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Jornalista Nobel da Paz deixa direção do jornal para brigar na justiça contra rótulo de ‘agente estrangeiro’

ornalista russo Dmitry Muratov declarado agente estrangeiro pelo governo da Rússia

Dmitry Muratov (Foto Wikipedia Commons)

Londres – O jornalista russo ganhador do Prêmio Nobel da Paz Dmitry Muratov deixará temporariamente seu cargo de editor-chefe do Novaya Gazeta para se dedicar à tentativa de reverter nos tribunais o rótulo de “agente estrangeiro”, recebido do Ministério da Justiça da Rússia na última sexta-feira.

A informação foi anunciada no site do Novaya Gazeta Europa, criado depois que a versão russa do jornal, que tinha mais de 30 anos de existência e uma história de críticas pesadas ao regime de Vladimir Putin, foi obrigada a fechar e perdeu a licença de operação.

“Muratov está em forte desacordo com a decisão do Ministério da Justiça e entrará com uma ação judicial”, disse em nota o Novaya Gazeta, anunciando que o atual editor-chefe adjunto, Sergey Sokolov, se tornaria editor-chefe interino.

Restrições financeiras e profissionais a russos ‘agentes estrangeiros’

 O termo “agente estrangeiro” pode ser aplicado a qualquer pessoa que o governo russo decida estar sujeita a “influência estrangeira”. Os agentes estrangeiros têm diversas restrições financeiras e profissionais impostas às suas atividades.

Eles são obrigados sinalizar essa condição em qualquer conteúdo que publicarem, até mesmo postagens nas redes sociais. Também precisam apresentar ao governo declarações financeiras e relatórios sobre suas atividades a cada seis meses e passar por auditorias anuais.

O Ministério da Justiça justificou a sua decisão dizendo que Muratov tinha “utilizado meios de comunicação estrangeiros para promover opiniões que visam formar uma atitude negativa em relação à política interna e externa da Rússia”.

Reagindo à notícia de que Muratov tinha sido nomeado “agente estrangeiro”, o presidente da Fundação Nobel, Berit Reiss-Andersen, disse: “triste que as autoridades russas estejam tentando silenciá-lo. As acusações contra ele têm motivação política”.

No dia seguinte à inclusão de Muratov e outros seis russos, incluindo dois jornalistas, na lista de agentes estrangeiros, a Fundação Nobel “desconvidou” representantes russos, iranianos e bielorrussos para participar da cerimônia de entrega do prêmio deste ano. 

Em 2022 eles não haviam sido convidados. Este ano os convites foram emitidos, mas estão sendo retirados. 

Perseguições ao jornal independente russo 

Fundado em 1993 com ajuda do ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbachov, o Novaya Gazeta parou de atualizar o seu site e de imprimir novas edições em março do ano passado devido à censura que a Rússia intensificou após o início da invasão da Ucrânia.

Grande parte da equipe da Novaya Gazeta posteriormente deixou a Rússia e estabeleceu a Novaya Gazeta Europe na Letônia, com apoio de um fundo europeu para jornalismo no exílio.

O restante da equipe do jornal na Rússia começou a atualizar o site do Novaya Gazeta logo depois, o que levou o órgão de fiscalização da mídia do país, Roskomnadzor, a rescindir a licença de mídia e bloquear o acesso ao seu site na Rússia.

Muratov não deixou a Rússia. Em fevereiro de 2023,  o jornal perdeu a licença de operação após um processo apoiado em alegações de falhas burocráticas. 

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