que falam dela, além de divulgar seus trabalhos no Fantástico.

No Twitter ela tem 656 mil seguidores, enquanto no Instagram passa de 1,6 milhão. 

O estudo apontou ainda o que chamou de uma “cena independente animada” no Brasil, com canais populares do YouTube apresentados por ex-apresentadores de TV, como Leda Nagle, que tem 1,3 milhão de inscritos,  e estrelas mais jovens como Zoe Martinez, que combina opiniões políticas e entretenimento. 

Estados Unidos

A pesquisa do Reuters constatou que os jornalistas mais populares nos EUA são os que expressam maior grau de opinião e partidarismo político.  

Os dez mais reconhecidos são apresentadores de TV, dos quais cinco da Fox News, a emissora do empresário Rupert Murdoch alinhada a Donald Trump e que enfrenta um processo bilionário movido por uma empresa de urnas eletrônicas acusada pela rede de fraude nas eleições. 

O polêmico apresentador da Fox News Tucker Carlson, que em uma entrevista afirmou que “tentava não mentir na TV”,  foi o mais citado pelos entrevistados norte-americanos. O Twitter do conservador tem 5,9 milhões de seguidores.

Em segundo vem a âncora da MSNBC Rachel Maddow. No Twitter, a progressista tem 10,4 milhões de seguidores, fala sobre política americana e costuma ser um contraponto a Carlson.

Em terceiro lugar está Sean Hannity, também da Fox. O apresentador tem 6,3 milhões de seguidores e costuma fazer publicações defendendo o ex-presidente Donald Trump.

Reino Unido

Os jornalistas mais populares no Reino Unido fazem a cobertura política e aparecem regularmente na TV. No topo da lista está Laura Kuenssberg, da BBC.

Com 1,4 milhão de seguidores no Twitter, ela se notabilizou como editora de política da rede, aparecendo diariamente na TV em reportagens ou comentários sobre o Brexit, a covid e as crises políticas que o país enfrentou nos últimos dois anos. Em 2022 deixou o posto e agora apresenta um programa de análise política aos domingos. 

Na sequência, Robert Peston, da ITV, tem 1,3 milhão de seguidores. Também escritor, Peston costuma falar de política e economia na rede social.

Já o apresentador Huw Edwards foi o terceiro mais citado na pesquisa, apesar de ter apenas 181 mil seguidores no Twitter. O âncora da BBC costuma postar com frequência sobre seus trabalhos na TV estatal.

https://twitter.com/thehuwedwards/status/1642098279511908352

Na lista dos 10 mais citados, quatro são de jornais impressos, todos do The Guardian (os comentaristas Marina Hyde, John Crace, Owen Jones, e a editora de política Pippa Crerar, que na pesquisa ainda aparece listada como pertencendo ao jornal em que trabalhou anteriormente, o Mirror. 

Uma explicação para esse comportamento é que as redes de TV britânicas têm programas noturnos analisando as capas dos jornais do dia seguinte, e com frequência profissionais da mídia impressa estão na bancada como convidados. 

França

Na França, a força da TV para popularizar jornalistas é ainda maior do que no Brasil. Pascal Praud, apresentador da CNews, foi o mais citado na pesquisa. O âncora tem 284 mil seguidores no Twitter, mas não costuma escrever muito na plataforma, se restringindo a retuitar outras contas.

A apresentadora Anne-Claire Coudray costuma divulgar ações beneficentes em seu Twitter, onde tem quase 47 mil seguidores. Foi a segunda mais citada na pesquisa de jornalistas mais populares do Instituto Reuters.

Outro apresentador, Jean-Jacques Bourdin, da RMC, tem 555 mil seguidores no Twitter. Nos últimos dias, Bourdin tem criticado os protestos no país após a reforma da Previdência apresentada pelo governo.

Alemanha

Na Alemanha, os jornalistas mais populares citados na pesquisa são da estatal ZDF, e a maioria não usa as redes sociais como seus colegas de outros países. O primeiro é Marietta Slomka, que não tem contas oficiais nas duas principais redes sociais.

Já o segundo da lista é Claus Kleber, com 386 mil seguidores. O âncora publicou pela última vez em novembro do ano passado, quando comemorou um prêmio recebido por colegas de emissora.

O terceiro jornalista alemão é Peter Kloeppel, que publicou no Twitter pela última vez em dezembro do ano passado. O âncora da RTL tem 83,2 mil seguidores.

Finlândia

A primeira da lista é Sanna Ukkola, com 55 mil seguidores no Twitter. A apresentadora da AlfaTV faz comentários políticos em sua rede social e divulga suas colunas para o site Iltalehti.

Matti Rönkä, com 18 mil seguidores no Twitter, foi o segundo mais votado entre jornalistas mais populares. O âncora da Yle costuma falar sobre a política local, guerra entre Rússia e Ucrânia, futebol e sua série de livros.

O colunista Timo Haapala foi outro bem citado na pesquisa com presença discreta online. Uma conta associada a ele com quase 70 mil seguidores costuma retuitar outras contas com comentários sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, mas nenhuma postagem do próprio jornalista.

No país, há mais foco em profissionais da mídia impressa, com mais de um terço (37%) dos nomes de jornalistas mais populares sendo colunistas ou repórteres.

Diversidade em baixa na lista dos mais populares

Nos seis mercados pesquisados pelo Instituto Reuters, a maioria dos jornalistas citados são homens, com uma proporção de 71% no Brasil e 70% nos Estados Unidos. 

Apenas a Finlândia está perto do equilíbrio de gênero de jornalistas apontados – 59% são homens, refletindo a menor visibilidade das mulheres na mídia

Analisando-se os veículos, a BBC se aproxima do equilíbrio de gênero em jornalistas citados, com 46% das menções sendo mulheres. A taxa é semelhante à da ZDF (47% de mulheres) e da France Télévisions (53% de mulheres). 

O estudo identificou também a sub-representação racial na média dos seis países. No Reino Unido, 9% dos jornalistas citados não são brancos, enquanto nos Estados Unidos o número é de 16%.  

Maria Julia Coutinho é uma exceção dupla à regra – uma jornalista mulher e negra na lista dos três mais populares do Brasil.