Em mais um ato de repressão à imprensa na Nicarágua, o jornalista Victor Ticay foi preso por transmitir em seu canal do Facebook a procissão de Páscoa na cidade de Nandaime, no sudoeste do país. 

A denúncia foi feita pela organização Alertas Liberdad de Prensa Nicaragua. 

Ticay, que também é repórter da emissora de TV Canal 10, foi preso pela Polícia Nacional na quinta-feira, 6 de abril, por desrespeitar a determinação do governo do presidente Daniel Ortega, que proibiu expressões públicas de religião no país. 

Desde sua prisão, pessoas não identificadas assediaram a esposa e a mãe do jornalista, denunciou a Alertas Libertad de Prensa, que disse não ter notícias sobre a situação do jornalista. 

O vídeo postado por Ticay em sua página de notícias no Facebook, La Portada, foi retirado do ar.

Nicarágua em guerra com a igreja 

O governo abriu uma guerra com a igreja em 2022, expulsando freiras católicas e fechando rádios rádio religiosas

O bispo nicaraguense Rolando Álvarez foi condenado a mais de 26 anos por crimes  de “traição contra a pátria “.

A proibição de atividades religiosas em vias públicas foi anunciada no início deste ano, começando com a procissão do Jesus Sacramentado, que acontece no dia 1º de janeiro.

Também foram proibidas festas de rua em homenagens a santos padroeiros. 

O Cenidh (Centro Nicaraguens de Derechos Humanos) publicou um vídeo no Twitter mostrando como as celebrações de Páscoa estão sendo reprimidas este ano na Nicarágua. 

“O governo da Nicarágua voltou a mostrar pouco respeito pelo direito à liberdade de expressão em meio a um clima absurdo de censura total, que se estende até mesmo às atividades religiosas”, disse o Diretor de Programas do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), Carlos Martínez de la Serna.

“As autoridades devem libertar imediatamente o jornalista Victor Ticay e cessar sua campanha implacável para intimidar e ameaçar a imprensa em silêncio ou exílio”, acrescentou. 

O relator especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Pedro Vaca, disse em um tweet: ” A ausência do estado de direito e a arbitrariedade com que as autoridades se comportam aumentam a preocupação”. 

Desde a reeleição de Ortega para seu quarto mandato consecutivo, em 2021, a repressão à imprensa se intensificou no país. O La Prensa, principal jornal de oposição, perdeu sua sede e agora funciona a partir do exílio. 

Em fevereiro, os mais conhecidos jornalistas que estavam presos, incluindo dirigentes do La Prensa, foram deportados para os EUA, junto com políticos e ativistas.