Na semana em que se comemorou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a China mostrou que não tem o que celebrar após a divulgação de novas prisões de jornalistas.

Na última semana de abril, o jornalista taiwanês Li Yanhe, editor-chefe da Gusa Publishing House, foi detido sob a acusação de “crimes de segurança nacional”.

Dois dias antes, a família de outro jornalista, o experiente Dong Yuyu, divulgou sua prisão. Ela ocorreu em fevereiro, após um almoço com um diplomata japonês na capital chinesa Pequim, e estava sendo mantida em segredo. 

O contexto das prisões

Dong Yuyu foi acusado por suposta “espionagem” e pode receber uma sentença de até 10 anos de cárcere. Yuyu atuou como colunista do jornal Guangming Daily, do governo chinês, por mais de três décadas.

O diplomata com quem o jornalista almoçou também foi detido e, após algumas horas, liberado. Sua identidade não foi revelada.

A divulgação tardia da prisão de Yuyu se deu pela esperança da família de uma soltura iminente, segundo informações da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ).

Contudo, a formalização das acusações fez com que seus familiares informassem os meios de comunicação e as organizações de direitos humanos de jornalistas sobre a prisão.

Ainda não há data oficial de julgamento para Dong Yuyu.

A divulgação da outra prisão que revela o contexto de pouca liberdade de imprensa na China aconteceu na mesma semana.

Li Yanhe trabalha como editor-chefe da Taiwan Gusa Publishing. Ele ficou desaparecido por uma semana até a confirmação de sua detenção, no dia 26 de abril. 

Yanhe assina seus escritos sob o pseudônimo de Fu Cha e vive em Taiwan desde 2009. O profissional viajou para Xangai em abril para visitar sua família, ficando incontactável na última semana do mês. 

Sob o pseudônimo Fu Cha, Yanhe publicou livros críticos que tematizam o Partido Comunista da China e a mídia de Pequim.

Pouca liberdade de imprensa na China

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) condenou as “detenções arbitrárias de Yuyu e Yanhe” e pediu ao governo chinês que “respeite a liberdade de imprensa e garanta suas libertações imediatas”.

Segundo a FIJ, “a prisão de Dong Yuyu e a detenção de Li Yanhe destacam os profundos desafios enfrentados por jornalistas e trabalhadores da mídia na China”.

A FIJ condena o tratamento arbitrário e excessivo desses dois respeitados jornalistas e insta as autoridades chinesas a se comprometerem a proteger a liberdade de imprensa, conforme consagrado em sua constituição, garantindo sua libertação imediata e apuração de todas as acusações.

De acordo com o levantamento World Press Freedom Index, da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a China é o maior carcereiro de jornalistas do planeta “e seu regime conduz uma campanha de repressão contra o jornalismo e o direito à informação em todo o mundo”.

O Brasil ocupa o 92º lugar

Atualmente, o gigante asiático tem 101 profissionais de imprensa atrás das grades. 

Em dados absolutos – que incluem indicadores políticos, econômicos, legislativos, sociais e de segurança – o levantamento da RSF mostra a China no penúltimo lugar em relação à liberdade de imprensa no globo, sendo menos pior apenas que a Coreia do Norte. 

Esse número representa uma queda de quatro posições em relação ao ano anterior. 

Em todas as categorias do indicador da RSF, a China se encontra entes os 20 piores países do mundo para a atividade jornalística e a liberdade de imprensa.