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França denuncia clonagem de sites da mídia e governo por operação de fake news russa sobre a guerra

França denuncia operação fake news da Rússia na guerra

O governo da França denunciou uma campanha digital de manipulação de informações operando em diversos estados europeus destinada a disseminar fake news e desinformação sobre a guerra na Ucrânia e promover as narrativas da Rússia. 

A investigação do Serviço de Vigilância e Proteção Contra Interferência Digital Estrangeira (Viginum), órgão estatal, identificou um grupo que há um ano vinha utilizando técnicas de engenharia social e recursos tecnológicos para difamar líderes ucranianos como o presidente Volodymir Zelensky e espalhar falsidades sobre o apoio do Ocidente ao país invadido. 

A operação de influência conduzida por organizações e pessoas russas ou associadas à Rússia era baseada na clonagem de sites de jornais franceses e europeus para a publicação de notícias falsas, confundindo os leitores. Em uma segunda etapa, sites do próprio governo foram clonados. 

 

Rede usava sites falsos em propaganda pró-Rússia

A operação foi batizada de “RRN”, por ter como alvo um portal de mesma sigla, Reliable Recent News, apontado com peça central das ações. 

A campanha foi denominada Doppelganger (clone ou sósia, em tradução livre).

Foram registrados domínios com erros de grafia sutis, capazes de atrair internautas que não digitam corretamente o nome ao fazerem buscas e encontram um site visualmente igual ao original. 

Um exemplo foi o do Le Parisien, cujo site verdadeiro é leparisien.fr , enquanto o nome de domínio do site imitador era leparisien.ltd. 

Ao todo, 355 nomes de domínio que usurpam a identidade de veículos reais foram detectados pelo Viginiu, dos quais quatro assumindo a identidade gráfica dos jornais franceses 20 Minutes, Le Monde, Le Parisien e Le Figaro. 

Foram também clonados veículos de mídia alemães e britânicos como FAZ, Der Spiegel, Bild, Die Welt e The Guardian. 

Os hackers adicionaram links para alguns artigos reais dos sites oficiais da mídia – uma técnica chamada typosquatting. 

Eles publicaram 49 artigos falsos ligados à invasão da Ucrânia pela Rússia, segundo a investigação do Viginium. 

A campanha foi estruturada em quatro componentes, segundo o órgão: 

  • A disseminação de conteúdo deliberadamente pró-Russia sobre a guerra na Ucrânia, especialmente denegrindo seus líderes; 
  • A usurpação da identidade de sites de notícias e também de organizações governamentais europeias usando a técnica de typosquatting visando a reprodução do seu nome de domínio;
  • A criação de sites de notícias em idioma francês que  compartilham conteúdo controverso, instrumentalizando notícias nacionais francesas;
  • A implementação de meios não autênticos combinados, como sites falsos ou contas falsas em redes sociais, para transmitir conteúdo.

De acordo com a investigação, a campanha de influência tinha quatro temas principais, com o objetivo de dissociar a sociedade civil dos órgãos governantes:

  • Criar a sensação de que sanções contra a Rússia eram ineficientes e pesariam para os europeus;
  • A alegação de “russofobia” por parte do Ocidente;
  • A suposta barbárie das ações de tropas ucranianas, bem como a associação de ideologias neonazistas aos líderes ucranianos; 
  • Os impactos negativos de abrigar refugiados ucranianos.

O relatório do Viginum apontou ainda o envolvimento de integrantes do Estado russo, incluindo a rede diplomática, “que participou da retransmissão e amplificação da campanha RRN desde a primavera de 2022”, diz o documento. 

Site do governo foi clonado

De acordo com a operação, as ações da campanha de influência se tornaram ainda mais graves em maio de 2023, quando a identidade do próprio site do Ministério da Europa e de Assuntos Internacionais foi usurpada para disseminação de fake news em prol da Rússia.

O jornal Le Monde reproduziu uma página falsa (já derrubada) com a aparência do site anunciando um imposto de segurança para financiar ajuda à Ucrânia, que nunca existiu. 

Em coletiva à imprensa, a ministra de Assuntos Exteriores da França, Catherine Colonna, declarou que autoridades francesas estavam trabalhando para impedir esta “guerra híbrida” no campo digital:

“A França condena estas ações, que são indignas de um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.”

Em alguns países, como no Reino Unido, embaixadas da França divulgaram notas oficiais sobre o caso:

“O envolvimento de centros culturais e embaixadas russas que participaram ativamente em espalhar esta campanha, incluindo através de suas contas institucionais nas redes sociais, é mais uma prova da estratégia híbrida que a Rússia está implementando para sabotar as condições para um debate democrático pacífico, danificando assim nossas instituições democráticas.”

Em resposta, a RRN publicou uma nota em seu site alegando ser uma mídia independente, formada por russos e ucranianos, sem receber fundos ou parte de agendas estatais, o que os torna “livres para reagir a qualquer notícia como quiserem”.

Redes de fake news prejudicam operação da imprensa no mundo

A rede de fake news revelada pela operação da Viginium é mais um entre diversas campanhas de desinformação utilizadas pela Rússia desde a guerra. 

Em fevereiro deste ano, o TikTok anunciou a remoção de duas redes pró-Rússia com mais de 1,7 mil contas associadas em operações organizadas de propaganda.

A identificação do conteúdo rotulado como propaganda russa foi feita com a participação de moderadores que falam russo e ucraniano, para capturar as nuances locais. Segundo o TikTok, as duas redes foram identificadas pela própria plataforma. 

No mesmo mês, o projeto Forbidden Stories publicou uma reportagem que revelava relações entre o jornalista e apresentador Rachid M’Barki, uma das estrelas da TV francesa, e uma rede de reportagens encomendadas pelo esquema de desinformação “Team Jorge”, comandado a partir de Israel.

M’Barki, que apresentava o Le Journal de la Nuit (Jornal da Noite) na BFM TV, uma das emissoras mais populares da França, foi suspenso.

De acordo com o Global Press Freedom Index 2023, índice da Repórteres Sem Fronteiras que mede a liberdade de imprensa do mundo, a desinformação que tem proliferado no ambiente da mídia social foi apontada como um dos fatores mais impactantes sobre a liberdade de imprensa no mundo.

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