Londres – Organizações de defesa da liberdade de imprensa se uniram para condenar a ONU (Organização das Nações Unidas) por barrar a entrada de jornalistas de Taiwan que tinham obtido credenciamento prévio para cobrir a Assembleia Mundial de Saúde, em Genebra, a pedido da China.
Quando foram retirar suas credenciais, Judy Tseng e Tien Hsi-ju receberam de funcionários da ONU a informação de que não poderiam cobrir o evento porque têm passaportes de Taiwan, sob o argumento de que seu país não é oficialmente reconhecido.
A recusa foi confirmada pela Agência Central de Notícias oficial de Taiwan (CNA), para a qual trabalham, e por uma declaração do Clube de Correspondentes Estrangeiros de Taiwan.
China pediu veto a jornalistas de Taiwan
A assembléia está reunindo especialistas em saúde pública e médicos dos Estados membros até o dia 30 de maio em Genebra. A Assembleia da OMS também excluiu Taiwan de participar do evento como observador, após a oposição da China.
O governo chinês afirma que Taiwan é uma província da China, que pretende anexar, e se opõe a quaisquer compromissos bilaterais ou multilaterais que reforcem a soberania do Estado.
Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), os funcionários da ONU explicaram que a recusa foi decorrente de exigência de autoridades chinesas.
A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) relatou que quando questionado sobre como representantes da China sabiam do pedido dos profissionais de Taiwan, o funcionário da ONU disse: “eles sabem de tudo”, antes de se desculpar.
O funcionário acabou negando a entrada da dupla, alegando que perderia o emprego se o fizesse e sugerindo que apelassem para a OMS.
“A decisão da Organização Mundial da Saúde de impedir que jornalistas taiwaneses cubram o encontro mais importante para a saúde global é profundamente preocupante, especialmente depois que a pandemia da covid-19 provou que o compartilhamento de informações precisas sobre tais questões é crucial”, disse Iris Hsu, representante do CPJ para a China.
“Proibir a cobertura de repórteres taiwaneses sobre notícias importantes relacionadas à saúde por pressão da China vai contra a missão da OMS de promover a saúde global.”
“A Agência Central de Notícias e profissionais de imprensa de Taiwan exigem que as Nações Unidas respeitem o direito dos jornalistas de fazerem seu trabalho independentemente de suas nacionalidades”, disse Chris Wang, editor-gerente da CNA, ao CPJ.
Nos anos anteriores, os meios de comunicação taiwaneses foram impedidos de cobrir a assembléia e seu credenciamento de imprensa foi negado.
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A Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que lista a China em penúltimo lugar em seu ranking global de liberdade de imprensa, também protestou.
“Recusar o credenciamento de jornalistas com base em sua nacionalidade ou localização geográfica de seu registro de mídia é claramente discriminatório e contra o direito do público à informação. Conclamamos as Nações Unidas a abrir seus eventos a todos os jornalistas e meios de comunicação, independentemente de sua origem geográfica”, disse Cédric Alviani, Diretor da RSF para o Leste Asiático.
A oficial de comunicações da OMS, Amna Smailbegovic, disse ao CPJ que o Serviço de Informações de Genebra da ONU lida com os credenciamentos para a assembléia.
Rolando Gómez, chefe da seção de imprensa e relações externas do Serviço de Informações de Genebra da ONU, informou ao CPJ que as instalações da ONU são abertas apenas para aqueles que possuem identificação de um Estado membro da ONU.
“Essa é a regra não só para jornalistas, mas para qualquer participante de um evento da ONU”, disse Gómez. “O pedido de credenciamento desses dois jornalistas não foi aprovado, mas ficou suspenso, aguardando o envio da documentação exigida”, justificou.
No entanto, a CNA apresentou confirmação de que os pedidos de credenciamento haviam sido aprovados. Os formulários foram preenchidos usando a Tailândia como país de referência, já que Taiwan não consta na lista. Mas nas observações, Judy Tseng e Tien Hsi-ju informaram que tinham passaporte de Taiwan.
A RFS afirma que a China, que reivindica a soberania sobre Taiwan, “tem feito lobby de todas as formas possíveis” para isolá-la no cenário internacional, inclusive impedindo seus jornalistas de cobrirem eventos internacionais.
Taiwan ocupa o 35º lugar entre 180 no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa RSF de 2023 . A China, o maior carcereiro de jornalistas do mundo, com pelo menos 113 detidos, ocupa o 179º lugar.