A jornalista aposentada e integrante do Sindicato Nacional de Jornalistas da Ucrânia (NUJU) Iryna Levchenko foi presa de forma ilegal na cidade de Melitopol, em Zaporizhizhia, região no sudeste do país tomada por tropas russas.
O desaparecimento da repórter foi relatado pelo NUJU na última quarta (31). A organização diz que não teve mais retorno dela ou de seu marido, Oleksandr Levchenko desde 6 de maio.
As Federações Internacional e Européia de Jornalistas (IFJ e EFJ) exigiram a libertação imediata dos dois. O incidente agrava tensões para a imprensa na Ucrânia, país que mesmo tendo visto sua posição melhorar nos índices mundiais de liberdade de imprensa, ainda é um ambiente de risco para os profissionais do setor.
Jornalista presa não atuava na cobertura do conflito
Segundo uma declaração do NUJU que repercutiu na imprensa nacional e regional, Levchenko e o marido estão presos sob acusações infundadas de terrorismo.
Os dois estão detidos em condições desumanas, quase sem comida, no fundo de um porão frio sob um chão de concreto, sujeitos a tortura física e moral, prossegue a instituição.
Fontes ouvidas pelo NUJU contam que Irina foi transportada para outro lugar na região ocupada da Ucrânia, e que o paradeiro da jornalista presa ainda é desconhecido.
Levchenko possui um histórico de cobertura para a imprensa local, tendo trabalhado recentemente no impresso Noviy Den (Novo Dia, em tradução aproximada) e para os veículos Telegraf e Fakty.
No entanto, nem ela nem o marido estavam em atividade no momento da detenção, afastados de atividades jornalísticas por problemas de saúde.
As condições injustas da detenção do casal preocupam entidades de defesa à liberdade de imprensa. O presidente do NUJU, Sergiy Tomilenko, declarou:
“A prisão ilegal (…) é o desafio mais recente das autoridades que desafiam todas as normas e leis internacionais. É uma desconsideração cínica aos direitos humanos e profissionais dos jornalistas.”
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Prisão é exemplo da insegurança para imprensa na Ucrânia
A jornalista presa na região ocupada da Ucrânia também foi defendida em uma declaração conjunta da IFJ e EFJ, lembrando as autoridades de que eles são responsáveis pela vida dos profissionais de mídia detidos.
Embora a detenção dos Levchenko tenha ocorrido por ação de tropas russas, a condição agrava, em termos gerais, a prática jornalística no país, uma vez que ambos os lados do conflito cometem infrações contra a imprensa, incluindo ataques diretos do exército russo a profissionais.
Desde o início do conflito, a Ucrânia subiu no Global Index Press Freedom, ranking mundial de liberdade de imprensa (79ª posição), enquanto a Rússia apresentou uma queda (164ª).
Apesar do distanciamento, a nação invadida tem pontos controversos, como uma nova lei de mídia de 2022 que viabiliza ao governo ucraniano fechar veículos sem processo judicial, a pretexto de conter desinformação russa.
O país também possui registros de proibição de acesso da mídia à linha de frente e cassação de credenciais de jornalistas sob acusações de espionagem — gestos criticados por ONGs que defendem liberdade de imprensa.
No momento, pelo menos 14 jornalistas estão atrás das grades em território ucraniano, segundo a Plataforma para a Segurança dos Jornalistas do Conselho da Europa.
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