Londres – A rede pública de TV americana PBS juntou-se à National Public Radio (NPR) e também suspendeu o uso do Twitter, em reação à decisão do bilionário Elon Musk de rotulá-la como “mídia financiada pelo Estado”.

Inicialmente o rótulo era até pior: “mídia afiliada ao Estado”, mesmo utilizado para redes da China e da Rússia. 

A britânica BBC também foi informada de que receberia a mesma sinalização em sua conta, mas em uma entrevista surpreendente a um repórter da emissora na última terça-feira, o bilionário disse que iria reconsiderar e usar uma outra expressão, “financiada publicamente”. 

No entanto, a mesma medida não foi estendida às duas redes americanas, que se enfureceram e deixaram de compartilhar conteúdo no Twitter respectivamente na quarta (12) e na quinta-feira (13). 

Ao anunciar a decisão, a NPR salienta em uma postagem no Twitter que “produz jornalismo relevante e independente”. E informa onde o conteúdo pode ser encontrado. 

Com sede em Washington, a rede engloba mais de 1 mil emissoras locais públicas nos EUA, a maioria mantidas por escolas, faculdades e administrações locais. 

Em nota, a empresa disse:

“As contas institucionais da NPR não estarão mais ativas no Twitter porque a plataforma está tomando medidas que minam nossa credibilidade ao sugerir falsamente que não somos editorialmente independentes.

 Não estamos colocando nosso jornalismo em plataformas que demonstraram interesse em minar nossa credibilidade e a compreensão do público sobre nossa independência editorial.”

Ao jornal americano The Hill, um porta-voz da PBS, a rede de TV pública que tem mais de 2 milhões de seguidores no Twitter, confirmou que pararam de tuitar tão logo souberam da mudança e “não têm planos de retornar”. 

PBS empresa de mídia Twitter

A rede afirmou que a sinalização “deixa a impressão equivocada de que a PBS é totalmente financiada pelo governo federal”. 

A PBS é sustentada principalmente por organizações públicas e filantrópicas, com apenas uma pequena parte de nosso financiamento vindo de entidades afiliadas ao governo.”

Musk retrucou em sua conta no Twitter postando trechos de textos em que a NPR diz que o financiamento público é essencial para a sua operação, e propõe cessar esses financiamentos (“defund @NPR) 

Por que as redes reagiram a  Elon Musk 

O rótulo de mídia estatal já era usado pelo Twitter antes da era Musk para sinalizar redes de mídia totalmente controladas por governos, como a RT da Rússia e a CGTN da China, por serem vistas como órgãos de propaganda política governamental e instrumentos para disseminar desinformação. 

Pouco antes ou depois da invasão da Ucrânia, a União Europeia e alguns países, como o Reino Unido, bloquearam o acesso á RT. 

O argumento em favor das demais redes é que diferentemente das emissoras da Rússia e da China, elas são públicas sem fins lucrativos, como empresas de mídia privadas.

Mas não diretamente controladas nem inteiramente financiadas por verbas governamentais.

A Europa tem um histórico da chamado Public Service Media (PBS, na sigla em inglês) com redes públicas importantes e com credibilidade, como a Deutsche Welle alemã, a RAI italiana e a Sveriges Television sueca.

Elas estão reunidas em uma associação com mais de 100 membros. 

Algumas recebem verbas de fundos governamentais aprovados pelos Parlamentos, e outras têm formas diferentes de financiamento.

A BBC tem un braço comercial que produz e vende programas para o mundo inteiro, e parte de sua receita vem de uma taxa paga pelas residências que recebem o sinal. 

A rede procura manter sua independência, a ponto de entrado em rota de colisão com o governo nos últimos dois anos por ser considerada parcial para o lado da oposição. 

A batalha com as grandes redes americanas aparentemente faz parte do desconforto do bilionário Elon Musk com a imprensa, que o critica desde que comprou o Twitter e fez a plataforma mergulhar em uma crise admitida por ele próprio

Em março, ele tomou uma medida extrema contra jornalistas que procuram a assessoria de imprensa do Twitter: todas as consultas são respondidas com um emoji em forma de cocô sorridente. 

No entanto, a guerra com o jornalismo pode acabar privando o Twitter de uma de suas forças, que é justamente ser um canal de notícias para muitas pessoas que seguem suas mídias favoritas por meio da plataforma.