Londres – A organização Center for Countering Digital Hate (CCDH), com escritórios no Reino Unido e nos EUA, virou alvo de um processo movido pela empresa X (o antigo Twitter), em reação a relatórios apontando aumento do discurso de ódio desde a aquisição da plataforma por Elon Musk, em outubro passado.
O fundador do CCDH, Imran Ahmed, é uma voz respeitada nos debates sobre proliferação de fake news e conteúdo nocivo nas principais redes sociais, citado por jornais internacionais e convidado a falar em grandes eventos e parlamentos.
A pesquisa mais recente, que disparou a ira de Musk, constatou que o então Twitter não agiu em 99% dos posts com discurso de ódio em contas que compraram o selo de autenticidade, permitindo a circulação de conteúdo racista, misógino, homofóbico, neonazista, antissemita e conspiracionista mesmo depois de sinalizados e com a chancela de confiáveis.
O processo contra o CCDH foi aberto pelo X, ex-Twitter, em um tribunal federal na Califórnia na segunda-feira (2) e tornado público no dia seguinte.
Em um post no blog, a empresa acusou o CCDH de fazer “afirmações enganosas” em uma tentativa de encorajar os anunciantes a pararem de investir e de “impedir o diálogo público”.
A ONG é também acusada de violar os termos de serviço ao acessar indevidamente os dados do site e “alegar falsamente que tinha suporte estatístico mostrando que a plataforma está sobrecarregada com conteúdo prejudicial”.
O X alega ainda que o CCDH é financiado por governos estrangeiros e por empresas de mídia tradicional que o veem como concorrente.
Os relatórios da ONG teriam levado à perda de dezenas de milhões de dólares em receita publicitária pelo Twitter, agora X, segundo o processo.
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“É por isso que X entrou com um processo contra o CCDH e seus patrocinadores”, disse a empresa no blog, sustentando que mudanças nas políticas de moderação tiveram como objetivo proteger a livre expressão e que a maioria das postagens “é saudável”.
Diversos teóricos da conspiração e personalidades banidas anteriormente por apologia à violência e até a teses nazistas foram readmitidas por Elon Musk, como Donald Trump e o rapper Kanye West , enquanto as atividades de moderação foram desmobilizadas.
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Musk e Ahmed falam sobre processo no Twitter / X
Antes do processo, a empresa de Elon Musk mandou uma carta considerada por Imran Ahmed como uma ameaça para tentar silenciar o grupo de pressão.
Depois que a notícia do processo foi divulgada, começou uma troca de farpas. Imran Ahmed disse:
“Os atos de Elon Musk representam uma tentativa descarada de silenciar críticas honestas e pesquisas independentes, na esperança desesperada de que ele possa conter a maré de reportagens negativas e reconstruir seu relacionamento com os anunciantes”.
Ahmed afirmou ainda que “Musk está tentando ‘atirar no mensageiro’ que destaca o conteúdo tóxico em sua plataforma, em vez de lidar com o ambiente tóxico que ele criou.”
E acrescentou: “A verdade é que ele está procurando um motivo para nos culpar por suas próprias falhas como CEO.”
Musk se demonstrou engajado pessoalmente na briga. Ele respondeu ao CCDH:
“Eles deveriam guardar suas palavras para o júri.”
Um porta-voz do grupo disse que o CCDH não recebe financiamento de nenhuma entidade governamental ou empresa de tecnologia que possa ser considerada concorrente do X.
A nova briga do ex-Twitter acontece no momento em que a empresa vive uma turbulência devido à mudança de seu nome e marca para X.
A novidade despertou revolta dos usuários e segue marcada por confusões, como a remoção do novo letreiro da sede instalado sem autorização da prefeitura de São Francisco.
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