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Polícia alemã investiga suspeita de envenenamento de jornalistas russas no exílio

Londres – Duas jornalistas de oposição ao regime de Vladimir Putin que deixaram a Rússia para escapar das perseguições à mídia que se agravaram depois da guerra com a Ucrânia podem ter sido vítimas de envenenamento no exílio.

Elena Kostyuchenko e Irina Babloyan começaram a apresentar problemas de saúde sem explicações aparentes ​​em outubro de 2022, a primeira na Alemanha e a segunda na Geórgia. Ambas experimentaram fraqueza e inchaço severos, assim como outros sintomas compatíveis com envenenamento, segundo o site investigativo The Insider. 

As investigações haviam sido encerradas na Alemanha (onde Babloyan passou a viver), mas a polícia de Berlim confirmou ao Insider que reabriu o caso para examinar “considerações adicionais”  sobre as circunstâncias do suposto envenenamento. 

Quem são as jornalistas da Rússia

Embora exames feitos em um hospital alemão não tenham sido conclusivos, o site investigativo The Insider afirma que elas teriam sido envenenadas, como já aconteceu com outros opositores do regime de Vladimir Putin, incluindo o líder político Alexey Navalny. 

As jornalistas supostamente são conhecidas por reportagens críticas sobre a política da Rússia e a invasão do país à Ucrânia.

Kostyuchenko trabalhou por 20 anos para o  jornal russo Novaya Gazeta, fundado por Dmitry Muratov, detentor do prêmio Nobel da Paz de 2021. Desde setembro do ano passado ela escreve para o site independente Meduza.

O Novaya Gazeta perdeu o registro para funcionar na Rússia, e passou a operar do exílio, assim como  o Meduza, baseado na Lituânia. 

Irina Babloyan era jornalista da emissora Ekho Moskvy, que também fechou. Ela trabalha agora para o  Zhivoy Gvozd, um canal lançado por ex-funcionários da rede. 

Jornalistas da Rússia apresentaram sintomas de envenenamento na mesma época

Irina Babloyan disse que começou a se sentir mal em 25 de outubro de 2022, em Tbilisi, Geórgia, para onde havia se mudado semanas antes.

Seus sintomas incluíam fraqueza severa, tontura, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e nas solas dos pés, semelhantes aos de Kostychenko.

Elena Kostyuchenko relatou em artigo no site Meduza e em entrevista ao blogueiro russo Yury Dud publicada que começou a se sentir mal em 18 de outubro de 2022, após uma viagem a Munique, onde solicitou um visto ucraniano para cobrir a  guerra para o site Meduza.

Os primeiros sintomas foram  fortes dores de cabeça, fraqueza, falta de ar e náusea. Mais tarde, ela apresentou inchaço no rosto, dedos das mãos e pés, e as palmas das mãos e as solas dos pés ficaram vermelhas.

Exames médicos realizados 10 dias após seus primeiros sintomas mostrarem quantidades anormais de enzimas hepáticas e sangue em sua urina, informou o The Insider.

Testes para envenenamento em hospital de Berlim

Segundo o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), as duas profissionais da Rússia  fizeram testes para verificar a possibilidade de envenenamento no hospital Charité de Berlim.

Os exames de sangue feitos em Kostyuchenko no final de 2022 foram inconclusivos, de acordo com o The Insider. As amostras de sangue de Babloyan foram perdidas e ela nunca recebeu os resultados dos testes, informou o The Insider.

Especialistas entrevistados pelo The Insider disseram que os sintomas de Kostyuchenko “não podem ser explicados por outra coisa” senão envenenamento, e que os sintomas de Babloyan eram “mais prováveis” causados ​​por envenenamento do que por qualquer doença.

Em março de 2022, antes de uma viagem profissional  à cidade ucraniana de Mariupol, Kostyuchenko foi avisada por um colega não identificado de que unidades chechenas da Guarda Federal Russa haviam sido instruídas a matá-la, de acordo com o The Insider e seu relato ao site Meduza.

Uma das fontes de Kostyuchenko na inteligência militar ucraniana disse a ela no mesmo dia que agressores não identificados estavam “preparados” para matar um jornalista do Novaya Gazeta.

Desde que o Novaya Gazeta foi fundada em 1993, pelo menos seis de seus jornalistas e colaboradores foram assassinados em conexão com seu trabalho, disse o Comitê de Proteção a Jornalistas. 

Profissionais da Rússia falaram à polícia alemã sobre envenenamento

Elena Kostyuchenko relatou seus sintomas às autoridades alemãs e os policiais a interrogaram por cerca de oito horas no início de 2023.

A polícia encerrou a investigação em 2 de maio, alegando falta de provas, mas as autoridades disseram que reabriram o caso para analisar as informações em torno do caso, informou o Meduza .

Babloyan disse que a polícia alemã a interrogou por cinco horas em julho, e que ela confirmou aos agentes a possibilidade de envenenamento devido ao seu trabalho como jornalista.

Babloyan recentemente reenviou amostras de sangue para análises adicionais, de acordo com o The Insider.

“Informações de que as jornalistas da Rússia Elena Kostyuchenko e Irina Babloyan podem ter sido vítimas de envenenamento na Alemanha e na Geórgia são extremamente alarmantes e devem ser investigadas imediatamente”, disse Carlos Martinez de la Serna, diretor do Comitê de Proteção a Jornalistas.

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