O jornalista Marco Aurelio Ramírez Hernández, 69 anos, especialista na cobertura de crimes, foi assassinado na cidade de Tehuacán, no estado de Puebla, México.
A execução ocorreu no dia 23, em plena luz do dia, quando homens armados em uma motocicleta dispararam contra Hernandez, em seu carro, prestes a sair de casa.
Entidades como o Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pressionam as autoridades para uma investigação do atentado, que possui indícios de retaliação em relação ao trabalho do profissional e intimidação da imprensa, práticas comuns no país que se tornou um dos mais perigosos do mundo para a imprensa nos últimos anos.
Jornalista assassinado cobria crimes em região violenta no México
Comentarista em um programa da rádio local Stereo Luz FM e ex-correspondente do jornal Central, de Puebla, Ramirez era veterano de investigações criminais, segundo contam outros repórteres ao RSF.
Ex-colegas contam que o trabalho dele envolvia investigações de temas difíceis, como a exposição de um padre pedófilo protegido pelo alto escalão da igreja católica no país.
Além da carreira de investigação de crimes, o jornalista assassinado no México foi consultor de assuntos de segurança para a prefeitura de Tehuacán, em 2019, por nove meses.
Durante esse período, Ramírez auxiliou na detenção de um grupo criminoso local envolvido em tráfico de combustível, drogas e pessoas.
No entanto, o cartel denunciado retomou as atividades no ano passado, segundo jornais locais — o que levanta as suspeitas do RSF de que a morte do jornalista seja motivada por vingança.
Artur Romeu, diretor do escritório da RSF na América Latina, condena a execução de Ramírez e exige que a morte do repórter não seja mais um número em uma longa lista de casos sem solução:
“(…) nós convocamos a Procuradoria-Geral do Estado de Puebla a conduzir uma investigação rápida e transparente para determinar se [a morte] estava relacionada às atividades dele como agente público ou ao seu jornalismo.”
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Procuradoria-Geral do México afirma identificar autores do crime
Na última quinta-feira (25), a Procuradoria-Geral do Estado de Puebla, no México, informou ter identificado suspeitos dos crimes contra o jornalista assassinado.
Em uma coletiva de imprensa, o procurador Gilberto Higuera Bernal afirmou ter identificado a identidade dos responsáveis pelo crime.
“Temos informações que nos permitem identificar quem foram os autores deste feito”, comentou ele.
Segundo a agência de notícias EFE, o procurador afirmou que o autor dos disparos fugiu em um veículo acompanhado do motorista.
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) do México também se comprometeu a pressionar as autoridades na investigação da morte de Ramírez.
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Atentado reforça insegurança para jornalistas no México
De acordo com a contagem da RSF, a morte do jornalista investigativo é mais um retrato de um duro panorama de crimes contra a imprensa no México.
Só no ano passado, 14 jornalistas foram assassinados no país — dez dessas mortes relacionadas diretamente ao exercício da profissão, oito delas recebendo ameaças prévias.
Outras contagens, como a da Unesco, aponta 19 assassinatos de profissionais da imprensa no território mexicano em 2022. Para fins de comparação, a Ucrânia, país em guerra, apresentou dez.
A organização aponta que a impunidade nestes assassinatos de jornalistas permanece em 86%, “criando um efeito inibidor no trabalho dos jornalistas e colocando em risco a liberdade de expressão em todo o mundo”.
Segundo a RSF, mais de 150 profissionais foram executados no país desde 2000, tornando-o um dos mais perigosos para a mídia.
Atualmente, o México ocupa a 128ª posição do Global Press Freedom Index, índice que mede a liberdade de imprensa mundial em 180 países.
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