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Pesquisas nos EUA sinalizam desencanto de jornalistas e público com Twitter na ‘era Musk’

Elon Musk adquiriu o Twitter em 2022

Elon Musk adquiriu o Twitter em outubro de 2022 (Imagem: Marcin Paśnicki / Pixabay)

Londres – A compra do Twitter por Elon Musk não causou uma debandada de usuários provocando riscos imediatos para o futuro da empresa, como alguns chegaram a apostar – embora celebridades tenham feito barulho ao sair em protesto contra o risco de aumento na desinformação a partir do relaxamento da moderação e volta de notórios teóricos da conspiração. 

No entanto, efeitos do terremoto Musk começam a se fazer sentir.

Pesquisas recentes do Pew Research Center e do Tow Center constataram respectivamente o desencanto de jornalistas e do público com o “novo Twitter”.

Futuro do Twitter: jornalistas tuitando menos 

O Tow Center, que faz parte da Columbia Graduate School of Journalism, entrevistou 4 mil jornalistas de 19 veículos de imprensa dos EUA, e quantificou postagens feitas entre 1º de junho de 2022 e 30 de janeiro de 2023.

O resultado mostrou que o número médio de tweets diários caiu 3%. Pode não parecer muito, mas as quedas mais acentuadas aconteceram entre profissionais de veículos mais relevantes e confiáveis. 

Apenas 10 entrevistados desativaram suas contas. Em uma entrevista para a revista Columbia Journalism Review, Darren Linvill,  pesquisador e professor de mídia social da Clemson University, observou que não é tão fácil deixar a plataforma, onde profissionais de imprensa construíram redes poderosas de contato e influência. 

Linvill fez uma distinção sobre deixar o Twitter e deixar ‘mesmo’ o Twitter.

“Poucas pessoas farão o encerramento dramático de suas contas, mas haverá mais pessoas que lentamente pararão de usar a plataforma”, apostou. 

Foi o que a pesquisa constatou. Os que mais desaceleraram no Twitter foram os que trabalham no New York Times (6%), seguidos pelos do Los Angeles Times (5%) e os da rede pública NPR (20%).

Por outro lado, o estudo mostrou que o ambiente de vale-tudo criado por Musk estimulou profissionais que trabalham em veículos de extrema-direita a usar mais o Twitter. 

Profissionais da Fox News, que tuitavam em média 3,9 vezes por dia, passaram a postar 4,4 vezes diariamente.

Entre os do RedState o aumento foi de 27%, passando de 12,8 para 16,3 tweets por dia. O campeão foi o Washington Times, cujos profissionais postaram 31% mais no Twitter. 

A tendência não surpreende, visto que Elon Musk abriu os braços para figuras nocivas como o influenciador misógino britânico Andrew Tate, que está em prisão domiciliar enquanto promotores seguem com investigações sobre crimes de tráfico humano, estupro e formação de quadrilha para explorar mulheres sexualmente.

A conta está ativa, com postagens que atingem quase 1 milhão de visualizações promovendo ódio a mulheres, misticismo e promessas de ganhar dinheiro fácil. 

Um exemplo de jornalista muito à vontade nesse novo Twitter é Tucker Carlson, ex-estrela da Fox News, que foi demitido depois que a emissora teve que fazer um acordo de US$ 787 milhões com a empresa de urnas eletrônicas Dominion, que a processava por difamação. 

Duas semanas depois de ser dispensado, Carlson anunciou que vai se estabelecer profissionalmente no Twitter, em vez de aceitar convites de outras redes de extrema direita. 

Não é difícil imaginar o motivo. Ele sabe que no Twitter sob Musk não será incomodado quando vociferar contra vacinas para a covid ou sugerir que as eleições que deram a vitória a Joe Biden foram fraudadas. 

Alguns jornalistas optaram por redes alternativas, como a Mastodon, que não decolaram. Outros decidiram transformar suas contas em privadas, como o próprio reitor da escola de jornalismo de Columbia, Jelani Cobb. 

O número dos que deixaram a plataforma ou passaram a tuitar menos não é suficiente para quebrar o Twitter.

Mas é suficiente para confirmar a tese de que a rede social mais importante para o jornalismo em vários países, sobretudo nos EUA, perde na qualidade e na confiabilidade do conteúdo. 

Em outra pesquisa, desencanto do público com o Twitter 

Saindo do mundo do jornalismo, usuários comuns também demonstram não estar tão à vontade nesse novo Twitter, segundo pesquisa do Pew Research Center feita em março. 

Seis em cada dez americanos que usaram o Twitter nos últimos 12 meses dizem que fizeram uma pausa na plataforma por algum tempo.  

Os pesquisadores também indagaram sobre a intenção de continuar no Twitter nos próximos 12 meses, constatando um comportamento parecido com o dos jornalistas.

Setenta por cento dos usuários Republicanos disseram estar propensos ou extremamente propensos a continuar na plataforma. Entre os Democratas, a taxa cai para 53%. 

O lançamento da candidatura de Ron DeSantis no Twitter deve servir para aprofundar ainda mais essas diferenças partidárias na plataforma, afetando a pluralidade de opiniões. 

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