A morte do ex-primeiro-ministro da Itália e atual senador Silvio Berlusconi, de 86 anos, nesta segunda-feira (12), tira de cena uma personalidade comparável a poucas no mundo – um político que comandou o país três vezes, sobreviveu a processos judiciais a ponto de ser reeleito senador aos 85 anos, inscreveu seu nome na história do futebol e transformou a indústria da mídia na Itália. 

Dono do Mediaset, um dos maiores conglomerados de mídia do país, Berlusconi foi fundador do partido Força Itália, mantendo ao mesmo tempo carreira política e o protagonismo como magnata da mídia.

Seu status de popstar foi consagrado em 2009, quando a revista Rolling Stone o elegeu rockstar do ano, em homenagem ao seu ‘estilo de vida digno do maior rock star’.

Berlusconi  presidiu o AC Milan por 31 anos e era proprietário do Monza desde 2018, time que tirou da terceira divisão e levou para a primeira, um fato inédito na história do clube.

A morte de Silvio Berlusconi aconteceu no hospital San Raffaele, em Milão,onde ele voltou a ser internado na sexta-feira, depois de uma batalha contra uma pneumonia agravada pela leucemia crônica. 

Berlusconi era um dos homens mais ricos de Itália, com uma fortuna estimada pela revista Forbes em 6,4 mil milhões de euros.

Berlusconi faz sucesso no TikTok

Mesmo já doente, ele continuou mostrando sua vontade de se manter na linha de frente na política e antenado com as técnicas de mídia. Em 2022, o político mostrou que continuava contemporâneo, criando um perfil no TikTok.

Com vídeos bem humorados no TikTok e alguns reproduzindo trechos de suas falas no Senado italiano, Berlusconi tinha 772 mil seguidores. Algumas postagens já passaram de 10 milhões de visualizações.

A ideia surgiu com a redução da idade mínima para votar em senadores de 25 para 18 anos. Isso representou um aumento de mais de 4 milhões de potenciais eleitores. 

E deu certo. Berlusconi acabou sendo eleito senador no ano passado.

Morte de Berlusconi encerra trajetória única 

Ele começou a carreira na área de construção civil, mas em 1973 criou a TeleMilano, inicialmente destinada a transmitir programação para propriedades de sua própria empresa.

Na década de 80, a conexão com o então primeiro-ministro italiano Betino Craxi e um tino comercial apurado levaram Berlusconi a aproveitar a oportunidade de quebrar o monopólio da TV estatal RAI, no momento em que crescia a demanda por mais canais.  

Ele o fez com maestria, investindo fortemente para atrair talentos da própria RAI a peso de ouro e contando com a simpatia do Estado para ganhar concessões.

Na TV italiana, os apresentadores de programas jornalísticos e de entretenimento são a pedra fundamental, e eles estavam nos canais da Mediaset. 

O grupo de mídia de Berlusconi é influente e respeitado, com canais de jornalismo, entretenimento e esportes em TVs abertas e fechadas, além de uma plataforma de streaming. 

Como efeito colateral, ele ajudou a própria mídia estatal, forçando a RAI  se modernizar para encarar um concorrente poderoso. 

Berlusconi estendeu o império de mídia para o jornalismo impresso e para o segmento editorial, com os títulos Il Giornalli e a editora Mondadori, exercendo influência sobre os livros publicados no país.

Há outros chamados “media tycoons” na história atual ou recente da mídia, como Rupert Murdoch e os brasileiros Roberto Marinho, já falecido, e Silvio Santos, ainda em atividade.

Mas nenhum deles combinou como Berlusconi o protagonismo político, a influência sobre a opinião pública com um jornalismo respeitado e a capacidade de gerar uma máquina de receita, virando um dos maiores bilionários do mundo. 

Berlusconi na política 

A morte de Silvio Berlusconi encerra também uma carreira política marcada por sucessos e crises.

Ele ocupou o cargo de primeiro-ministro durante nove anos somando suas três passagens, sendo o que por mais tempo permaneceu no cargo no pós-guerra. Foi também o terceiro com mais tempo desde a unificação da Itália, atrás de Benito Mussolini e Giovanni Giolitti.

Durante essas gestões, ele acumulou polêmicas, como acusações de assédio sexual, corrupção e envolvimento com a máfia.

Desde 2010, Berlusconi foi investigado pelo Caso Rubygate, por ter remunerado os serviços sexuais de uma menor de idade, a marroquina Karima El Mahrug, conhecida como Ruby, e por ter cometido abuso de poder ao obter a liberação da jovem após sua detenção por furto.

Em 2011, protagonizou o escândalo chamado “bunga bunga”, envolvendo festas com menores de idade em sua mansão. Dois anos depois foi condenado no caso Ruby a sete anos de cadeia e proibido de exercer qualquer cargo público.

Mas, em 2015, o Supremo Tribunal italiano concluiu que Berlusconi não tinha como saber que Ruby não tinha 18 anos e o inocentou. A sentença colocou Berlusconi de volta à vida política.

Seu partido tem aliança liderada pelo grupo de extrema-direita Fratelli d’Italia, que propaga o lema “Deus, Pátria e Família”.

A união elegeu Giorgia Meloni (ex-Ministra da Juventude de Berlusconi) como a primeira mulher a liderar o governo italiano.

Vendo suas indicações ao governo rejeitadas pela nova comandante, Berlusconi buscou em sua amizade com o presidente russo Vladimir Putin uma arma contra Meloni, defensora da Ucrânia na Otan. 

Berlusconi definiu Putin como “um homem da paz” a seus colegas de partido, deixando claro o seu desacordo com a premiê.

Berlusconi tem histórico de problemas de saúde

Em setembro de 2020 Silvio Berlusconi contraiu Covid e a partir de então foi internado várias vezes até meados de 2021 por diversos motivos, incluindo problemas cardíacos e sequelas da infecção.

Em janeiro de 2022, ensaiou concorrer à presidência da Itália, mas retirou a candidatura dois dias antes do pleito, que acabou reelegendo o presidente Sérgio Matarella.

O primeiro sinal da gravidade da doença de Berlusconi apareceu em abril, quando ele foi levado às pressas para o hospital com dificuldades para respirar e baixos níveis de oxigênio no sangue.

Segundo o jornal Corriere della Sera, o quadro era de estresse para os sistemas cardiovascular e respiratório. Ele passou 44 dias internado mas retornou na última sexta-feira. A morte de Silvio Berlusconi foi imediatamente noticiada por jornais e TVs de todo o mundo.