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ONU propõe código contra fake news e pede ‘revisão urgente’ no modelo de negócio das plataformas

Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, em declaração à imprensa

Secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, anuncia plano para criação de diretrizes para uma internet segura até 2024 (Foto: Captura de Tela/Reprodução/ONU/Youtube)

Diante de uma internet tomada pelo ódio e fake news, repleta de violações de direitos humanos e plataformas que lucram com isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou a proposta de um novo código de conduta pedindo por “uma mudança fundamental nas estruturas” dos espaços digitais.

O alerta veio do secretário-geral da instituição, António Guterres, que apresentou uma proposta para transformar este cenário, com direções para empresas de tecnologia, entidades governamentais, formuladores de políticas e demais partes envolvidas.

O representante alerta sobre o impacto da desinformação em diversas esferas, cuja cultura de ódio chega a impactar até mesmo as missões de paz dos boinas-azuis — tropas da entidade formadas por civis e militares.

Código da ONU quer uma internet que volte a ser ‘fonte de esperança’ 

Apresentado em uma entrevista coletiva, em Nova York, o documento faz parte da série “Nossa Agenda Comum”, e coloca a integridade da informação como assunto central da cooperação entre todas as partes envolvidas.

A organização disse querer trabalhar na criação de princípios para um “futuro digital aberto, livre e seguro para todos” até 2024.

O código de conduta proposto pela ONU reconhece que a internet e as redes sociais deram espaço para vozes excluídas e temas como justiça racial e equidade de gênero, bem como apoio a comunidades afetadas por crises, mas que hoje, estão sendo cooptadas para ódio e fake news.

O estudo indica que essas mesmas plataformas estão sendo usadas para subverter a ciência, espalhar desinformação e ódio, alimentar conflitos, ameaçar democracias e prejudicar ações de saúde pública e de defesa do meio ambiente.

Para o secretário-geral, hoje estes espaços virtuais — já ocupados por 5,3 bilhões de pessoas — são frequentemente vistos como “fonte de medo e não de esperança”. Por isso, lidar com a questão é inadiável:

“Plataformas digitais estão sendo usadas para subverter a ciência e espalhar desinformação e ódio para bilhões de pessoas. (…) A proliferação do ódio e das mentiras no espaço digital está causando sérios problemas globais.”

O tema é bandeira recorrente de diversos discursos de Guterres. Em debates anteriores, ele já chegou a afirmar que a comunicação eficiente — impactada pelos males das redes — é questão de vida ou morte, e “a diferença entre paz e guerra”.

ONU critica modelos de negócio de redes sociais

No anúncio do código de conduta, o secretário-geral da ONU destacou que o modelo de negócio atual das plataformas digitais precisa ser revisto urgentemente, uma vez que ele é peça chave no ecossistema de fake news e de discurso de ódio na internet.

O documento propõe que empresas de tecnologia abram mão de modelos de negócio que priorizam engajamento “acima de direitos humanos, segurança e privacidade”. Guterres defende: 

“Desinformação e ódio não devem gerar exposição máxima e lucros em massa.”

Para ele, estas empresas “fizeram pouco” e “agiram tarde demais” ao responder à estas questões ao redor do mundo, permitindo mais ou menos desinformação de acordo com a linguagem.

A proposta também sugere que os anunciantes — parte fundamental dos modelos de negócio digitais — sejam responsabilizados pelo impacto de seus investimentos.

Questionado sobre a aceitação das plataformas, Guterrez diz que o documento serve de salvaguarda para que regulamentações não se tornem obsoletas, uma vez que o código de conduta passará a orientar as ações de todos em questão.

O assunto ecoa preocupações recentes de outras instituições, como o Departamento de Saúde dos Estados Unidos e até mesmo o Vaticano — que chegaram a publicar manifestos e documentos pedindo por mudanças no mesmo sentido.

Código da ONU acende alertas sobre IAs e fake news 

O chefe da ONU também considera que parte da responsabilidade de todas as empresas é a garantia de que inteligências artificiais cumpram com “obrigações de direitos humanos” — evitando que sejam usadas, por exemplo, para fake news, segundo o código de conduta.

Guterrez ressaltou que os próprios cientistas e especialistas que trabalham no setor reconhecem a ameaça potencial para humanidade, e que “esses alertas devem ser levados a sério”.

O assunto tem se tornado preocupação de autoridades mundiais, uma vez que os próprios desenvolvedores destas ferramentas, como o CEO da OpenAI, temem que algoritmos generativos causem danos irreversíveis.

Questionado se concordava o pedido de “pausa” no setor capitaneado por uma carta aberta de empresários e cientistas, o chefe da ONU disse que pode ser uma “ideia interessante.”

O código de conduta apresenta questões que tocam no assunto, informando sobre a necessidade de um movimento conjunto para evitar consequências negativas.

Porém, Guterres acredita que isso não deve roubar as atenções de questões mais imediatas:

“O surgimento das IAs generativas não deve nos distrair dos danos que as plataformas digitais já estão causando em nosso mundo.”

Código da ONU defende imprensa livre

Por fim, um dos pontos principais do código de conduta da ONU é que, além da criação de uma internet mais segura e livre de fake news, os pactuantes também forneçam “fortes proteções para jornalistas”.

A proposta de Guterres reforça que governos e agentes responsáveis devem garantir a existência de uma imprensa “livre, plural e independente”, preservando a liberdade de expressão e informação. 

O relatório também condena governos autoritários que decidem por criar blecautes e banimentos da internet sem justificativa legal.

O código de conduta da ONU contra fake news e em prol de uma internet segura pode ser baixado na íntegra aqui.

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