Londres – A ABC, rede pública de mídia da Austrália, anunciou nesta quarta-feira (9) a decisão de fechar a maioria de suas contas no Twitter / X, em resposta ao que o diretor-geral, David Anderson, classificou como “interações tóxicas”. 

Elon Musk nega que a proliferação de discurso de ódio e conteúdo nocivo tenha aumentado desde que ele comprou a rede social por US$ 44 bilhões, em outubro do ano passado, mas diversos relatórios apontam o contrário. 

Segundo Anderson, a experiência de fechar as contas dos programas Insiders, News Breakfast e ABC Politics, no início deste ano, reduziu a exposição dos profissionais a conteúdo agressivo, o que motivou a decisão de remover outros programas do Twitter / X.  

Rede teve rusga com Twitter 

Apesar de todo o barulho em torno do fechamento, nem todas as contas serão encerradas, o que gerou comentários de usuários do Twitter sobre a real extensão do afastamento e de seu caráter político.

A ABC disse que manterá as contas ABC News, ABC Sports e ABC Chinese, que estão entre as principais. Várias das contas fechadas são corporativas, como ABC Communications e ABC Careers, ou de programas. 

O relacionamento entre o Twitter e a ABC não é dos melhores. Em abril, a rede teve uma rusga com a rede social, que adicionou às suas contas um rótulo de “mídia financiada pelo Estado”.

Antes de Musk, a classificação era usada para redes de países como China e Rússia, com conteúdo inteiramente controlada pelos governos, situação diferente da de emissoras como a ABC e outras cadeias de serviço público, como a BBC. 

A ABC (Australian Brodcasting Company) opera canais de rádio, TV e sites de notícias com financiamento do governo, além de contar com um braço de produções comerciais. 

Assim como a BBC britânica, ela tem grande influência na opinião pública e nos meios políticos e segue um código de conduta que prevê a independência editorial, sendo respeitada pelo seu jornalismo. 

Interação tóxica aumentou na era Musk 

Mesmo que a motivação da ABC para sair parcialmente do Twitter tenha envolvido outras questões além da preservação dos funcionários, o ato voltou a deixar em evidência a disseminação de conteúdo nocivo na rede de Elon Musk.

O executivo da empresa de mídia australiana criticou as interações tóxicas no Twitter / X na era Musk, em que a moderação foi relaxada.

“Descobrimos que o fechamento de contas individuais dos programas ajudou a limitar a exposição dos membros da equipe às interações às vezes tóxicas que, infelizmente, estão se tornando mais prevalentes. Preocupantemente, o X reduziu suas equipes de confiança e segurança.”

O comunicado também esnobou o valor do Twitter / X, dizendo que a grande maioria da audiência de mídia social da ABC utiliza outras plataformas e que concentrará esforços e recursos onde seu público está.

Anderson disse que a maior parte do público de mídia social da ABC utiliza YouTube, Facebook, Instagram e TikTok.

O diretor de notícias Justin Stevens acrescentou no comunicado que a ABC está atualmente testando a nova plataforma da Meta, Threads, e considerará aumentar sua presença lá.

Encargos adicionais introduzidos pelo X também tornaram a plataforma “cada vez mais cara de usar”, disse Anderson. O Twitter passou a cobrar pelo selo de verificação e por outros serviços a usuários corporativos.

As contas fechadas serão arquivadas e posts fixados avisarão os usuários sobre onde continuar seguindo os programas da ABC.

Percepção de conteúdo tóxico no Twitter

O movimento da ABC australiana, duas semanas após a troca do nome da rede social para X,  agrava a percepção de conteúdo nocivo no Twitter, que segundo Elon Musk tem sido responsável por afastar anunciantes da rede social e deixar as contas no vermelho.

Na semana passada, ele resolveu contra-atacar os que apontam o aumento de postagens tóxicas e agressivas.

O Twitter / X está processando nos EUA a organização não-governamental Center for Countering Digital Hate por um relatório documentando a proliferação do discurso de ódio até em contas verificadas.