Londres – Completando três anos de prisão na China neste domingo (13), a jornalista Cheng Lei conseguiu transmitir por meio de diplomatas australianos que a visitaram uma carta comovente sobre o período em que está encarcerada.
Lei tem dupla nacionalidade, pois seus pais emigraram para a Austrália a ela passou a infância no país. Apresentadora de uma emissora estatal chinesa, a jornalista foi presa em 13 de agosto de 2020, sob acusação de espionagem e julgada a portas fechadas em março de 2022.
“Na minha cela, a luz do sol entra pela janela, mas só consigo ficar em pé 10 horas por ano”, escreveu Cheng. “Não vejo uma árvore há 3 anos.”
Companheiro divulgou carta da jornalista presa na China
A carta foi divulgada pelo companheiro de Cheng, Nick Coyle, nesta sexta-feira (11). Ela tem dois filhos, que estavam visitando a Austrália no momento de sua detenção e agora vivem no país com parentes.
Na mensagem, a jornalista presa na China descreveu a saudade da vida no país onde foi criada e a tristeza pela separação dos filhos.
“Revivo cada caminhada pela mata, rio, lago, praia com mergulhos e piqueniques e pores do sol psicodélicos, céu iluminado por estrelas e a silenciosa e secreta sinfonia do mato. Acima de tudo, sinto falta dos meus filhos.”
Segundo Coyle, Cheng Lei tem recebido visitas consulares mensalmente, mas até hoje a justiça chinesa não proferiu um veredito final em seu caso e seus supostos crimes não foram tornados públicos.
O embaixador da Austrália em Pequim, Graham Fletcher, não foi autorizado a acompanhar o julgamento.
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Tensão entre China e Austrália
A jornalista foi presa em um momento de tensão diplomática entre a China e a Austrália, que pedia na época um inquérito independente sobre as origens da covid-19 e intensificava pressões contra uma suposta interferência estrangeira no país.
Semanas antes de Cheng Lei ser presa, autoridades australianas invadiram as casas de trabalhadores da mídia estatal chinesa com sede na Austrália como parte de uma investigação de interferência. Na sequência, a China bloqueou as exportações da Austrália e congelou as relações
O crime atribuído à jornalista tem pena prevista de cinco a dez anos, mas a sentença pode ser estendida até à prisão perpétua se o tribunal considerar a acusação grave.
Além de jornalista, a jornalista tinha atuação destacada em eventos promovidos pela embaixada australiana na China– mais um fator a associá-la à tensão entre os dois países.
Austrália manifestou-se em favor da jornalista
A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong, disse em um comunicado divulgado na sexta-feira que a Austrália continuará apoiando Cheng e sua família e defendendo seus interesses e bem-estar.
“A Austrália […] pede que os padrões básicos de justiça, justiça processual e tratamento humano sejam cumpridos para a Sra. Cheng, de acordo com as normas internacionais”, disse Wong.
A Austrália tem condicionado a melhoria das relações com a China à libertação da jornalista Cheng Lei e outros cidadãos australianos preso no pais.
Um deles é o escritor australiano chinês Yang Heng-jun, capturado no aeroporto de Guangzhou em janeiro de 2019 sob acusação de espionagem. O veredito sobre seu caso vem sendo adiado por mais de quatro anos.
Em entrevista à VOA (Voice of America), Feng Chongyi, professor de estudos sobre a China na Universidade de Tecnologia de Sydney disse que “Yang e Cheng são mantidos como reféns pelo governo chinês, e esses casos mostram que Pequim perseguirá cidadãos chineses ou estrangeiros se houver uma necessidade política de fazê-lo”.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese também pediu às autoridades chinesas que resolvam o caso da jornalista Cheng Lei, e que não condicionará uma solução aos planos de uma visita oficial a Pequim este ano.
De acordo com o levantamento World Press Freedom Index, da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a China é o maior carcereiro de jornalistas do planeta “e seu regime conduz uma campanha de repressão contra o jornalismo e o direito à informação em todo o mundo”.
Quando o ranking foi divulgado, em abril, o país tinha 101 profissionais de imprensa atrás das grades.
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